tag:blogger.com,1999:blog-21421553263418827232024-03-21T05:48:31.947-07:00Literatura RussaBrasileiro lê muito Dostoiévski? Onde?César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.comBlogger84125tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-35325590858292387402014-02-05T10:56:00.000-08:002014-02-05T13:13:00.316-08:00"O Dostoiévski de Joseph Frank", de David Foster Wallace<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: inherit;">O Dostoiévski de Joseph Frank¹</span></b><br />
<b><br /></b>
<b>David Foster Wallace</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><b>Tradução:</b>
Guilherme Bandeira</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Dê uma
olhada prolegômena em duas citações. A primeira é do Edward Dahlberg, um
carrancudo do nível-Dostoiévski, se algum dia em inglês houve algum:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">“Os
cidadãos se protegem contra os gênios pela adoração icônica. Pelo toque da vara
de condão, perturbadores divinos são traduzidos com bordados suínos.<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[2]</span><!--[endif]--></span></span></blockquote>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">A
segunda é do <i>Pais e Filhos</i> de Turguêniev:</span></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">- </span><span style="font-family: inherit;">Nesta
época, negação é o mais útil de tudo – e nós negamos –</span><br /><span style="font-family: inherit;">- </span><span style="font-family: inherit;">Tudo?</span><br /><span style="font-family: inherit;">- </span><span style="font-family: inherit;">Tudo!</span><br /><span style="font-family: inherit;">- </span><span style="font-family: inherit;">O que,
não só em arte e poesia... mas também... horrível dizer...</span><br /><span style="font-family: inherit;">- </span><span style="font-family: inherit;">Tudo.
Repetido por Bazarov, com uma indescritível compostura.</span></div>
<span style="font-family: inherit;">
<o:p></o:p></span>
<br />
<span style="font-family: inherit;">
<o:p></o:p></span>
<br />
<span style="font-family: inherit;">
<o:p></o:p></span>
</blockquote>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Retrospectivamente, em 1957 um
Joseph Frank, então com trinta e oito anos, professor de Literatura Comparativa
em Princeton, está preparando aulas sobre existencialismo, e começa seu
trabalho pelo <i>Memórias do Subsolo</i> de
Fiódor Mikhailovich Dostoiévski. Como todo mundo que leu pode confirmar, <i>Memórias </i>(1864) é um pequeno romance
poderoso mas extremamente estranho, e ambas as qualidades têm a ver com o fato
de que este livro é ao mesmo tempo universal e particular. A “doença” auto-diagnosticada
do protagonista – uma mistura de grandiosidade e auto-desprezo, raiva e
covardia, fervor ideológico e inabilidade auto-consciente de agir de acordo com
suas convicções: seu caráter paradoxal e auto-negativo – faz dele uma figura
universal em quem podemos ver partes de nós mesmos, o mesmo tipo de tipo de
arquétipo eterno como Ajax ou Hamlet. Mas ao mesmo tempo, <i>Memórias do Subsolo</i> e seu <i>Homem
do Subsolo</i> são de fato impossíveis de entender sem algum conhecimento do
clima intelectual da Rússia nos anos de 1860, particularmente o <i>frisson</i> do socialismo utópico e estética
utilitarista então em voga entre a <i>intelligentsia</i>
radical, uma ideologia que Dostoiévski repugnava com um tipo de paixão com que
só Dostoiévski conseguia repugnar.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> De qualquer forma, Professor Frank,
enquanto passeava por este pano de fundo contextual particular para dar aos seus
alunos uma leitura abrangente de <i>Memórias</i>,
começou a se interessar por usar a ficção de Dostoiévski como uma espécie de
ponte entre duas formas distintas de interpretar literatura, um viés puramente
estético formal vs. uma crítica sócio-barra-ideológica que só se preocupa com
as suposições temáticas e filosóficas por trás delas<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[3]</span><!--[endif]--></span>. Esse interesse, mais
quarenta anos de trabalho intelectual, rendeu os primeiros quatro volumes da
pesquisa projetada em cinco volumes da vida e época e escritos de Dostoiévski.
Todos os volumes foram publicados pela <i>Princeton
U. Press</i>. Todos os quatro são intitulados Dostoiévski e têm subtítulos: <i>As Sementes da Revolta, 1821-1849 </i>(1976);
<i>Os Anos de Provação, 1850-1859 </i>(1984);
<i>Os Efeitos da Liberação, 1860-1865 </i>(1986);
e esse ano, em uma capa dura extremamente cara, <i>Os Anos Milagrosos, 1865-1871</i>. Professor Frank deve estar lá com
seus setenta e cinco<i> </i>anos, e a julgar
pela sua foto na contra capa de <i>Os Anos
Milagrosos</i> ele não está exatamente vigoroso<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[4]</span><!--[endif]--></span>, e provavelmente todos os
estudiosos sérios de Dostoiévski estão esperando ansiosamente para ver se Frank
agüenta tempo suficiente para trazer seu estudo enciclopédico até o começo dos
anos 1880, quando Dostoiévski acabou o quarto de seus Grandes Romances<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[5]</span><!--[endif]--></span>, proferiu seu famoso
Discurso sobre Púchkin, e morreu. Mesmo que o quinto volume de <i>Dostoiévski</i> não seja escrito, porém, a
publicação agora do quarto garante o status de Frank como o biógrafo definitivo
de um dos melhores escritores de ficção que já existiu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">** Sou
uma pessoa boa? Lá no fundo, eu quero mesmo ser uma pessoa boa, ou eu somente
quero <i>parecer</i> uma pessoa boa para que
as pessoas (incluindo eu mesmo) me aprovem? Há diferença? Como eu vou saber de
fato se estou me trapaceando, moralmente falando?**<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> De certa forma, os livros de Frank
não são nenhum pouco biografias literárias, pelo menos da mesma forma que o livro
do Ellmann sobre Joyce e o de Bate sobre Keats são. Por um lado, Frank é tanto
um historiador cultural quanto ele é um biógrafo – seu objetivo é criar um
contexto exaustivo e preciso para os trabalhos de FMD, para colocar a vida e a
escrita do autor dentro do relato da vida intelectual da Rússia do século
dezenove. O <i>James Joyce </i>de Elmann,
praticamente o modelo pelo qual quase todas as biografias literárias são
medidas, não vai nem perto dos detalhes do Frank sobre ideologia, política ou
teoria social. O que Frank pretende é
mostrar que uma leitura abrangente da ficção de Dostoiévski é impossível sem
uma compreensão detalhada das circunstâncias culturais nas quais seus livros
foram concebidos e para qual eles se dispõe a contribuir. Isso, Frank
argumenta, é porque os trabalhos maduros de Dostoiévski são fundamentalmente
ideológicos e não podem ser verdadeiramente apreciados a não ser que se entenda
os objetivos que os informam. Em outras palavras, a mistura de universal e
particular que caracteriza <i>Memórias do
Subsolo</i> marca de fato todos dos melhores trabalhos de FMD, um escritor cujo
“desejo evidente”, Frank diz, é “dramatizar seus temas morais-espirituais
contra o pano de fundo histórico da Rússia”.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Outra característica fora do padrão
da biografia do Frank é a quantidade de atenção crítica que ele devota aos
livros que Dostoiévski efetivamente escreveu. “É a produção dessas obras de
arte que faz, no fim, valer a pena recontar a vida de Dostoiévski”, seu
prefácio ao <i>Os Anos Milagrosos</i>, “e
meu propósito, como nos primeiros volumes, é mantê-las em primeiro plano ao
invés de tratá-las como um acessório da vida <i>per se</i>”. Ao menos um terço do último volume é dedicado a uma
leitura detida das coisas que Dostoiévski produziu na sua incrível meia década
– <i>Crime e Castigo, O Jogador, O Idiota, O
Eterno Marido </i>e <i>Demônios</i><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[6]</span><!--[endif]--></span><i>.
</i>O objetivo dessas leituras é explicativo ao invés de argumentativo ou
orientado teoricamente; seus objetivos são voltados para explicar tão claro
quanto possível o que o próprio Dostoiévski quis que seus livros significassem.
Mesmo que este viés assuma que não haja algo como a Falácia Intencional<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[7]</span><!--[endif]--></span>, isso parece <i>prima facie</i> justificado pelo projeto
global de Frank, que é sempre traçar e explicar a gênese do romance pelo
engajamento ideológico do próprio Dostoiévski com a história e cultura da
Rússia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">** O que
exatamente “fé” significa? Como em “fé religiosa”, “fé em Deus”, etc. Não é
basicamente louco acreditar em algo para qual não haja provas? Há realmente
alguma diferença entre o que nós chamamos de fé e algumas tribos primitivas
sacrificando virgens em vulcões porque eles acreditavam que isso produziria um
tempo bom? Como alguém tem fé antes de ser apresentado à razão suficiente para
ter fé? Ou é de alguma forma precisar ter fé uma razão suficiente para ter fé?
Mas então qual é o tipo de necessidade de que nós estamos falando?**<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Para realmente avaliar a façanha do
Professor Frank – e não só a façanha de ter absorvido e digerido as milhões de
páginas restantes dos manuscritos de Dostoiévski e notas e cartas e jornais e
biografias de contemporâneos e estudos críticos em centenas de outras línguas –
é importante entender quantas abordagens diferentes à biografia e críticas ele
está tentando casar. Outros estudos – especialmente aqueles com objetivos
teóricos – focam quase exclusivamente no contexto, tratando o autor e seus
livros simplesmente como funções de preconceitos, dinâmica de poder, e
desilusões metafísicas de sua era. Algumas biografias procedem como se os
sujeitos de seus próprios trabalhos já tenham sido descobertos, e então eles
gastam todo o seu tempo traçando a relação de uma vida pessoal com os
significados literários que o biógrafo presume que são fixos e incontestáveis.
Por outro lado, muitos em nossa era de “<i>estudos
críticos</i>” tratam o autor dos livros hermeticamente, ignorando fatos sobre as
circunstâncias do autor e crenças que ajudam a explicar, não só sobre o que é
seu trabalho, como também por que possui uma magia particular de uma
personalidade mágica individual, estilo, voz, visão, etc.<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[8]</span><!--[endif]--></span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit;">*
* *<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">** É o
verdadeiro objetivo da minha vida passar por menos sofrimento e maior prazer
quanto possível? Meu comportamento certamente parece indicar que isso é o que
eu acredito, ao menos grande parte do tempo. Mas esse não é uma forma de viver
egoísta? Esqueça egoísta – não é terrivelmente solitária? **<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Então, biograficamente falando, o
que Frank está tentando fazer é ambicioso e proveitoso. Ao mesmo tempo, seus
quatro volumes constituem um trabalho muito detalhado e muito demandante de um
autor muito complexo e difícil, um escritor de ficção cujo tempo e cultura são
alheios a nós. Parece difícil esperar muita credibilidade em recomendar o
estudo de Frank aqui a não ser que eu dê algum tipo de argumento de por que os
romances de Dostoiévski deveriam ser importantes para nós leitores na América
de 1996. Isso eu posso fazer só grosseiramente, porque eu não sou um crítico
literário nem um <i>expert</i> em Dostoiévski.
Eu sou, porém, um vivente Americano que tanto tenta escrever ficção quanto
gosta de lê-la, e graças a Joseph Frank eu gastei os últimos dois meses imerso
na Dostoiévskinalia.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Dostoiévski é um titã literário, e
de alguma forma isso pode ser o beijo da morte, porque fica fácil considerá-lo
como qualquer outro autor canônico decomposto, amavelmente morto. Seus
trabalhos, e a grande montanha crítica que ele inspirou, são sempre aquisições
requeridas para as bibliotecas... e lá normalmente os livros permanecem,
amarelando, cheirando como livros verdadeiramente velhos cheiram, esperando
para que alguém tenha que fazer um trabalho de conclusão de curso. Dahlberg
está bem certo, creio eu. Fazer de alguém um ícone é transformá-lo em uma
abstração, e abstrações são incapazes de uma comunicação vital com as pessoas
vivas<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[9]</span><!--[endif]--></span>.<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit;">* * *<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">** Mas e
se eu decidir que há um objetivo diferente, menos egoísta, menos solitário para
minha vida, não será a razão para esta decisão meu desejo de ser menos
solitário, significando sofrer menos dor em geral? Pode essa decisão de ser
menos egoísta ser algo além de uma decisão egoísta?**<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> E é verdade que há traços nos livros
de Dostoiévski que são alheios e desconcertantes. Russo é notoriamente difícil
de ser traduzido para o inglês, e quando você adiciona a essa dificuldade os
arcaísmos da linguagem literária do século dezenove, a prosa/diálogo de Dostoiévski
pode ficar com maneirismos e pleonástica e boba<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[10]</span><!--[endif]--></span>. Mais, há a empolação da
cultura na qual os personagens de Dostoiévski habitam. Quando as pessoas estão
incomodadas, por exemplo, elas fazem coisas como “balançar seus punhos” ou
chamam umas às outras de “canalhas” ou “voam para cima” das outras. Falantes
usam pontos de exclamação em quantidades vistas hoje somente em tiras de humor.
A etiqueta social hoje nos parece rígida ao ponto do absurdo – pessoas estão
sempre “pedindo explicações” entre elas ou mesmo “sendo recebidas” ou “não
sendo recebidas” e obedecendo a convenções de boas maneiras barrocas mesmo
quando elas estão furiosas<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[11]</span><!--[endif]--></span>. Todo mundo tem um
sobrenome longo e difícil-de-pronunciar e um nome Cristão – mais patronímico,
mais algumas vezes um diminutivo, então
você quase precisa manter uma tabela de nomes dos personagens. Categorias militares obscuras e hierarquias
burocráticas abundam; além disso, há uma rígida e totalmente bizarra distinção
de classe que é difícil fixar e entender suas implicações, especialmente porque
a realidade econômica da sociedade russa antiga é tão estranha (como em, por
exemplo, mesmo um “antigo estudante” indigente como Raskólnikov ou um burocrata
desempregado como o Homem do Subsolo podem de alguma forma bancar seus servos).<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> O ponto é que não é só a coisa da
morte-por-canonização: há as coisas reais e alheias que ficam no caminho de
nossa apreciação de Dostoiévski e precisam ser trabalhadas – até mesmo
aprendendo o suficiente sobre todas as coisas estranhas até que isso pare de
soar tão confuso, ou também por aceitá-la (da mesma forma que nós aceitamentos
os elementos sexistas/racistas de qualquer outro livro do século dezenove) ou
só fazer uma careta e ler em diante. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Mas um ponto maior (que, sim, pode
ser um pouco óbvio) é que algumas artes valem a pena o trabalho extra de passar
por todos os impedimentos para sua apreciação; e os livros de Dostoiévski valem
definitivamente a pena este trabalho. E isso não é só por que ele cavalga em
cima do cânone do Ocidente – se alguma coisa, a despeito disso. Algo que
canonização e respectivas atribuições obscurecem é que Dostoiévski não é só
grande – ele é também divertido. Seus romances quase sempre possuem tramas rasgadamente
boas, tétricas e intrincadas e meticulosamente dramáticas. Há assassinatos e
tentativas de assassinatos e polícia e rixas de famílias disfuncionais e
espiões, caras durões e mulheres perdidamente bonitas e vigaristas sebosos e
doenças degenerativas e heranças repentinas e vilões sedosos e esquemas e
prostitutas.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Claro, o fato de Dostoiévski
conseguir contar uma estória suculenta não é o bastante para torná-lo grande.
Se fosse assim, Judith Krantz e John Grisham seriam grandes escritores de
ficção, e por qualquer um ou mesmo pelos padrões comerciais eles não são nem
mesmo muito bons. O que evita que Krantz e Grisham e outros contadores de
história talentosos de serem artisticamente bons é que eles não possuem nenhum
talento (ou interesse em) caracterização – suas tramas envolventes são
habitadas por figuras cruas e pedaços de madeira pouco convincentes. (Sendo
justo, há também escritores que são bons em fazer personagens complexos e plenamente
realizados mas eles não parecem capazes de inserir esses personagens em uma
trama crível e interessante. Mais, outros – entre o <i>avant garde</i> acadêmico – que parecem não estar interessados/versados
em trama ou personagens, cujos movimentos dos livros ou apelo dependem
inteiramente de objetivos meta-estéticos rarefeitos.)<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> O que acontece com os personagens de
Dostoiévski é que eles estão <i>vivos</i>.
Por isso eu não só quero dizer que eles estão feitos de maneira bem sucedida ou
desenvolvidos ou “redondos”. O melhor deles vive dentro de nós, para sempre,
uma vez que nós os conhecemos. Lembre-se do orgulhoso e patético Raskólnikov, o
ingênuo Devushkin, a bela e condenada Nastasia de <i>O Idiota</i><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[12]</span><!--[endif]--></span>,
o bajulador Lebiedev e o aranhoso Ippolit do mesmo romance; o esperto e sagaz
detetive Porfiri Petrovich de <i>Crime e
Castigo</i> (sem o qual não haveria provavelmente ficções comerciais de crime e
policiais brilhantes e excêntricos); Marmeladov, o hediondo e lamentável
beberrão; ou o vão e nobre viciado em roleta Aleksei Ivanovich de <i>O Jogador</i>; as prostitutas com coração de
ouro Sonia e Liza; a cinicamente inocente Aglaia; ou o incrivelmente repugnante
Smerdiakov, aquela máquina viva de ressentimento viscoso em quem pessoalmente
eu vejo partes de mim mesmo e para quem eu mal consigo suportar olhar; ou as
idealizadas mas demasiadamente humanas Míchkin e Aliócha, o Cristo humano
condenado e a triunfante criança peregrina, respectivamente. Essas e muitas
outras criaturas de FMD estão vivas – retenha que Frank chama para sua “imensa
vitalidade” - não porque elas são tipos habilidosamente desenhados ou facetas
de seres humanos mas porque, agindo em tramas plausíveis e moralmente constrangedoras,
elas dramatizam as mais profundas partes de todos os humanos, as partes mais
conflituosas, mais sérias – aquelas que estão mais em jogo. Mais, sem nunca
deixar de ser indivíduos em 3D, os personagens de Dostoiévski conseguem
incorporar ideologias inteiras e filosofias de vida: Raskónikov o egoísmo
racional da intelligentsia dos anos
1860, Míchkin o amor Cristão místico, o Homem do Subsolo a influencia do
positivismo Europeu sobre o caráter da Rússia, Ippolit a vontade individual
furiosa contra a inevitabilidade da morte, Alieksiêi a perversão do orgulho eslavo
em face à decadência européia, e assim por diante...<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> O empurrão aqui é que Dostoiévski
escreveu ficção sobre as coisas que são realmente importantes. Ele escreveu
ficção sobre identidade, moral, valor, morte, vontade, amor sexual vs.
espiritual, ganância, liberdade, obsessão, razão, fé, suicídio. E ele fez isso
sem reduzir seus personagens em porta-vozes e seus livros em panfletos. Sua
preocupação era sempre o que é ser um ser humano – isto é, como ser uma <i>pessoa</i> de fato, alguém cuja vida seja
informada por valores e princípios, ao invés de só um tipo esculhambado de
animal que se auto-preserva. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">** É
possível realmente amar outro alguém? Se estou sozinho e sofrendo, todo mundo
fora de mim é um alívio em potencial – eu preciso desse alguém. Mas você
consegue realmente amar alguém de que você precisa tão desesperadoramente?
Grande parte do amor não é preocupar-se mais com o que outra pessoa precisa?
Como eu devo subordinar minha própria necessidade esmagadora para as
necessidades de outro alguém que eu nem consigo sentir diretamente? E então se
eu não conseguir isso, estou condenado à solidão, que eu definitivamente não
quero... então estou de volta tentando superar meu egoísmo por motivos
auto-interessados. Há alguma saída para esse nó?**<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> É uma ironia bem conhecida que Dostoiévski,
cujo trabalho é famoso pela compaixão e rigor moral, era de muitas formas um
canalha na vida real – vão, arrogante, rancoroso, egoísta. Um jogador
compulsivo, estava sempre quebrado, e choramingava constantemente pela sua
pobreza, estava sempre implorando a seus amigos e colegas por empréstimos
emergenciais que ele raramente pagava, e manteve muitos rancores longevos em relação ao
dinheiro, e fez coisas como penhorar o casaco de inverno se sua esposa para que
pudesse jogar, etc.<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[13]</span><!--[endif]--></span><o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Mas também é muito conhecido que a
própria vida de Dostoiévski foi repleta de inconcebível sofrimento e drama e
tragédia e heroísmo. Sua infância moscovita foi tão miserável que em seus
livros Dostoiévski nunca coloca ou mesmo menciona nenhuma ação em Moscou<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[14]</span><!--[endif]--></span>. Seu pai distante e
neurastênico foi morto pelos seus próprios servos quando FMD tinha dezessete
anos. Sete anos depois, a publicação de seu primeiro romance<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[15]</span><!--[endif]--></span>, e seu aval de críticos
como Belinski e Herzen, fizeram de Dostoiévski uma estrela literária no mesmo
tempo em que ele estava começando a envolver-se com o Círculo Petrachevski, um
grupo de intelectuais revolucionários que conspiraram para incitar a revolta
dos servos contra o czar. Em 1849, Dostoiévski
foi preso como conspirador, condenado, sentenciado à pena de morte, e
sujeito à famosa “execução simulada de Petrachevski”, na qual os conspiradores
eram vendados e amarrados a estacas e levados todos para o caminho do palco
“Alvo!” do processo do pelotão de
fuzilamento antes de o mensageiro imperial galopar com o adiamento de “última
hora” do misericordioso czar. Sua sentença foi comutada em aprisionamento, e o
epilético Dostoiévski acabou por passar uma década na balsâmica Sibéria,
retornando a S. Petersburgo em 1859 para saber que o mundo literário russo
tinha se esquecido dele. Sua mulher morreu, demorada e horrivelmente; então seu
dedicado irmão morreu; então o diário literário deles <i>Época </i>foi abaixo; então sua epilepsia começou a ficar tão ruim que
ele ficava constantemente apavorado de que ele morreria ou ficaria louco por
suas apreensões<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[16]</span><!--[endif]--></span>.
Contratando um estenografa de vinte e dois anos para ajudá-lo a completar <i>O Jogador</i> em tempo para satisfazer um
editor com quem ele assinou um insano contrato entregue-até-uma-certa-data-ou-confiscarei-todos-os-direitos-autorais-de-tudo-o-que-você-escreveu,
Dostoiévski se casou com essa dama seis meses depois, em tempo para fugir dos
credores de <i>Época</i>, vagueando
tristemente por uma Europa cuja influencia na Rússia ele desprezava<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[17]</span><!--[endif]--></span>, uma filha amada que
morreu de pneumonia logo depois, escrevendo constantemente, pobre, frequentemente
deprimido no prelúdio do ranger de dentes de suas convulsões, passando por
ciclos de farras maníacas na roleta e então se esmagando por seu auto-ódio. O
Volume IV do Frank relata muitas das tribulações européias de Dostoiévski <i>via</i> os jornais de sua jovem nova esposa,
Anna Snitkina<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[18]</span><!--[endif]--></span>,
cuja paciência e caridade como uma esposa podem muito bem qualificá-la como a
santa padroeira dos grupos de co-dependência de hoje.<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[19]</span><!--[endif]--></span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">** O que
é “um americano”? Temos nós algo importante em comum, como americanos, ou é só
que calhou de nós vivermos nas mesmas fronteiras e então temos que obedecer às
mesmas leis? Como exatamente América é diferente de outros países? Há algo de
verdadeiramente singular nisso? O que vincula essa singularidade? Nós falamos
muito de nossos direitos especiais e liberdades, mas haveria também
responsabilidades especiais por vir nascer americano? Se sim, responsabilidades
para quem?**</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> A biografia do Frank cobre sim todas
as questões pessoais, e ele não tenta minimizar ou jogar uma pá de cal nas
partes nojentas<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[20]</span><!--[endif]--></span>.
Mas seu projeto requer que Frank se empenhe sempre para relatar a vida
psicológica e pessoal de Dostoiévski em seus livros e nas ideologias por trás
deles. O fato de que Dostoiévski seja o primeiro e último escritor ideológico
faz dele um sujeito especialmente congênito para a abordagem contextual de
Joseph Frank para biografia<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[21]</span><!--[endif]--></span>. E os quatro volumes de Dostoiévski
deixam claro que o evento crucial, catalizador na vida de FMD, ideologicamente
falando, foi a execução simulada de 22 de dezembro de 1849 – cinco ou dez
minutos de intervalo durante o quais este fraco, neurótico e egocêntrico jovem
escritor acreditou que ele estava prestes a morrer. O que resultou dentro de Dostoiévski
foi um tipo de experiência de conversão, embora fique complicado, porque as
convicções cristãs que informam seus escritos depois disso não eram aquelas de
nenhuma igreja ou tradição, e elas estavam ligadas a algum tipo de nacionalismo
místico russo e conservadorismo político<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[22]</span><!--[endif]--></span> que levaram os soviéticos
do século seguinte a suprimir ou distorcer muito do trabalho de Dostoiévski.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">** A
vida desse cara Jesus Cristo tem algo a me ensinar mesmo que não acredite ou
não consiga acreditar que ele era divino? O que eu deveria fazer com a alegação
de que alguém que era parente de Deus, e então poderia transformar a cruz em
uma colheitadeira ou alguma outra coisa só com uma palavra, mesmo assim
voluntariamente deixou-se pregar lá em cima, e morreu? Mesmo se nós supormos
que ele era divino – como ele <i>sabia</i>?
Ele sabia que poderia quebrar a cruz só com uma palavra? Ele sabia
antecipadamente que essa morte seria só temporária (porque eu aposto que eu
conseguiria subir lá em cima, também, se eu soubesse que uma eternidade feliz
estaria ao lado de seis horas de sofrimento)? Mas algo disso realmente importa?
Eu ainda posso acreditar em JC ou Maomé ou Quem-quer-que-seja mesmo seu não
acreditar que eles eram de fato parentes de Deus? Exceto se isso significar:
“acreditar em”?**<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> O que parece mais importante é que a
experiência de quase morte de Dostoiévksi mudou um jovem escritor tipicamente
vão e na moda – um escritor muito talentoso, verdade, mas mesmo assim alguém
cujas preocupações básicas eram com sua própria glória literária – em uma
pessoa que acreditou profundamente em valores espirituais/morais<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[23]</span><!--[endif]--></span> ... além disso, em alguém
que acreditou que a vida sem valores espirituais/morais não era só incompleta
mas depravada<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[24]</span><!--[endif]--></span>.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Mas a grande coisa que faz Dostoiévski
inestimável para escritores e leitores americanos é ele que parece possuir
graus de paixão, convicção, e engajamento em temas morais profundos que nós –
aqui, hoje<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[25]</span><!--[endif]--></span>
- não conseguimos ou não nos permitimos a nós mesmos. Joseph Frank faz um
trabalho admirável de traçar a ação recíproca de fatores que fazem esse
engajamento possível – as próprias crenças e talentos de FMD, os climas
ideológicos e estéticos de seu tempo, etc. Terminando os livros de Frank,
porém, eu penso que qualquer escritor/leitor americano será levado a pensar
duramente sobre o que é que exatamente faz muitos outros romancistas de nossa
própria época e lugar parecerem tão tematicamente rasos e leves, tão moralmente
empobrecidos, em comparação com Gogol ou Dostoiévski (ou mesmo luzes menores como
Liermontov e Turguêniev). A biografia de Frank nos leva a perguntar a nós
mesmos por que nós parecemos requisitar de nossa arte uma distância irônica de
convicções profundas e questões desesperadoras, para que escritores
contemporâneos tenham que, ou fazer piadas sobre elas, ou tentar trabalhá-las
sob o disfarce de algum truque formal como citações intertextuais ou
justaposição incongruente, botando as coisas realmente urgentes dentro de
asteriscos como parte de algum estranhamento de floreio ou alguma outra merda.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Parte da explanação de nossa própria
pobreza literária obviamente inclui nosso século e situação. Os bons e velhos
modernistas, entre outras de suas conquistas, elevaram a estética no nível da
ética – talvez até metafísica – e Romances Sérios depois de Joyce tendem a ser
avaliados e estudados principalmente pela sua engenhosidade formal. Tal é esse
legado modernista que agora nós presumimos como questão comum que literatura
“séria” será esteticamente distanciada da vida real vivida. Adicione a isso o
requisito de auto-consciência textual imposta pelo pós-modernismo<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[26]</span><!--[endif]--></span> e teoria literária, é
provavelmente justo dizer que Dostoiévski et al. eram livres das expectativas
culturais que severamente constrangem a habilidade de nossos próprios
romancistas de serem “sérios”.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Mas é também justo observar, com
Frank, que Dostoiévski operou sob seus próprios constrangimentos culturais: um
governo repressivo, censura estatal, e especialmente a popularidade do
pensamento pós-Iluminista europeu, muito do qual foi diretamente contra crenças
que prezava e sobre as quais quis escrever. Para mim, a verdadeira coisa
admirável e inspiradora sobre Dostoiévski não é só que ele era um gênio; ele
era também corajoso. Ele nunca parou de se preocupar com sua reputação literária,
mas ele também nunca parou de promulgar coisas fora de moda nas quais ele
acreditava. E ele fez isso não só ignorando (agora também conhecido como
“transcendendo” ou “subvertendo”) as circunstâncias culturais adversas na quais
ele estava escrevendo, mas confrontando-as, engajando-se nelas, especificamente
e pelo nome.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> É, na verdade, falso que nossa
cultura literária seja niilista, ao menos não no sentido radical de Bazarov de
Turguêniev. Mas há algumas tendências que nós acreditamos serem más, qualidades
que nós odiamos e tememos. Dentre elas
estão o sentimentalismo, ingenuidade, arcaísmo, fanatismo. Seria melhor chamar
nossa própria cultura artística de hoje como um ceticismo congênito. Nossa <i>intelligentsia</i><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[27]</span><!--[endif]--></span>
desconfia de crenças fortes, convicção aberta. Paixão material é uma coisa, mas
paixão ideológica nos enoja em algum nível profundo. Nós acreditamos que
ideologia é agora a província dos rivais SIGs e PACs todos tentando ter seu
pedaço da grande torta verde<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[28]</span><!--[endif]--></span>... e, olhando ao redor,
nós vemos que é isso mesmo. Mas o Dostoiévski de Frank apontaria (ou
provavelmente balançaria seus punhos ou voaria em cima de nós e gritaria) que
se é assim, é parcialmente porque nós abandonamos esse campo. Que nós o
abandonamos para fundamentalistas cuja rigidez impiedosa e avidez pelo julgamento
mostram que eles não tem a mínima noção dos “valores cristãos” que eles querem
impor aos outros. Para as milícias de direita e teóricos conspiratórios cuja
paranóia sobre o governo supõem que o governo seja bem melhor organizado e
eficiente do que ele verdadeiramente é. E, na academia e nas artes, para o
movimento do Politicamente Correto dogmático e crescentemente absurdo, cuja
obsessão com meras formas de enunciação e discurso mostram muito bem como
nossos melhores instintos liberais se tornaram estéreis, como foram removidos
do que é realmente importante – causa, sentimento, crença. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Dê uma olhada culminativa em um só
fragmento do famoso “Explanação Necessária” de Ippolit em <i>O Idiota:<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i> </i>“Qualquer um que ataque caridade individual,”
eu começo, “ataca a natureza humana e lança desprezo sobre dignidade pessoal.
Mas a organização de “caridade pública” e o problema da liberdade individual
são suas questões distintas, e não mutuamente excludentes. Bondade individual
sempre permanecerá, porque é um impulso individual, o impulso vivo de uma
personalidade para extrair uma direta influência sobre outra... Como você pode
dizer, Bahmutov, o que significa uma associação como essa da personalidade de
alguém com outra pode ter sobre o destino daqueles associados?”<o:p></o:p></span></div>
</blockquote>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Você pode imaginar algum de nossos
maiores romancistas permitir que um personagem diga coisas como essas (não,
pense você, como um hipócrita bombástico para que algum herói irônico consiga
apontar seu dedo para ele, mas como parte de um monólogo de dez páginas de
alguém tentando decidir se deve cometer um suicídio)? A razão para que você não
consiga é que não permitiria: um romancista como esse seria, segundo nossas
luzes, pretensioso e extenuante e bobo. A apresentação direta de um discurso
como esse em um Romance Sério hoje iria provocar não ultraje nem invectiva, mas
pior – uma sobrancelha levantada e um sorriso <i>cool</i>. Talvez, se o romancista foi verdadeiramente grande, um
zombado seco no <i>The New Yorker</i>. O
romancista seria (e isso é a verdadeira visão do inferno em nossa época) alvo
de gargalhadas por toda a cidade.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"> Então ele – nós, escritores de ficção
– não nos permitiríamos (ou não conseguiríamos) usar arte séria para fazer
avançar ideologias<span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[29]</span><!--[endif]--></span>. O projeto seria como <i>Quixote </i>de Menard. As pessoas ou iriam
rir ou ficariam com vergonha de nós. Diante disso (e isso é um dado), quem
devemos culpar pela falta de seriedade de nossa ficção séria? A cultura, os que
riem? Mas eles não riram (ou não conseguiriam rir) se um fragmento de ficção
moralmente apaixonante e apaixonadamente moral fosse também engenhoso e
radiantemente ficção humana. Mas como fazê-lo assim? Como – para um escritor
hoje, mesmo um escritor talentoso de hoje – reunir a coragem para pelo menos
tentar? Não há fórmulas ou garantias. Há, porém, modelos. Os livros do Frank
fazem de um deles concreto e vivo e terrivelmente instrutivo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8smQWnzIE7NkkkwjDmQrZwE2PsHwpP8m-wvNuCRGqqcbZKULctMemAyCaXuTUU0-9lW8Yd9c7AKcvZJM6ptiOPiutuEO6_GGw7-ANabLpPkYtsbWhg71oGrn0EcuKdafdx4OTzFOadSc/s1600/David-Foster-Wallace_l%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="color: black; font-family: inherit;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8smQWnzIE7NkkkwjDmQrZwE2PsHwpP8m-wvNuCRGqqcbZKULctMemAyCaXuTUU0-9lW8Yd9c7AKcvZJM6ptiOPiutuEO6_GGw7-ANabLpPkYtsbWhg71oGrn0EcuKdafdx4OTzFOadSc/s1600/David-Foster-Wallace_l%5B1%5D.jpg" height="200" width="150" /></span></a></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><b style="font-weight: bold;">David Foster Wallace</b><b> </b>(1962-2008), romancista, ensaísta e professor americano, teve seu auge após o lançamento de Infinite Jest, em 1996. No Brasil, teve editados os livros <i>Entrevistas com Homens Hediondos</i> (contos) e <i>Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio que Longe de Tudo</i> (ensaios).</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"><b>Guilherme Bandeira</b>, formado em direito pela FGV e graduando em filosofia pela USP.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: inherit;"></span><br />
<a name='more'></a><span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div>
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[1]</span><!--[endif]--></span> <span lang="EN-US">David
Foster Wallace, “Joseph Frank’s Dostoievsky”, <i>Consider the Lobster and Other Essays, Black Bay Books, Little, Brown
and Company, 2006, 1st. </i></span><i>Ed., pp.
255-274.</i><o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn2">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[2]</span><!--[endif]--></span><span lang="EN-US"> Do “Can These Bones Live?”em <i>The Edward Dahlberg Reader</i>, New Directions, 1957.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div id="ftn3">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[3]</span><!--[endif]--></span> Claro,
teoria literária comparativa contemporânea é toda voltada para mostrar que não
há distinção real entre essas duas formas de ler – ou, antes, é sobre mostrar que
estética pode sempre praticamente ser reduzido à ideologia. Para mim, uma razão
para que todo o projetos do Frank valha tanto a pena é que ele mostra um jeito
todo diferente de casar leituras formais e ideológicas, um viés que não é nem
um pouco tão abstruso como a teoria literária (algumas vezes) reducionista e
(muito frequentemente) estraga prazeres.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn4">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[4]</span><!--[endif]--></span> A
quantidade de tempo de biblioteca que ele deve ter gastado teria tirado o couro
de qualquer um, eu imagino.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn5">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[5]</span><!--[endif]--></span> Entre
os paralelos impressionantes com Shakespeare está o fato de FMD ter quatro
trabalhos de seu “período maduro” que são considerados obras-primas absolutas –
<i>Crime e Castigo</i>, <i>O Idiota</i>, <i>Demônios</i>
(também conhecido como <i>Os Demônios</i>, <i>As Bestas</i>, <i>Os Possessos</i>), <i>Os Irmãos
Karamazov – </i>todos os quatro envolvendo homicídios e são (indiscutivelmente)<i> </i>tragédias.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn6">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[6]</span><!--[endif]--></span> Volume
III, <i>Os Efeitos da Liberação</i>, inclui
uma leitura explicativa muito boa de <i>Memórias</i>,
traçando a gênese do livro como uma resposta ao “egoísmo radical” que se tornou
moda pelo <i>Que fazer? </i> de N. G. Chernyshevsky e identificando o <i>Homem do Subsolo</i> como basicamente uma
caricatura paródica. A explanação de Frank para a má interpretação generalizada
de <i>Memórias</i> (muitas pessoas não lêem
o livro como um <i>conte philosophique</i>,
e eles assumem que Dostoiévski desenhou o <i>Homem
do Subsolo</i> como um arquétipo sério nível-Hamlet) também ajuda a explicar
por que os romances mais famosos de FMD são frequentemente lidos e admirados
sem nenhuma apreciação real de suas premissas ideológicas: “A função
parodística do caráter do [<i>Homem do
Subsolo</i>] tem sido sempre obscurecida pela imensa vitalidade de sua
personificação artística”. Isto é, de certa forma Dostoiévsky era muito bom
para seu próprio bem.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn7">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[7]</span><!--[endif]--></span> Nenhuma
vez em seus quatro volumes o Professor Frank menciona a Falácia Intencional (no
caso de fazer tempo que você não estuda teoria literária, a Falácia Intencional
(=”Julgar o significado ou sucesso de uma obra de arte por o que o autor
expressou ou ostensivamente pretendeu ao produzi-la”). A FI e a Falácia Afetiva
(= “O julgamento de uma obra de arte com base no seu resultado, especialmente
seu efeito sentimental) são as duas maiores proibições de uma crítica textual
de tipo objetivo, especialmente o <i>New
Criticism</i>) ou tenta desviar da objeção de que sua biografia a comete por
toda ela. De certa forma esse silêncio é compreensível, já que o tom que Frank
mantém por toda sua leitura é o de máxima objetividade e comedimento: ele não
está aí para impor alguma teoria particular ou método para decodificar
Dostoiévski, e ele mantém uma orientação clara para lutar contra os críticos
que escolheu golpear de machado o trabalho de FMD. Quando Frank de fato quer
questionar ou criticar certa leitura (como em ataques ocasionais no <i>Problemas da Poética de Dostoiévski</i> de
Bakthin, ou na resposta verdadeiramente brilhante ao <i>Dostoévski e o Parricídio </i>de Freud no apêndice do Volume I), ele
sempre o faz ao simplesmente apontar que alguns registros históricos e/ou
memórias e cartas do próprio Dostoiévski contradizem alguns pressupostos da
crítica que foi feita. Seu argumento nunca é que alguém está errado, só que
eles não possuem todos os fatos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"> O que também é interessante aqui
é que Joseph Frank vem de uma época como estudioso no mesmo momento em que o <i>New Criticism</i> está impregnando a
academia dos EUA, e que a boa e velha Falácia Intencional é praticamente a
pedra angular do <i>New Criticism</i>; e
também, como Frank não está meramente rejeitando ou argumentando contra a FI
mas procedendo como se ela nem <i>existisse</i>,
é tentador imaginar todo tipo de corrente parricida malévola rodeando seu
projeto – Frank dando uma silenciosa banana gigante para seus professores
antigos. Mas se nós nos lembrarmos da remoção do New Criticism do autor da
equação interpretativa fez praticamente nada para tornar o caminho mais claro
para a teoria literária pós-estruturalista (como em por exemplo Desconstrução,
psicanálise lacaniana, estudos cultuais marxistas/feministas, novo historicismo
foucaultiano/greenblattiano, e Cia.) e que teoria literária tende a fazer com o
próprio texto o que o <i>New Criticism</i>
fez com o autor do texto, começa a parecer que Joseph Frank está dando uma meia
volta rápida fora da teoria (teoria sendo nossa própria mania
radical-intelectual de nossa época, ao invés do niilismo ou do egoísmo radical
como eram na Rússia de FMD) e tentando compor um sistema de leitura e
interpretação tão completamente diferente dela (por exemplo, o viés de Frank)
parece uma investida mais manifesta contra premissas da teoria literária do que
qualquer ataque frontal poderia ser. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn8">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[8]</span><!--[endif]--></span> Este
selo singular próprio é uma das maiores razões para alguém vir amar um autor. A
forma como você consegue dizer, frequentemente em só dois parágrafos, que algo
foi escrito por Dickens, ou Tchekhov, ou Woolf, ou Salinger, ou Coetzee, ou
Ozick. A qualidade é impossível de descrever ou dizer diretamente – eles só
apresentam uma vibração, um tipo de perfume de sensibilidade – e a tentativa do
crítico de transformar isso em questões de “estilo” quase sempre são toscas.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn9">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[9]</span><!--[endif]--></span> É
necessário passar só um semestre tentado ensinar literatura no colégio para
perceber que a maneira mais fácil de matar a vitalidade de um autor de
potenciais leitores é apresentar um autor à frente de seu tempo como “grande”
ou “clássico”. Porque então esse autor se torna para seu alunos como remédios
ou vegetais, algo que as autoridades dizem ser “bom para elas” de que eles
“deveriam gostar”, a partir deste ponto as membranas pestanejantes dos alunos
descem, e todo mundo acaba por fazer um ensaio crítico como requisito sem
sentir nada de real ou relevante. É meio que retirar todo oxigênio de um quarto
para depois tentar fazer fogo.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn10">
<div class="MsoFootnoteText">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[10]</span><!--[endif]--></span> ...
especialmente na tradução vitoriana da Sra. Constance Garnett, que nos anos
1930 e 40 colocou a tradução de Dostoiévski & Tolstoi no mercado, e cuja
interpretação em 1935 de <i>O Idiota</i> tem
coisas como (pegando quase ao acaso):<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoFootnoteText" style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">“Natasia
Fillippovna!” General Epanchin articulou reprovadoramente.<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoFootnoteText" style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">. . .<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoFootnoteText" style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">“Estou
muito grato por te conhecer aqui, Kólia”, disse Míchkin a ele. “Você pode me ajudar?
Eu preciso ir até a Natasia Fillipovna. Eu perguntei a Adelion Alexandrovitch
para me levar lá, mas você vê que ele dorme. Você me levaria lá, visto que não
sei as ruas, nem o caminho?<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoFootnoteText" style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">. . .<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">A frase
lisonjeou e tocou e agradou enormemente General Ivolgin: ele derreteu de
repente, instantaneamente mudou seu som, e disparou uma longa, entusiasta
explanação.<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoFootnoteText" style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">. . .<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">E mesmo
as traduções aclamadas Knopf por Richard Pevear e Larissa Volokhonsky, a prosa
(em, por exemplo, <i>Crime e Castigo</i>)
é ainda frequentemente estranha e
emperdigada:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">“Chega!
ele disse resoluta e solenemente. “Fora com miragens, fora com medos falsos,
fora com espectros!... Há vida! Não estava eu vivo agora mesmo? Minha vida não
morreu com a velha coroca! Talvez o Senhor se lembre dela em Seu reino e –
chega, minha querida, é tempo de ir! Agora é o reino da razão e da luz e... e
vontade e força... e nós agora devemos ver! Nós agora cruzaremos as espadas!”
ele acrescentou presunçosamente, como se estivesse falando com alguma força
negra e desafiando-a.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;">Umm, por
que não só “como se ele desafiasse alguma força negra”? Você consegue desafiar
a força negra sem falar com ela? Ou há algo em russo original algo que evita
que a frase acima soe redundante, empolada, bem ruim da mesma forma que uma
frase como “Ora! ela disse, dirigindo-se a seu companheiro e convidando-o para
acompanhá-la” é ruim? Se assim, por que não reconhecer que em inglês continua
ruim e apenas vamos em frente para consertá-la? Traduções literárias não podem
mexer de nenhum jeito com a sintaxe? Mas russo não é uma língua flexionada –
ela usa casos e declinações ao invés da ordem das palavras – então tradutores
já estão mexendo com a sintaxe quando eles colocam Dostoiévski no inglês, que
não se flexiona. É difícil entender por que esses tradutores precisam ser tão
desajeitados.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn11">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[11]</span><!--[endif]--></span> O que
diabos significa “voar para cima” de alguém? Acontece milhares de vezes em
todos os romances de FMD. O quê, “voar para cima” deles significa bater neles?
Gritar com eles? Por que não <i>dizer</i>
isso, se você está traduzindo? <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn12">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[12]</span><!--[endif]--></span> (...
que era, como Caddie de Faulkner, “condenada e sabia disso”, e cujo heroísmo
consiste em altivamente desafiar sua condenação que ela também julga. FMD
parece também o primeiro escritor de ficção a entender quão profundamente
alguém ama seu próprio sofrimento, como eles o usam e dependem dele. Nietzsche
pegará o <i>insight</i> de Dostoiévski e o
fará a pedra de toque de seu ataque devastador ao Cristianismo, e isso é
irônico: em nossa própria cultura de “ateísmo iluminista” nós somos muito
parecidos com a criança de Nietzsche, seus herdeiros ideológicos, e sem
Dostoiévski não haveria Nietzsche, e mesmo assim Dostoiévski está entre os mais
profundamente religiosos de todos os escritores.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn13">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[13]</span><!--[endif]--></span> Frank
não embeleza nenhuma dessas coisas, mas em sua biografia nós aprendemos que a
personalidade de Dostoiévski era realmente mais contraditória do que escrota.
Insuportavelmente vaidoso por sua reputação literária, ele também era
atormentado por toda sua vida por o que ele via como suas inadequações
artísticas; um sanguessuga e um perdulário, ele também voluntariamente assumiu
a responsabilidade financeira por seu enteado, da família sórdida e ingrata de
seu falecido irmão, e pelos débitos de <i>Época</i>,
o famoso jornal literário que ele e seu irmão co-editavam. O novo Volume IV do
Frank deixa claro que foram esses débitos honrosos, e não a boa e velha
caloteiragem, que enviaram o Sr. e a
Sra. FMD para o exílio na Europa para evitar a prisão por dívida, e que foi só
nos spas da Europa que a mania de jogo de Dostoiévski ficou fora de controle.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn14">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[14]</span><!--[endif]--></span> Algumas
vezes essa alergia é estranhamente notável, como por exemplo no começo da Parte
2 de <i>O Idiota</i>, quando Príncipe Míchkin
(o protagonista) tinha deixado St. Petesburgo para ficar seis meses em Moscou:
“das aventuras de Míchkin durante sua ausência de Petersburgo nós podemos dar
pouca informação”, mesmo que o narrador tenha acesso a todo tipo de eventos
fora de S. P. Frank não diz muito sobre a moscoufobia de FMD; é difícil
descobrir do que se trata.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn15">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[15]</span><!--[endif]--></span> = Gente
Pobre, um “romance social” padronizado que enquadra uma (embora melosa) estória
de amor com representações da pobreza urbana suficientemente aterradoras para
extrair a aprovação da Esquerda socialista.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn16">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[16]</span><!--[endif]--></span> É
verdade que a epilepsia de FMD – incluindo as iluminações místicas que
freqüentavam algumas de suas auras pré-apreensivas – tem comparativamente pouca
discussão na biografia do Frank; e resenhistas como James L. Rice do <i>London Times</i> (ele mesmo autor de um
livro sobre Dostoiévski e epilepsia) reclamaram quer Frank “não dá a ideia do
impacto da doença crônica” nos ideias religiosas de Dostoiésvki e sua
representação em seus romances. A questão da proporção corta para ambos os
lados, porém: q. v. Jan Parker do <i>New
York Times Book Review</i>, que gastou ao menos um terço de sua resenha ao
Volume III do Frank fazendo declarações como “Me parece que o comportamento de Dostoiévski
confirma integralmente o critério de diagnóstico de jogatina patológica como
foi estabelecido pelo manual de diagnóstico da
Associação Americana de Psiquiatria”. No fim das contas, resenhas como
essas nos ajudam apreciar a própria postura imparcial do Joseph Frank e a falta
de eixos específicos para moer.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn17">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[17]</span><!--[endif]--></span> Não
vamos deixar de observar o fato de que o Volume IV de Frank nos fornece muita
sujeira pessoal das boas. Sobre o ódio de Dostoiévski pela Europa, por exemplo,
nós aprendemos que sua famosa briga com Turguêniev, que foi ostensivamente por Turguêniev
ter ofendido o nacionalismo passional de Dostoiévski por atacar, de forma
impressa, a Rússia e então ter mudado para a Alemanha, ele também prometeu
pagá-lo de volta imediatamente e então nunca o fez. Frank é muito contido para
dizer o ponto principal: é bem mais fácil viver com o sofrimento de alguém se
você consegue elaborar uma queixa contra ele.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn18">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[18]</span><!--[endif]--></span> Outro
bônus: os volumes do Frank estão repletos de nomes maravilhosos e/ou
trava-línguas – Snitkin, Dubolyobov, Golubov, von Voght, Katkov, Nekrasov,
Pisarev. Você pode ser por que autores russos como Gogol e FMD fizeram uma arte
fina de nomes epítetos. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn19">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[19]</span><!--[endif]--></span> Exemplo
aleatório do jornal dela: “Pobre Fíodor, ele sofre muito, e está sempre
irritadiço, e suscetível a voar para cima de ninharias... Não é sem conseqüência,
porque outros dias são bons, quando ele é tão doce e gentil. Além disso, eu
posso ver que quando ele grita comigo é por sua doença, não por seu mau
temperamento.” Frank cita e comenta em longas passagens esse tipo de coisa, mas
ele se mostra muito pouco consciente de que o casamento de Dostoiévski era em
alguns sentidos bem doente, ao menos para os padrões de 1990 – veja por exemplo
“A paciência de Anna, seja qual os prodígios de auto-comando que poderia ter
custado a ela, foi amplamente compensada pela (ao menos segundo seu olhar) a
imensa gratidão de Dostoiévski e seu crescente senso de união.”<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn20">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[20]</span><!--[endif]--></span> Veja,
por exemplo, a desastrosa paixão de Dostoiévski pela cadela-mor Appolinaria
Suslova, ou as torções mentais que ele fingiu para justificar suas farras no
cassino... ou o fato, amplamente documentado por Frank, que FMD foi de fato um
membro ativo do Círculo Petrashevski e, aliás, provavelmente dele mereceu sim
ser preso pelas leis da época, e isso deu <i>andamento</i>
a<i> </i>muitos outros biógrafos que
tentaram dizer que Dostoiévski calhou de ser tragado pelos amigos para a
reunião radical errada no momento errado.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn21">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[21]</span><!--[endif]--></span> Caso
não seja óbvio, “ideologia” está sendo usado aqui no seu sentido estrito e
descarregado para significar qualquer sistema organizado e profundamente
realizado de crenças e valores. Admito, neste tipo de definição, Tolstói e Hugo
e Zola e a maioria de outros titãs do século dezenove são também escritores
ideológicos. Mas a coisa sobre Dostoiévski ter talento para caracterização e
para render grandes conflitos dentro (não só entre) pessoas é o que faz com que
ele dramatize temas extremamente pesados e sérios sem nunca ser pregador ou
redutor, isso é, sem nunca piscar para a dificuldade de conflitos
morais/espirituais ou fazer o “bem” ou “redenção” parecer mais simples do que
eles realmente são. Você precisa só comparar os protagonistas das conversões no
<i>A Morte de Ivan Ilich</i> de Tolstói e <i>Crime e Castigo</i> de FMD para apreciar a
habilidade de Dostoiévski de ser moral sem ser moralista.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn22">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[22]</span><!--[endif]--></span> Aqui
está outra matéria que Frank trata brilhantemente, especialmente no capítulo <i>Casa dos Mortos </i>do Volume III. Parte do
motivo pelo qual FMD abandonou o socialismo da moda de seus vinte anos foram
seus anos de prisão com os párias
absolutos da sociedade russa. Na Sibéria, ele veio a entender que os servos e
pobres urbanos da Rússia na verdade odiavam os intelectuais de alta classe que
queriam “libertá-los”, e esse ódio era de fato bem justificável. (Se você que
ter alguma ideia de como esta ironia política dostoiévskiana pode ser traduzido
para a cultura americana moderna, tente ler <i>Recordações
das Casas dos Mortos</i> e <i>Mau-Mauing the
Flak Catchers</i> de Tom Wolfe ao mesmo tempo.) <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn23">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[23]</span><!--[endif]--></span> Não
surpreendentemente, as exatas crenças de FMD são idiossincráticas e complexas,
e Joseph Frank é minucioso e claro e detalhista em explicar suas evoluções
através dos temas dos romances (como em, por exemplo, o efeito tóxico do
ateísmo egoísta no caráter da Rússia em <i>Memórias
</i>e <i>C&C</i>; a deformação da paixão
russa pela Europa mundana em <i>O Jogador</i>,
e, em Míchkin de <i>O Idiota</i> e Zossima
do <i>Irmãos Karamazov, </i>as implicações
de um cristo humanizado sujeito literalmente às forças físicas da natureza, uma
ideia central para toda a ficção que Dostoiévski escreveu depois de ver “Cristo
Morto” de Holbein, o Jovem, no Museu da Basiléia em 1867).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"> Mas o que Frank fez bem de forma
verdadeiramente fenomenal aqui é destilar a quantidade enorme de materiais de
arquivo gerados por e sobre FMD, fazendo-os compreensíveis ao invés de só usar
pequenas quantidades deles como suporte uma tese crítica particular. A certo
ponto, em algum lugar perto do fim do Volume III, Frank até consegue encontrar
e glosar algumas obscuras notas autorais para “Socialismo e Cristianismo”, um
ensaio de Dostoiévski nunca acabado, que ajudou a clarificar por que ele é
tratado por alguns críticos como precursor do existencialismo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"> “A incarnação de Cristo...
forneceu um novo ideal de humanidade, uma que retém sua validade desde então: “N.
B. Nenhum ateu que tenha questionado a origem divina de Cristo nega o fato de
que Ele seja o ideal de humanidade. O último sobre isso – Renan. Isso é muito
notável.” E a lei desse novo ideal, segundo Dostoiévski, consiste no “retorno à
espontaneidade, para as massas, mas livremente... Não forçosamente, mas ao
contrário, o maior grau de intencionalmente e conscientemente. É claro que
durante essa alta intencionalidade é ao mesmo tempo uma maior renúncia da
vontade.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
<div id="ftn24">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[24]</span><!--[endif]--></span> Os
maiores inimigos do maduro e pós-convertido Dostoiévski eram os Niilistas, a
descendência radical dos <i>yuppies</i>
socialistas de 1840, cujo nome (o nome dos Niilistas) veio do mesmo discurso
negador-de-tudo em <i>Pais e Filhos </i>de
Turguêniev que foi citado no início. Mas a verdadeira batalha era mais ampla, e
muito mais profunda. Não é por acidente que a grande epígrafe de Joseph Frank
no Volume IV é do clássico de Kolakowki <i>Modernity
on Endless Trial</i>, segundo o qual o abandono de Dostoiévski do socialismo
utilitarista para um conservadorismo moral idiossincrático pode ser visto na
mesma básica luz que o despertar de Kant do “sono dogmático” em uma deontologia
pietista radical quase um século antes: “Ao virar-se contra o utilitarismo
popular do Iluminismo, [Kant] também soube exatamente que o que estava em jogo
era nenhum código moral particular, mas uma questão de existência ou
inexistência de uma distinção entre bem e mal e, consequentemente, a questão de
destino da humanidade”.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn25">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[25]</span><!--[endif]--></span> (talvez
sob nosso próprio tipo de feitiço niilista)<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn26">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[26]</span><!--[endif]--></span> (o que
quer que isso seja exatamente)<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn27">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[27]</span><!--[endif]--></span> (que,
segundo o julgamento deste resenhista, significa basicamente nós)<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn28">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[28]</span><!--[endif]--></span> (N.T.)
PAC quer dizer <i>Political Action Comitee </i>e
SIG, <i>Special Interest Groups</i>, e são,
em linhas gerais, organizações voltadas para a arrecadação de fundos para as
eleições americanas.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn29">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference">[29]</span><!--[endif]--></span></span><span style="font-family: inherit; font-size: x-small;"> Nós,
claro, usaríamos sem hesitar a arte da paródia, do ridículo, do desmerecimento,
ou da crítica a ideologias - mas isso é muito diferente.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: 9pt;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-60148034244237884822013-12-29T07:47:00.000-08:002013-12-29T07:47:25.220-08:00Ana Akhmátova: Poesia e Prosa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkX1s6GhG99_sWZv_DFCIim65T5VVOJi5NgTDR8NOusWMWtidLcaBb6Xpa-VW6_Sj-V8MnL_cickvB5H0vQUT9paERRZIirWiZ0cfqdJxuozwns3qvGAHmD806e1z1kwI8DE6y277G_nY/s1600/14b10f92d885fcba0e9b653db46f30b2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="182" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkX1s6GhG99_sWZv_DFCIim65T5VVOJi5NgTDR8NOusWMWtidLcaBb6Xpa-VW6_Sj-V8MnL_cickvB5H0vQUT9paERRZIirWiZ0cfqdJxuozwns3qvGAHmD806e1z1kwI8DE6y277G_nY/s400/14b10f92d885fcba0e9b653db46f30b2.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Ana Akhmátova: Poesia e Prosa</i>, a poeta recita sua obra em gravações realizadas entre 1963 e 1965.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<b>АННА АХМАТОВА (1889-1966)</b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Стихи и проза</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
1. Но я предупреждаю вас 0,28</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
2. «Читая Гамлета», цикл стихотворений 0,56</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
5. Рыбак 0,59</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
4. Смуглый отрок бродил по аллеям 0,34</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
5. Сжала руки под темной вуалью... 0,45</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
6. Слаб голос мой, но воля не слабеет ... 0,54</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
7. Ведь где-то есть простая жизнь и свет 0,59</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
8. Мне голос был, он звал утешно... 0,47</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
9. Небывалая осень построила купол высокий... 1,10</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
10. Муза 0,41</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
11. Разрыв», цикл стихотворений 1,36</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
12. Привольем пахнет дикий мед... 0,49</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
13. Клеопатра 1,15</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<i>Стихотворения из пьесы</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
14. «Пролог, или сон во сне» 3,35</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
15 Из цикла Ветер войны» 2,23</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
16. Родная земля 1,11</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
17. Вот она, плодоносная осень... 0,33</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
18. «Полночные стихи», цикл стихотворений 6,19</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
19. Летний сад 1,13</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
20. Приморский сонет.... 0,48</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
21. Об Александре Блоке 6,30</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
22. Из очерка «Амадео Модильяни» 15,36</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
23. «Реквием», цикл стихотворений 14,20</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://www.dropbox.com/sh/kilpbu3k80r83w5/QP7AMQ6NeU">Download</a>.</div>
César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-22546542287584597802013-05-11T18:07:00.001-07:002013-05-11T18:07:35.822-07:00Quando Tchekhov encontrou Leskov<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtm0vmlzQAauWlXoUrGmrDFeO_NGKxWz24u9ArVL-6vCqDZlXA5G7RhKdRkB2nogV7Ly0FN73W1nsK-Ez_-RomDu-N8rLZLWo5oWbwsQOzMqIhoegt_73SHqPjA-7u-BHjG7p_4T5CqbM/s1600/248265_565661243455970_999161432_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtm0vmlzQAauWlXoUrGmrDFeO_NGKxWz24u9ArVL-6vCqDZlXA5G7RhKdRkB2nogV7Ly0FN73W1nsK-Ez_-RomDu-N8rLZLWo5oWbwsQOzMqIhoegt_73SHqPjA-7u-BHjG7p_4T5CqbM/s320/248265_565661243455970_999161432_n.jpg" width="193" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Nikolai Leskov, 1880</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">Conforme conta Donald Rayfield em "Anton Chekhov: A Life", em 8 de outubro de 1883, Leskov, já famoso por seus contos, chegava em Moscou para uma estadia de cinco dias juntamente com Nikolai Leikin, editor de São Petersburgo. Ao chegar na c</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;">idade, Leikin resolve apresentar o contista veterano ao iniciante Tchekhov, que já havia lhe confessado admiração pelo autor de Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk.</span></div>
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; display: inline;"><div style="text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"></span><br /><span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"></span></div>
<span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
Após Anton conduzir Leskov por um circuito de bordéis da Av. Soboliév que terminou no Salon des Variétés, Tchekhov relatou o seguinte diálogo com um Leskov já bêbado:</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<i><span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
"Você sabe quem eu sou?"</div>
</span><span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
"Sim, eu sei."</div>
</span><span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
"Não sabe não. Eu sou um místico."</div>
</span><span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
"Eu sei disso."</div>
</span><span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
"Você vai morrer antes do seu irmão."</div>
</span><span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
"Talvez."</div>
</span><span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: justify;">
"Te ungirei com óleo, assim como Samuel ungiu Davi... Escreva."</div>
</span></i><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"><div style="text-align: left;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7hYmiC3m0Od9zPaX0hH0GbULaOcuZdsbB-RHo1wIh9gc8Icy9cBfe0uQBfGl7ltkCDz0SfFMdxb8thybynTFJrGECvwOzL6WNWE_CSWSJ4482lcwYdQvWG7cJeSjO2PetC-QdzZfqNus/s1600/Young_Chekhov_1880s.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7hYmiC3m0Od9zPaX0hH0GbULaOcuZdsbB-RHo1wIh9gc8Icy9cBfe0uQBfGl7ltkCDz0SfFMdxb8thybynTFJrGECvwOzL6WNWE_CSWSJ4482lcwYdQvWG7cJeSjO2PetC-QdzZfqNus/s320/Young_Chekhov_1880s.jpg" width="192" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Tchekhov em 1882</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Tchekhov escreveu, e se tornou o sucessor de Leskov como grande narrador da Rússia. Os dois se viram pouquíssimas vezes novamente, se vendo pela última vez pouco antes da morte de Leskov em 1895. Ah, Leskov acertou a profecia.</div>
</span></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-45763620407360046212013-03-30T17:57:00.001-07:002013-03-30T17:57:49.137-07:00<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Como era terrível para ele quando surgia de repente em seu espírito a imagem viva e clara do destino humano e de seu significado, e quando entrevia num lampejo um paralelo entre aquele significado e sua própria vida, quando dentro de sua cabeça se derramavam, umas sobre as outras, várias questões vitais, e rodavam, em desordem, de modo atemorizante, como pássaros despertados por um raio repentino de sol, numa ruína adormecida.</blockquote>
<div style="text-align: right;">
- <i>Oblómov</i>, Ivan Gontcharóv </div>
César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-18606537941999836802013-03-04T15:23:00.000-08:002013-03-04T15:29:13.718-08:00Morre, aos 94 anos, Joseph Frank, biógrafo de Dostoiévski<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://revistacult.uol.com.br/home/wp-content/uploads/2011/11/josephfrank.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="124" src="http://revistacult.uol.com.br/home/wp-content/uploads/2011/11/josephfrank.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Joseph e e Marguerite Frank</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Conforme <a href="http://oglobo.globo.com/cultura/morre-aos-94-joseph-frank-biografo-de-dostoievski-7737669">noticiado hoje</a> pelo O Globo, com <a href="http://www.nytimes.com/2013/03/04/arts/joseph-frank-biographer-of-dostoevsky-dies-at-94.html">informações</a> do The New York Times, Joseph Frank, faleceu dia 24 de fevereiro, quarta passada, em decorrência de uma insuficiência cardíaca. Estudioso americano da obra de Dostoiévski, Frank ficou famoso por sua extensa biografia sobre o autor, para a qual foram necessários cerca de trinta anos de pesquisa e cinco grande tomos. Biografia esta que anos mais tarde seria editada e condensada em um tomo só por Mary Petrusewicz.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://payingattentiontothesky.files.wordpress.com/2009/12/joseph-frank1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="http://payingattentiontothesky.files.wordpress.com/2009/12/joseph-frank1.jpg" width="131" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Edição condensada</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
No Brasil, os cinco volumes da biografia foram lançados pela <a href="http://www.edusp.com.br/busca.asp?cbotipobusca=6&cboarea=1&txtbusca=frank&x=-351&y=-192">EDUSP</a>, que também editou seu livro de ensaios, <i>Pelo Prisma Russo</i>, onde Frank traça as raízes do processo criativo de Dostoiévski, realizando uma imersão na cultura e literatura russa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b>
<b><br /></b>
<b><br /></b>
<b><br /></b>
<b><br /></b>
<b><br /></b>
<b><br /></b>
<b><br /></b><br />
<b><br /></b>
<b>Links</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://revistacult.uol.com.br/home/2011/11/o-senhor-dostoievski/">O senhor Dostoiévski</a>, na revista Cult nº 163</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=ioOaD87SYIw">Stanford Scholar on Dostoevsky's Continued Relevance</a>, entrevista em vídeo</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.edusp.com.br/cadleitura/cadleitura_0802_4.asp">A consagração do profeta</a>, por Manuel da Costa Pinto</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://notesfromafruitstore.net/2010/03/16/davids-guide-to-getting-up-the-guts-to-try/">Joseph Frank's Dostoyevsky</a>, ou Feodor's Guide, ensaio de David Foster Wallace</div>
César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-50172778538756491192013-03-01T11:28:00.000-08:002013-03-01T11:28:28.287-08:00Amanhã: Sábado russo em SP<div style="text-align: justify;">
Amanhã o <a href="http://www.museusegall.org.br/mlsItem.asp?sSume=1&sItem=449">Museu Lasar Segall</a> abrirá suas portas para a celebração da cultura russa:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
A segunda edição do Sábado Russo, promovido pelo Grupo de Pesquisa E.XXI, em parceria com o Museu Lasar Segall e com a Editora 34, contará com lançamentos, mesa de discussão, exibição de filmes e leitura de poesias. A programação ocorre no Museu Lasar Segall, no dia 02 de março, a partir das 14h00, com a seguinte programação: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>14h00 – abertura</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Lançamentos: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.editora34.com.br/sendbinary_alta.asp?imagem=26499.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://www.editora34.com.br/sendbinary_alta.asp?imagem=26499.jpg" width="124" /></a><a href="http://www.editora34.com.br/detalhe.asp?id=731">A perspectiva inversa</a>, de Pável Floriênski</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradução: Neide Jallageas e Anastassia Bytsenko</div>
<div style="text-align: justify;">
São Paulo: Editora 34, 2012</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://fbcdn-sphotos-e-a.akamaihd.net/hphotos-ak-ash3/541707_404291319652391_463078060_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://fbcdn-sphotos-e-a.akamaihd.net/hphotos-ak-ash3/541707_404291319652391_463078060_n.jpg" width="170" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<a href="http://www.kinoruss.com.br/">Sokurovianas. História e poder</a></div>
<div style="text-align: right;">
Terceiro número dos cadernos de pesquisa kinoruss</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>15h00 – cinema</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Os dias brancos - anatoções sobre a filmagem de Nostalgia de Andrei Tarkóvski</i></div>
<div style="text-align: justify;">
Filme de José Manuel Mouriño</div>
<div style="text-align: justify;">
Espanha, 2010, colorido, 60’, legenda em inglês</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Dmítri Shostakóvitch. Sonata para viola</i></div>
<div style="text-align: justify;">
Filme de Aleksandr Sokúrov e Semion Aránovitch</div>
<div style="text-align: justify;">
Rússia, 1981, P&B, 75’, legenda em espanhol</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>17h30 - mesa</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Visões de guerra e paz na Rússia Moderna e Contemporânea</i></div>
<div style="text-align: justify;">
Debatedores: Claudia Valladão de Mattos | Elena Vássina | Neide Jallageas</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>19h00 - leitura de poemas</i></div>
<div style="text-align: justify;">
Guerra e Poesia - Anna Akhmátova e Carlos Drummond de Andrade</div>
<div style="text-align: justify;">
Leitura: Luiz Pimentel | Tieza Tissi</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Serviço:</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Sábado Russo</div>
<div style="text-align: justify;">
2 de março de 2013</div>
<div style="text-align: justify;">
97 lugares</div>
<div style="text-align: justify;">
Retirar ingresso para as duas sessões e palestra 1 hora antes, na recepção do museu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5PQ0HMVt1GfDKtVhjsgMwTFg0WVeyO7p4abjGBkC5yN063TwaRXC8w7g3G7Nt979aVS2G5wm4s5r75TGECMc8gN1Mlem8sixuAaQftgpZvf1fX1QDccYribGluGS0lV9zeb1RDibOHqQ/s1600/861341_427954567286066_1356408142_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5PQ0HMVt1GfDKtVhjsgMwTFg0WVeyO7p4abjGBkC5yN063TwaRXC8w7g3G7Nt979aVS2G5wm4s5r75TGECMc8gN1Mlem8sixuAaQftgpZvf1fX1QDccYribGluGS0lV9zeb1RDibOHqQ/s400/861341_427954567286066_1356408142_o.jpg" width="192" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Além da extensa programação, a Editora 34 avisa no Facebook que o <a href="http://www.camaradabistro.com/">Camarada Bistrô</a> também estará lá oferecendo uma diversa seleção de pratos da culinária russa.</div>
César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-88848183504616722042013-02-04T15:16:00.000-08:002013-02-04T15:16:03.950-08:00Invasão russa no mercado editorial<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Matéria de <a href="https://twitter.com/diogoguedes">Diogo Guedes</a> para o <a href="http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/literatura/noticia/2013/02/04/obra-russa-ganha-espaco-no-mercado-editorial-72255.php">Jornal do Commercio</a> de Recife sobre o boom de literatura russa no mercado editorial brasileiro.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcXBRWsRB1PQF4YATDWI6N0AxBccUXZvUPAZYpP9fc4-3sUo8lTZn5B3_poMIHMV-daVxfXuThoDAq-q_2a4lgmYnXwJn-HxHLUFwvtZOm5RlE3mfhiiA6qtKAqby3S_QwDS_GQ869LaY/s1600/litrus.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: right;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcXBRWsRB1PQF4YATDWI6N0AxBccUXZvUPAZYpP9fc4-3sUo8lTZn5B3_poMIHMV-daVxfXuThoDAq-q_2a4lgmYnXwJn-HxHLUFwvtZOm5RlE3mfhiiA6qtKAqby3S_QwDS_GQ869LaY/s400/litrus.jpg" width="331" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdN_Mxn9GxPQnB-ajy0FRy4y5sxS2baLc-NeJzM9fNBpKrijFZeNKvvC3D0ljXRCAYzTO2z4CbGas_F5H2us0tmoJDmRQ8mQxupUYkzgFGefnkYqE52eai2k0za2puzlO7eTl_RgJjufw/s1600/litrus2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="291" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdN_Mxn9GxPQnB-ajy0FRy4y5sxS2baLc-NeJzM9fNBpKrijFZeNKvvC3D0ljXRCAYzTO2z4CbGas_F5H2us0tmoJDmRQ8mQxupUYkzgFGefnkYqE52eai2k0za2puzlO7eTl_RgJjufw/s400/litrus2.jpg" width="400" /></a></div>
César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-91141643862044523132013-01-19T16:35:00.003-08:002013-01-19T16:35:56.319-08:00Voltando<div style="text-align: justify;">
Depois de mais de um ano sem um post de verdade, o blog vai voltar de fato.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Lembrando que o twitter e o Facebook ali do lado nunca pararam e são seus amigos.</div>
César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-39335609108751114262012-07-07T14:36:00.003-07:002012-07-07T14:36:48.768-07:00<span style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; text-align: left;"></span><br />
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Vale a pena perguntar: — há quanto tempo não aparece uma
obra-prima? Queremos uma Guerra e paz, um Proust do nosso tempo e, no teatro,
alguém que possa ser proclamado um Shakespeare ou, menos, um Ibsen do nosso
tempo. Não há nada parecido e um paralelo que se tentasse seria humilhante para
todos nós. A Rússia tem uma literatura inferior à do Paraguai. Partiu de
Tolstoi, Dostoievski, Gogol, Pushkin, para o zero. Poderão perguntar: — “E O don
silencioso?''. Este não vale e explico: — quando veio a revolução comunista, o
autor de O don silencioso era um espírito formado ainda no regime czarista.
Também Gorki, inferior, bem inferior aos grandes escritores anteriores à
revolução, era outro inteiramente realizado antes de 17.</blockquote>
<span style="background-color: white;"><b>- Nelson Rodrigues</b>, <i>Inteligencia Invertebrada </i></span><br />César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-60679200526412590062011-12-20T12:34:00.000-08:002011-12-20T12:34:21.062-08:00Lançamentos de fim de ano<div style="text-align: justify;">
Os fãs de literatura russa nunca tiveram um natal tão repleto de lançamentos como o de 2011. Primeiro tenho de voltar alguns meses para lembrar a todos do lançamento silencioso de <i>Minha Vida</i> (Моя жизнь), de Tchékhov, pela editora 34. Lançado originalmente em 1896, Minha Vida se destaca na bibliografia de Tchékhov como uma de suas obras mais extensas. O livro narra a história de Missail Póloznev, jovem que troca o conforto familiar pela vida proletária, tema recorrente nas obras dos autores que apareceriam mais tarde na Russia Soviética, porém incomum na obra de Tchékhov.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2o6UGj-I7OwwgWSJHuRtL6nX-eTZpnrqvwLfTVC9W49LWoeN3f3kGwZDeEYCeDUFQ8qboHJb2NhLCA4puWtnQwskqPT3tLdtrvWuRnspp-qU8tmzSx5-Y1G4ii5dGjJvAwjHxw96FMfw/s1600/sendbinary_alta%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2o6UGj-I7OwwgWSJHuRtL6nX-eTZpnrqvwLfTVC9W49LWoeN3f3kGwZDeEYCeDUFQ8qboHJb2NhLCA4puWtnQwskqPT3tLdtrvWuRnspp-qU8tmzSx5-Y1G4ii5dGjJvAwjHxw96FMfw/s200/sendbinary_alta%255B1%255D.jpg" width="133" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Minha vida: conto de um provinciano</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><i>Anton Chekhov</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Editora 34</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Tradução de Denise Sales</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Editora 34</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">160 pag</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">R$35</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
O outro lançamento da editora 34, <i>Nova antologia do conto russo</i>, faz referência direta a <i><a href="http://www.sebodomessias.com.br/sebo/(S(fze5aua25hljg045qp03hkru))/detalheproduto.aspx?idItem=275345#">Antologia do conto russo</a>,</i> coleção em oito volumes<i> </i>da editora Lux lançada em 1961 que abriu muitas portas pra literatura russa no país. A Nova antologia tem valor quase histórico no mercado editorial por conter autores inéditos no Brasil, como Nicolai Karamzin, fundador da prosa russa, ou Vsiévolod Gárchin, um dos maiores contistas da Russia do século XIX desconhecido no ocidente. Além destes, encontramos alguns velhos conhecidos: Dostoiévski, Tolstói, Gógol, Tchékhov, Púchkin, Liérmontov e Turguêniev, cobrindo dois séculos de prosa russa de maneira unica.</div>
<div style="text-align: right;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisflRFsA_0H1I2iSFl-v65n6KlmMVFTbNUsTCuMP1pt7wmM25CkZpr_2RUTVnMJaQ5aZnk1p4BVndU4EzgtIAXt8FcnpqzcpEHxuo5uYytnag2KbregATB8SYxOdUO4Kak3WcYIg2HJDo/s1600/sendbinary_alta%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisflRFsA_0H1I2iSFl-v65n6KlmMVFTbNUsTCuMP1pt7wmM25CkZpr_2RUTVnMJaQ5aZnk1p4BVndU4EzgtIAXt8FcnpqzcpEHxuo5uYytnag2KbregATB8SYxOdUO4Kak3WcYIg2HJDo/s200/sendbinary_alta%255B1%255D.jpg" width="140" /></a><b><div style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
Nova antologia do conto russo </b></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">(1792-1998)</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Organização de Bruno Gomide</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><a href="http://www.editora34.com.br/NADCR_contos.pdf">Vários autores</a></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Editora 34</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">648 pag</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">R$74</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
A Ateliê Editorial lança <i>Teatro Russo - Literatura e Espetáculo</i>, das professoras Elena Vássina e Arlete Cavalieri: <i>"Esta publicação traz um amplo debate sobre os mais variados aspectos, que cercam a história e a estética da arte teatral na Rússia. O exame atento da interação orgânica entre as diferentes linguagens, que conformam o ato teatral, confere aos textos aqui presentes extremo interesse pelo alto grau de inovação investigativa na abordagem de questões cruciais para os estudos do fenômeno do teatro, tais como a arte do ator e a do encenador, a função do diretor, o papel do dramaturgo e do texto literário, a criação do cenógrafo e do coreógrafo na estruturação do texto cênico."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhreaTW_kUosuN4QWhapqXjwEr1dagXUGL7qq0SPVten3I1GTYOU9B3LjtYUyRvz_2rAQyQNirG9U7YHT5pecOPUQj-2gJYzCYnrZxAJdaLjxzbzLf5jBssNI8wYE7-8FlPP7Rgtp2JvyY/s1600/590_01%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhreaTW_kUosuN4QWhapqXjwEr1dagXUGL7qq0SPVten3I1GTYOU9B3LjtYUyRvz_2rAQyQNirG9U7YHT5pecOPUQj-2gJYzCYnrZxAJdaLjxzbzLf5jBssNI8wYE7-8FlPP7Rgtp2JvyY/s200/590_01%255B1%255D.jpg" width="134" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Teatro Russo - Literatura e Espetáculo</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Elena Vássina e Arlete Cavalieri</span></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Ateliê Editorial</span></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">432 pag</span></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">R$59</span></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></span></b></div>
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<b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></span></b></div>
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<b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
Por fim, depois de surpreendentes 142 anos após o lançamento original da obra, os brasileiros poderão ler pela primeira vez em tradução direta do russo, <i>Guerra e Paz </i>(Война и миръ) de Tolstói (Cosac Naify). Esta edição encerra um capítulo na história editorial brasileira, iniciado há mais ou menos uma década, quando os clássicos da literatura russa foram pouco a pouco recebendo o tratamento merecido das nossas editoras. Rubens Figueiredo, já famoso por traduzir outros clássicos de Tolstói, demorou três anos para traduzir a obra que levou cinco exaustivos anos de pesquisa, escrita e reescrita de Tolstói (e sua esposa, claro). Antes tarde do que nunca.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0yPz8P1b01oZV9XrzJCMf9vf0B30Xegdep0cfY_39uT674fIQf0PxotnkECB27EZ-N4WSnEVC9XLnqnPoGpyEBKMqypYXDqR6nm8EH3nb6fOrdSfsFdBs1M08uiRGNdZv-B25Qjx0yZE/s1600/29000037%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0yPz8P1b01oZV9XrzJCMf9vf0B30Xegdep0cfY_39uT674fIQf0PxotnkECB27EZ-N4WSnEVC9XLnqnPoGpyEBKMqypYXDqR6nm8EH3nb6fOrdSfsFdBs1M08uiRGNdZv-B25Qjx0yZE/s200/29000037%255B1%255D.jpg" width="198" /></a></div>
<div style="text-align: right;">
<b>Guerra e Paz</b></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Liev Tolstói</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Tradução de Rubens Figueiredo</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Cosac Naify</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">R$198</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
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<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
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<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
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<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
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<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
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<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
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<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
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<b>Links adicionais</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.falandorusso.com/2011/11/russia-nas-prateleiras-3-grandes-lancamentos-literarios/">Falando Russo: Três lançamentos literários</a></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://gazetarussa.com.br/articles/2011/11/25/uma_epopeia_na_traducao_direta_dos_russos_12823.html">Uma epopeia na tradução direta dos russos</a></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://gazetarussa.com.br/articles/2011/11/02/dostoievski_e_outros_russos_em_portugues_12742.html">Dostoiévski e outros russos em português</a></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://www.diariodarussia.com.br/daniela-mountian/noticias/2011/12/19/cenas-do-palco-russo/">Cenas do palco russo</a></div>César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-35095483530034813792011-11-27T09:11:00.001-08:002011-11-27T09:50:50.228-08:00Lançamento de Contos de Sebastopol, de Tolstói<div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6Ad3cGCfBGsuKsq6Whim9-WhSNitEJwjBztf6av6Aklcgh0s7K8eajuprszgHclpczT2zKqWJ1sl9i94DcDxGblYaiyR92Cjl7Ub-c1DAVUUO9MwhkFfca1B_l0nqN_-xjZ5DgSZHBHU/s1600/Sebastopol.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6Ad3cGCfBGsuKsq6Whim9-WhSNitEJwjBztf6av6Aklcgh0s7K8eajuprszgHclpczT2zKqWJ1sl9i94DcDxGblYaiyR92Cjl7Ub-c1DAVUUO9MwhkFfca1B_l0nqN_-xjZ5DgSZHBHU/s320/Sebastopol.jpg" width="197" /></a><div>
<b>Contos de Sebastopol</b></div>
<i>Liev Tolstói</i></div>
<div>
<b>Tradução:</b> Sonia Branco</div>
<div>
<b>Editora:</b> Hedra</div>
<div>
<b>ISBN:</b> 9788577152551</div>
<div>
R$ 42,00</div>
<div>
160 páginas</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Liev Tolstói</b> (1828-1910) nasceu em uma família da alta nobreza, ficou órfão ainda pequeno e recebeu de herança a propriedade Iásnaia Poliána, onde viveu a maior parte de sua vida, e que veio a se tornar fonte primordial para o desenvolvimento de suas idéias e ações. Sem completar nenhuma formação e entediado com a vida aristocrática, engajou-se, em 1851, nos exércitos do Cáucaso, seguindo depois para a Guerra da Crimeia. Nessa mesma década, escreveu suas primeiras obras, já obtendo boa recepção de crítica e público. Nos anos 60, dedicou-se a atividades pedagógicas fundando escola em suas terras, e iniciou-se o ciclo dos seus grandes romances. Nos anos 80 atravessou crise de ordem moral e religiosa que marcou sua produção literária. Em 1910, deixou suas terras para tornar-se peregrino, mas, dias depois, contraiu uma pneumonia, vindo a falecer na pequena estação ferroviária de Astápov. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Contos de Sebastopol</b> constitui-se por três relatos escritos em momentos distintos da Guerra da Crimeia. Tendo servido como segundo-tenente num regimento de artilharia durante a guerra, Tolstói reconta com minúcia episódios ocorridos durante o cerco de Sebastopol, ao mesmo tempo em que tece uma crítica contundente aos horrores da guerra. No entanto, seu veio narrativo, realizado com grande sabor, não se limita a simples descrições nem ao mero relato de fatos. Conhecedor atento da alma humana, Tolstói a explora com perspicácia, pintando com detalhes as reações dos soldados e oficiais diante das atrocidades vivenciadas e a luta por eles travada entre o desejo de escapar de situações-limite e o anseio de glória e condecorações. Os contos de Sebastopol, inéditos em português, constituem um livro extraordinário, não só pela habilidade e fineza com que o autor trata de situações vividas por ele mesmo, como pelo retrato que oferece ao leitor do desenvolvimento de um autor que irá se tornar um dos maiores expoentes da literatura universal. Tradução inédita em língua portuguesa, direta do russo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Sonia Branco</b> é professora de Literatura Russa na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com pesquisas e publicações na área de crítica literária russa do século XIX, e membro fundador da Sociedade Brasileira Dostoiévski e do Centro Brasileiro de Estudos Russos. Traduziu Os Cossacos de Tolstói, Águas de Primavera de Turguêniev e a peça A tempestade de Ostróvski, obras ainda não publicadas.</div>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrJSCXpYDzXCf2aauvVCILvA49Fz9T4yIBR1JM-Z_7EarMErGPoRnR-T0kr0XVTOI7Yu9Vr-ILHIY5QB6phOsYOq1BDXIGc2_D5v-62RsxcT5cmoK4XY6brmJVkxVmF9unkXdlnXHj7zg/s1600/divider%255B1%255D.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="49" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrJSCXpYDzXCf2aauvVCILvA49Fz9T4yIBR1JM-Z_7EarMErGPoRnR-T0kr0XVTOI7Yu9Vr-ILHIY5QB6phOsYOq1BDXIGc2_D5v-62RsxcT5cmoK4XY6brmJVkxVmF9unkXdlnXHj7zg/s200/divider%255B1%255D.gif" width="200" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
A <i><a href="http://www.hedra.com.br/home/">Editora Hedra</a></i> e a <i><a href="http://www.travessa.com.br/">Livraria da Travessa</a></i> convidam para o lançamento da edição no dia 29 de novembro, com palestra da tradutora Sonia Branco.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<b>Serviço</b><br />Livraria da Travessa • Auditório</div>
<div style="text-align: justify;">
Shopping Leblon • Avenida Afrânio de Melo </div>
<div style="text-align: justify;">
Franco, 290 • 2º piso</div>
<div style="text-align: justify;">
dia 29.11.2011 às 19h30</div>
<div style="text-align: justify;">
Rio de Janeiro/RJ</div>
</div>César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-81671924431205116842011-11-21T20:48:00.001-08:002011-11-25T22:41:49.580-08:00Noites egípcias e outros contos<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmXJwFMJn3A12YVukB4jHi-xaJeSyJZbb0vMvMWcth5PD2qaoWldJKzVI5zBDpffJ0rHFriU26NDcp93ub9ZLb3n8veMIvbAUPixzse6n6j6dKTHm1WBR7ibnlU0Rz5BFFirREPiDq9lQ/s1600/Tropinin_karamzin%255B1%255D.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmXJwFMJn3A12YVukB4jHi-xaJeSyJZbb0vMvMWcth5PD2qaoWldJKzVI5zBDpffJ0rHFriU26NDcp93ub9ZLb3n8veMIvbAUPixzse6n6j6dKTHm1WBR7ibnlU0Rz5BFFirREPiDq9lQ/s320/Tropinin_karamzin%255B1%255D.JPG" width="240" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Nicolai Karamzin por Vasili Tropinin</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
A impressão que se tem da literatura russa em geral é uma só: romances densos, obras imensas como Guerra e Paz e Os Irmãos Karamazov, mas nem sempre foi assim. Até o início do século XIX, a Rússia era dominada pela poesia, e a prosa era tida como uma arte inferior. Com a modernização do país, veio também a reforma no alfabeto e a ideia de usar a escrita para propósitos literários. Entre 1740 e 1830, a Rússia só produziu poesia, com exceção dos contos de Nicolai Karamzin (Николай Карамзин), dono de uma prosa afrancesada, fluida, mas famoso mesmo pelos seus doze volumes de <i>A História da Rússia</i>.<br />
<br />
Além de Karamzin, a única prosa conhecida da Rússia era a que vinha de fora do país, o mercado editorial começava a borbulhar com traduções de Goethe, Richardson e literatura francesa. Porém, em 1830, tudo mudaria graças ao, até então, poeta nacional, Alexander Púchkin, já famoso por seu romance em verso <i>Eugênio Oneguin</i> (Евгений Онегин), ao lançar a coleção de contos do falecido Belkin, onde ele se passa por mero editor das histórias deste autor. No mesmo ano, Gógol escrevia <i>Tardes na fazenda próxima a Didanka</i> (Вечера на хуторе близ Диканьки), coleção de contos com forte influência de Púchkin, e mais tarde formaria as raízes da prosa russa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dados estes fatos, chega às minhas mãos a edição de uma seleção um tanto peculiar da prosa de Púchkin: <b>Noites Egípcias e Outros Contos</b>, da <i>Hedra</i>. Peculiar, pois, além de alguns contos de Belkin já conhecidos, encontramos contos que dificilmente seriam lidos em qualquer outra língua que não o russo, como o conto que abre o livro, <i>A casinha solitária na Ilha de Vassili</i> (Уединённый домик на Васильевском). Texto considerado apócrifo, a história foi contada por Púchkin em uma festa na casa de Karamzin. Vladimir Titov, um dos convidados da festa, a redigiu e apresentou ao poeta para correções. É inegável a relação do poeta com a obra, dada a semelhança do conto com um de seus esboços, <i>O demônio apaixonado</i>, além dos inegáveis toques sobrenaturais já famosos em seus trabalhos, como em <i>O cavaleiro de bronze</i>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrXW4K8pLq4lsC0pxpPT0F2chxjkz-y6P-HuZek8NvRV9y8QPlLDzWhW1n_ZrbW-A_Td0F3bHpgknDPKbfLDZtUzZO27GoQWQWd0qr1DMHV-5ZjTh3zwitgwpLIjbTreOFizJL26H96LI/s1600/cms%255B1%255D.ashx_req%253DImage%2526imageid%253D33e16d98-df9a-4f54-8b24-7097e95cc75c" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrXW4K8pLq4lsC0pxpPT0F2chxjkz-y6P-HuZek8NvRV9y8QPlLDzWhW1n_ZrbW-A_Td0F3bHpgknDPKbfLDZtUzZO27GoQWQWd0qr1DMHV-5ZjTh3zwitgwpLIjbTreOFizJL26H96LI/s320/cms%255B1%255D.ashx_req%253DImage%2526imageid%253D33e16d98-df9a-4f54-8b24-7097e95cc75c" width="212" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Contos de Belkin</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Os três próximos textos fazem parte da coleção do velho Belkin: <i>Do editor</i>, <i>A nevasca</i> e <i>A senhorita camponesa</i>. “Do editor” nada mais é do que um inventivo Púchkin falando sobre Belkin, o falecido contador de causos. “A nevasca” (Метель) faz sua terceira aparição em tradução direta no Brasil, a primeira sendo de Tatiana Belinky, na coletânea Salada Russa, e a segunda de Klara Gourianova, nos Contos de Belkin. Vale notar que a tradução mais conhecida, de Belinky, remove a epígrafe: um trecho da balada “Svetlana” de Vassili Jukóvski, que também serve como anúncio de que o conto nada mais é do que uma versão em prosa da balada, a mulher que se dirige ao próprio casamento em meio a uma nevasca mas que acaba em um "final feliz". Já "A senhorita camponesa” (Барышня-крестьянка) é um Romeu e Julieta russo mais próximo da comédia. Como a própria tradutora, Cecília Rosas nota: "um conto permeado de referências literárias, a mais direta é às de Karamzin, em particular a Pobre Liza." A diferença é que a Liza de Karamzin é ingênua, sente-se culpada por enganar os pais, a Liza de Púchkin é só sorrisos ao enganar o hussardo.<br />
<br />
Em <i>História do povoado de Goriúkhino</i> (История села Горюхина), Púchkin dá voz a Belkin mais uma vez para criar uma paródia d'A História da Rússia de Karamzin em menor escala, mostrando como um proprietário de terras pode acabar com um povoado com uma simples decisão: tirando o poder de seu povo. Púchkin mostra aquela velha certeza de que quanto mais fidalgo, mais mimado e quanto mais humilde o camponês, mais subserviente. Mas ao perceber que levando a idéia adiante os censores não teriam tanta piedade, "O povoado" encerra apenas como mais um conto inacabado entre vários, e não o forte romance histórico que poderia ser.<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>Cleópatra era tão lasciva que muitas vezes se prostituia, e tão bonita que muitos homens escolhiam pagar com a vida por uma noite com ela.</i></blockquote>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEZl6PgH8_BrBaFmNctSIBUnIFljpycs3sDG7CEltga1v9ix0o36SEpUqTRjOT9XyBytlmbbdILq-qFSNn21XI-Z7F7wswOCCMQ3vjX1AQpkfIJ2EuG4mucCrG-ebx_gZqlIuws5FuDjQ/s1600/Kiprensky_Pushkin%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEZl6PgH8_BrBaFmNctSIBUnIFljpycs3sDG7CEltga1v9ix0o36SEpUqTRjOT9XyBytlmbbdILq-qFSNn21XI-Z7F7wswOCCMQ3vjX1AQpkfIJ2EuG4mucCrG-ebx_gZqlIuws5FuDjQ/s320/Kiprensky_Pushkin%255B1%255D.jpg" width="275" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Púchkin por Kiprenski</td></tr>
</tbody></table>
Da frase do historiador romano Sextus Aurelius Victor, Púchkin extrai o conto que dá nome e também fecha a coletânea. Apesar do título, o que mais chama atenção aqui é a introdução, onde Púchkin discorre sobre a árdua vida de um poeta célebre, onde qualquer sofrimento é razão para um soneto e qualquer amante motivo de uma composição. O conto, também inacabado, acompanha Tchárski, poeta que se vê quase obrigado a ajudar um improvisador napolitano a ganhar algum dinheiro. A obra ficou famosa sob as acusações de indecoro e desrespeito ao ser recitada por uma jovem em um sarau em Perm. Tal fama não se deve ao escândalo em si, mas pelo artigo escrito por Dostoiévski em defesa da obra.<br />
<br />
Ler Noites egípcias me remete à crítica de James Joyce a Púchkin, em que o autor questiona como alguém pode se entreter por tão simples histórias de damas e cavaleiros, e sugere ainda que as pessoas "naquele tempo" deviam ser simples, mas que hoje nem tanto. Segundo Joyce, Púchkin viveu como um garoto, escreveu como um garoto e morreu como um garoto. Se as descrições tão atuais de Púchkin aos problemas humanos não bastam para provar o valor de sua prosa, ou mesmo o humor aplicado aos fatos tão comuns não bastam pra provar o astuto narrador que Púchkin foi, o que provaria?<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsIvZgfcaKUybpA7msrLdLLBNzSt8zDkRYXiAFKqqFM-bomK9YL4WY1CMEooUnuhHrARaKwJHP0QPj4gc5Vjm4xN984FVx_6yjh5SP2w1VYGhNzXFmhOmgpKePbhkAF_YX2zNhc-ZzsKc/s1600/capa%255B1%255D.php_livro_id%253D313%2526tamanho%253D3" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsIvZgfcaKUybpA7msrLdLLBNzSt8zDkRYXiAFKqqFM-bomK9YL4WY1CMEooUnuhHrARaKwJHP0QPj4gc5Vjm4xN984FVx_6yjh5SP2w1VYGhNzXFmhOmgpKePbhkAF_YX2zNhc-ZzsKc/s320/capa%255B1%255D.php_livro_id%253D313%2526tamanho%253D3" width="205" /></a></div>
<br />
<b>Autor:</b> Aleksandr Púchkin<br />
<b>Editora:</b> <a href="http://www.hedra.com.br/home/index.php?PHPSESSION_HEDRA=sess&id=1&livro_id=313&area[]=catalogo&area[]=detalhes">Hedra</a><br />
<b>Tradutor:</b> Cecília Rosas<br />
<b>ISBN: </b>978-85-7715-17<br />
<b>Ano:</b> 2010<br />
<b>Edição:</b> 1ª<br />
<b>Páginas:</b> 156</div>César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-16442091930759668202011-11-21T15:16:00.001-08:002011-11-21T18:33:59.912-08:00Isaac Babel<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Por <a href="http://www.twitter.com/AlineSVeras">Aline Veras</a></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<b>O inventor do silêncio </b></div>
<div style="text-align: justify;">
O início do século XX é lembrado na História pela série de guerras devastadoras que resultaram em assassinatos, crimes, tragédias e revoluções tecnológicas, propagandísticas e políticas. Foi o século do nazismo, fascismo, comunismo e outros “ismos”. Talvez o que menos conseguimos lembrar ou associar, é o quanto a política e a ideologia influenciaram a arte naquele período. E podem acreditar, a maioria dos artistas sofreram profundas transformações para se adaptar às novas exigências. Se houvesse resistência, o menor dos castigos impostos ao artista seria a convivência com o ostracismo. Se ele não tivesse essa “sorte”, ou era assassinado ou mandado para os confins da Terra para viver em isolamento, além de ser submetido a trabalhos forçados. Tudo isso para fazer com que ele repensasse seu posicionamento e colocasse o juízo no lugar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiviIdaxHD6L1n4gKCLAyp-dj3laD5iztIGrFi6JoDDJNU2v09XsXpIUcQPDdqvSX6f3U9542p9zf2vhWGvbyh1Hi1OuGY-WRrQdqwVZRz2DqJl5FLyfDEMc6_SduRDHohGxubqpPBYKFM/s1600/pollock.fathom-five.d%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiviIdaxHD6L1n4gKCLAyp-dj3laD5iztIGrFi6JoDDJNU2v09XsXpIUcQPDdqvSX6f3U9542p9zf2vhWGvbyh1Hi1OuGY-WRrQdqwVZRz2DqJl5FLyfDEMc6_SduRDHohGxubqpPBYKFM/s200/pollock.fathom-five.d%255B1%255D.jpg" width="175" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Um autPollock</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
A pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders conta, em seu livro <i>Quem pagou a conta? A CIA na Guerra Fria da Cultura</i>, muitas artimanhas promovidas pela agência de inteligência civil do governo dos Estados Unidos, a CIA, para financiar artistas e intelectuais com o objetivo de reduzir o espaço para qualquer arte de conteúdo social, ou seja, comunista. Um caso peculiar é o do hoje consagrado pintor Jackson Pollock que ficou conhecido por seu trabalho no movimento do expressionismo abstrato. O que muitos podem não saber é que Pollock foi um dos artistas beneficiados por essa missão. A CIA fez uma verdadeira promoção dos quadros de Pollock os colocando como a representação da democracia estadunidense em detrimento da arte soviética, de caráter realista. Se não fosse a massiça propaganda em prol da suposta liberdade trazida pela democracia ocidental encarnada na pintura de Pollock, como queria crer os agentes da CIA, será que o expressionismo abstrato de Pollock seria tão valorizado quanto é ainda na atualidade? Pollock seria considerado um gênio se não fosse por essa doutrinação ideológica? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A realidade é que as ideologias do século passado fizeram com que a propaganda ganhasse dimensões gigantescas afetando bastante a cultura. A literatura, claro, não escapou desse domínio. Embora houvesse críticas e recusas em aderir aos movimentos, muitos escritores levantaram a bandeira de algumas dessas convicções políticas; um deles foi o russo Isaac Emmanuelovich Bábel (Исаа́к Эммануи́лович Ба́бель).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Escritor da barbárie humana</b></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>“Quando uma frase nasce, não é nem tão boa nem tão ruim. O segredo do seu sucesso está em um ponto crucial que mal se pode discernir. Devemos pegar a chave desse enigma gentilmente com os dedos, esquentando-a. E depois a chave deve dar uma volta, e não duas”</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Boris Schnaiderman, o precursor da tradução direta de obras russas para a língua portuguesa, afirmou em seu ensaio <i>No cerne da prosa</i> que Bábel é o autor que melhor sintetiza os extremos daquele período da História da Rússia e do mundo: “Os contos de Isaac Bábel parecem-nos agora texto-paradigma do século XX. Com seu sabor acre de sangue e terra, com sua violência que nos deixa perplexos, eles estão realmente entre os escritos que expressaram melhor aquele século de horror e de mudança”. Ele acrescenta em sua produção literária, <i><a href="http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/10798/Guerra-em-surdina.aspx">Guerra em Surdina</a></i>, que a obra do escritor é “um adeus ao mundo sequencial e lógico do século XIX. O brutal, o descomunal, o inesperado, marcados pela desumanidade e incoerência, irrompem ali com estrépito e uma explosão de colorido”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE0GqQ8KXy40bfS2Mc7GZGZiHNu6H9A1GUdYQKlVZyzlW8CZT3AtUMpqCMYMbpfQcHnPmXoDLVdr-Yqyygh_DD-SB0mp0N6LIUXRFAX7utiEcWlnrh0b32dYKAc2qfsMBXaIycto4A1-M/s1600/Babel_photo01%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE0GqQ8KXy40bfS2Mc7GZGZiHNu6H9A1GUdYQKlVZyzlW8CZT3AtUMpqCMYMbpfQcHnPmXoDLVdr-Yqyygh_DD-SB0mp0N6LIUXRFAX7utiEcWlnrh0b32dYKAc2qfsMBXaIycto4A1-M/s320/Babel_photo01%255B1%255D.jpg" width="237" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Babel</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Apesar de muito pouco conhecido pelos leitores fora da Rússia, Bábel tinha importantes admiradores. Um deles é o escritor brasileiro Rubem Fonseca que escreveu a seguinte frase acerca do estilo literário do autor: “Bábel buscava padrões de excelência impossíveis de serem alcançados por qualquer outro artista (...) Por isso escreveu tão pouco, com exatidão, uma concisão esplendente.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nascido na cidade de Odessa, localizada na Ucrânia, no ano de 1894, Isaac Bábel era de família judia e por causa desse fato sofreu com o extremo preconceito em uma época em que o judaísmo era um estigma. A Rússia, assim como boa parte dos países da Europa, mantinha uma forte antipatia pelos judeus, que eram perseguidos sumariamente tanto no período tsarista quanto no pós-Revolução Russa. “Em 40 meninos, apenas dois judeus podiam ingressar na classe preparatória”, escreveu Bábel para seu amigo e mentor Maksim Górki sobre a política de quotas das escolas daquele período. Górki, aliás, foi quem publicou os primeiros textos de Babel nas revistas <i>A Crônica</i> (Летопись) e <i>Vida Nova</i> (Новая жизнь). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>De aliado a inimigo da Revolução </b></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>“Eu sou um escritor russo. Se eu não vivesse com o povo russo, deixaria de escrever. Eu seria como um peixe fora da água.”</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Quando eclodiu a Revolução comunista de 1917, Isaac Babel ficou ao lado dos bolcheviques (Большевик) e, em 1920, atuou como correspondente na guerra russo-polonesa. É a partir dessa experiência, que o escritor irá compor a série de 36 contos reunidos na coletânea <a href="http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/10207/O-ex%C3%A9rcito-de-cavalaria.aspx"><i>O Exército de Cavalaria</i></a>, que é considerado a sua obra-prima. Foi já durante esse período que Babel começou a se desencantar com o regime soviético. Assim ele escreveu em seu diário: “Todos dizem que estão lutando pela justiça e todos fazem pilhagens. (...) Assassinatos, é intolerável, baixezas e crimes... Carnificina. O comandante militar e eu cavalgamos por entre as fileiras, pedindo aos homens que não massacrem os prisioneiros.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando Josef Stálin ascendeu ao poder do Estado soviético, seu homem de confiança, Andrei Jdanov, determinou a linha literária na qual os escritores deveria seguir dali por diante: a literatura soviética teria de ser a “expressão dos sucessos e êxitos do sistema socialista”. Durante o I Congresso de Escritores da União Soviética, realizado em 1934, Jdanov declarou aos artistas que a cultura seria usada como ferramenta na luta pela consolidação do comunismo. A nova política cultural foi extremamente violenta e anti-ocidental. Dos 600 delegados que participaram do Congresso, 200 foram mortos pelo regime nos anos seguintes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjsZi_DB2s6ZRVeXpoM1PFeKKQKZ9lM1ecMMXxAGhsn5V-6-K4VBwn6bsazSFDrZ3epEEwKEin_NiERFIT-QTUg1GjWxnW4nBrqbwA74Dpq9KC-E6w6sgpizKa6WRILqB-AyBDdzkTUzc/s1600/babel_mugshot39%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjsZi_DB2s6ZRVeXpoM1PFeKKQKZ9lM1ecMMXxAGhsn5V-6-K4VBwn6bsazSFDrZ3epEEwKEin_NiERFIT-QTUg1GjWxnW4nBrqbwA74Dpq9KC-E6w6sgpizKa6WRILqB-AyBDdzkTUzc/s320/babel_mugshot39%255B1%255D.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Babel fichado</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
A exigência afetou diversos artistas, entre eles Isaac Babel que passou a produzir raros textos, pois não conseguia seguir os cânones literários oficiais. “Eu inventei um novo gênero. O gênero do silêncio”, afirmou. </div>
<div style="text-align: justify;">
Babel foi preso em 1939, acusado de espionagem. Segundo a escritora Cynthia Ozick, após a prisão, agentes da NKVD, serviço secreto precursor da KGB, confiscaram todos os papeis de Bábel que depois foram destruídos. Entre eles, haveria contos inacabados, peças teatrais, roteiros de filmes e traduções. </div>
<div style="text-align: justify;">
Depois de uma série de torturas e interrogações na prisão da Lubyanka, em Moscou, o escritor foi executado em 27 de janeiro de 1940 por um pelotão de fuzilamento. </div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i>“Eu sou inocente. Nunca fui um espião. Nunca permiti nenhuma ação contra a União Soviética. Eu me acusei falsamente. Fui forçado a fazer acusações falsas contra mim e contra outros. Só peço uma coisa: deixem-me terminar a minha obra!”</i></div>
<div style="text-align: right;">
Últimas palavras registradas no processo. </div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Quando ainda vivia sob a proteção de Górki, Bábel foi muitas vezes ao exterior onde participava de congressos, seminários e visitava familiares, amigos e intelectuais. Após sua prisão e consequente morte, muitos se perguntaram por que o autor sempre voltava para a União Soviética, mesmo sabendo que corria perigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Yuri Annenkov, famoso retratista, pintor, gravador, cartunista, escritor e crítico, conhecia intimamente o modo de pensar político de Bábel. Em suas memórias, Annenkov escreveu sobre os muitos encontros que tivera com o autor em Paris e sobre as cartas que recebera dele até o início de 1930: “O modo de ser de Bábel mudara significativamente nos últimos meses. É verdade que ainda era muito brincalhão, mas os temas de suas conversas eram diferentes. Sua última estada na União Soviética e a crescente repressão a arte criativa através das exigências e das instruções do Estado, o desiludiram completamente. Era intolerável para ele escrever dentro da estrutura da ‘mentalidade de caserna da ideologia soviética’, e, contudo, ele não sabia como poderia viver de outra forma”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Características literárias </b></div>
<div style="text-align: justify;">
Bábel era um “despreocupado, inquieto, mulherengo, quase um vagabundo, um cavalariano, um propagandista, pai de três crianças engendradas em três mulheres diferentes, sendo que somente uma delas é legalmente sua esposa.” Foi assim que a escritora Cynthia Ozick definiu a personalidade do autor em um ensaio dedicado a ele. Segundo Ozick, as características literárias de Bábel residiam em sua própria maneira de viver. E como ele gostava de viver! Bábel parecia um garoto mirrado e míope que tinha um apetite insaciável por adquirir experiências. Queria conhecer o mundo, as pessoas, a natureza do ser humano com seus exemplares os mais diversos e controversos.</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>“A amplidão e o objetivo de sua visão social permitiu-lhe ver o mundo pelos olhos dos camponeses, soldados, padres, rabinos, crianças, artistas, atores, mulheres de todas as classes. Tornou-se amigo de prostitutas, cocheiros, jóqueis; sabia o que era ficar sem um centavo, viver no limite da pobreza e marginalizado. Foi ao mesmo tempo o poeta da cidade e um lírico da vida rural. (...) Vive de uma maneira robusta, inquisitiva e faminta: seu apetite pelo que é imprevisivelmente humano é gargantuesco, inclusivo, excêntrico. Ele é cheio de truques, malandro, irônico, um amante instável, um impostor imprudente – saindo dessas centenas de fogosos ‘eus’, verdades insidiosas arrastam-se para fora, uma por uma, em um rosto, na cor do céu, em uma poça de lama, em uma palavra. É como se ele fosse uma membrana irritável, sujeita a cada vibração das criaturas.”</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitmr3n264z1d1PvexbHDPFEqv11X0iBqRG2IinS1bvv27JuHy5MfiQP07l5fWKNACV_8kRXCCgRsGssjpH298DOuk1sPdKoqRKY1CUUOSyoD3NBIyEPVNBXOLGoZQsXinyfmC8xwjrTso/s1600/0_319a6_888428bd_XL.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitmr3n264z1d1PvexbHDPFEqv11X0iBqRG2IinS1bvv27JuHy5MfiQP07l5fWKNACV_8kRXCCgRsGssjpH298DOuk1sPdKoqRKY1CUUOSyoD3NBIyEPVNBXOLGoZQsXinyfmC8xwjrTso/s320/0_319a6_888428bd_XL.jpg" width="214" /></a>Lionel Trilling, crítico literário que foi um dos primeiros a escrever seriamente sobre Bábel em inglês, destaca a concisão do autor: </div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>“a busca da palavra (le mot juste) ou frase que produzirá seu efeito com uma rapidez implacável, seu extraordinário poder de distorção significativa, o esboço rápido, o notável deslocamento do interesse, a mudança de ênfase e, de maneira geral, sua maneira de apresentar os fatos numa perspectiva diversa daquela em que aparecem na ‘cópia fiel e autenticada’”. </i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
A filha legítima do escritor, Nathalie Bábel, quase não tinha lembranças do pai quando ele foi levado pela polícia soviética. Apenas tem recordações dos anos de sofrimento pelo qual passou por ter crescido sem a presença dele e também por não entender os motivos que fizeram Bábel escolher a permanência em seu país natal. Já adulta, pôde pesquisar o trabalho paterno e procurar informações acerca de sua morte nos arquivos da NKVD. No prefácio do livro <i>Isaac Bábel: Contos Escolhidos</i>, assim ela sustenta a opinião que formulou sobre o estilo literário do pai: </div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>“A obra de Babel desafia as classificações. Do meu ponto de vista, para simplificar, a justaposição de coisas compatíveis e coisas incompatíveis mantém a prosa de Babel em um estado de tensão constante e lhe dá o seu caráter original. Abordar Babel esperando ver em sua obra a literatura russa tradicional, pode levar a um desapontamento, ou a um sentimento de descoberta.”</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Assim são as obras de Isaac Bábel: precisas, breves e cheias de violência, piedade, comédia e iluminação. Às vezes trazem a brutalidade mais cruel, às vezes a vivacidade alegre de um pôr-do-sol no campo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Bibliografia</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/10207/O-ex%C3%A9rcito-de-cavalaria.aspx"><i>O Exército de Cavalaria</i></a>, tradução de Aurora Bernardini e Homero Freitas de Andrade</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/10689/Maria---uma-pe%C3%A7a-e-cinco-hist%C3%B3rias.aspx" style="font-style: italic;">Maria – Uma peça e cinco histórias</a>, tradução de Aurora Fornoni Bernardini, Boris Schnaiderman e Homero Freitas de Andrade</div>César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-51298812361545058282011-11-19T11:35:00.001-08:002011-11-19T11:47:21.817-08:00O romancista tradutor<div style="text-align: justify;">
<i>Rubens Figueiredo, o autor nacional mais premiado deste ano, lança a primeira tradução brasileira de Guerra e paz, de Tolstói</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Luís Antônio Giron para a revista <a href="http://revistaepoca.globo.com/Sumario/index.html">Época</a></span></div>
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<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEis_PdyvY7ouNzpGD_gTzcpUfqdQVvWrtC23n9dbasTLoHQDLGPVkx2gRhyH6zBl-aG_M6O5VK7Y9EcpK5JgVrhwHegn47ltLj0OmRB5KwQoIKp8CrsaGlp5_-ybpUtoD8L3yQT0mdwWbA/s1600/Rubens+Figueiredo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: justify;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEis_PdyvY7ouNzpGD_gTzcpUfqdQVvWrtC23n9dbasTLoHQDLGPVkx2gRhyH6zBl-aG_M6O5VK7Y9EcpK5JgVrhwHegn47ltLj0OmRB5KwQoIKp8CrsaGlp5_-ybpUtoD8L3yQT0mdwWbA/s320/Rubens+Figueiredo.jpg" width="288" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Rubens Figueiredo</td></tr>
</tbody></table>
<br />
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As funções do ficcionista e do tradutor parecem se excluir. Um se dedica a suas criações e não tem tempo para pensar em outros autores, quanto mais traduzi-los. O outro se ocupa em passar textos alheios para o idioma vernáculo, e sua assinatura é ofuscada pela dos autores. Em Rubens Figueiredo, ambos se fundem na mesma pessoa. Ele escreve ficção e traduz com igual entusiasmo. Esse trânsito dá a seu trabalho uma qualidade peculiar. Seus contos e romances – oito em 30 anos de carreira – falam de memória e cotidiano, com doses de sarcasmo e crítica. As 70 traduções que fez do inglês e nove do russo exibem uma fluência difícil de encontrar numa área cada vez mais entregue a amadores e arrivistas. </div>
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<br /></div>
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Neste ano, Figueiredo é autor de duas façanhas. Tornou-se o escritor mais premiado do Brasil ao ganhar os prestigiosos – e bem pagos – prêmios São Paulo de Literatura (R$ 200 mil) e Portugal Telecom (R$ 100 mil) por seu último romance, Passageiro do fim do dia (Companhia das Letras, 200 páginas, R$ 40), de 2010. A segunda façanha está em lançar nesta semana a tradução do romance Guerra e paz, de Liev Tolstói (CosacNaify, 2.536 páginas em dois volumes, R$ 198). Trata-se da primeira tradução brasileira feita diretamente do russo da obra-prima de Tolstói (1828-1910), publicada 142 anos atrás.</div>
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<br /></div>
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Mesmo assim, ele não se acha consagrado. “Fiquei surpreso com os elogios”, diz. “Mas sigo no meu canto, fazendo o que sempre fiz.” Aos 55 anos, Rubens é um carioca pacato, casado há 20 com a escritora Leni Cordeiro. Tem dois enteados e vive entre o Rio de Janeiro e a cidade serrana de Teresópolis. Na serra, gosta de escrever. Lá terminou Guerra e paz e seu último romance.</div>
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<br /></div>
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</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLYZd41zP1ACYeUIpdekCHN8LesYtszQjv2sLX9R0RT4TF7QnH11TRT-4_QV44Qox2Si1-NgC98zLTux_7JKoeLuX6igQMxK9G81fkFih1mkrCn3RzhNQkdTDKq54JjqS0mAWxb0nI4ow/s1600/Tolst%25C3%25B3i.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLYZd41zP1ACYeUIpdekCHN8LesYtszQjv2sLX9R0RT4TF7QnH11TRT-4_QV44Qox2Si1-NgC98zLTux_7JKoeLuX6igQMxK9G81fkFih1mkrCn3RzhNQkdTDKq54JjqS0mAWxb0nI4ow/s320/Tolst%25C3%25B3i.jpg" width="237" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Tolstói</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Sua produção não o impede – nem o poupa – de trabalhar. Professor do ensino médio há mais de 30 anos, ele dá aulas de português no curso noturno e no supletivo do colégio estadual Manoel Cícero, na Gávea. Ele se formou e fez mestrado em português e russo na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Começou nos anos 1990 a traduzir ficção em língua inglesa, livros de Paul Auster e Susan Sontag. Há dez anos, passou aos clássicos russos: Pais e filhos, de Ivan Turguêniev, contos de Anton Tchékhov e dois romances de Tolstói: Anna Kariênina e Ressurreição, entre outros. “Cheguei a Tolstói a pedido dos editores”, diz. “Mas ele acabou por marcar minha vida.” </div>
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<br /></div>
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Nada disso havia no início, quando fazia humor – “Talento de família”, diz (é irmão de Reinaldo Figueiredo, redator de humor da TV Globo). Seus três primeiros livros – O mistério da samambaia bailarina (1986), Essa maldita farinha (1987) e A festa do milênio (1990) – eram cômicos. “A vida me parecia leve na juventude”, diz. “Curiosamente, o humor foi diminuindo de livro para livro.”</div>
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<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMfR9LVRRAsG8t3RIdtI8xI-S3irqNuG_jWKuyxcvpNKnEsfqgYb7oyHaTSJMqwR57T8bePTEZklwecacW7fr4FRTLSBQexzuXNUewxX3m6u7786oHyjzehpwn7_gt5SnQQpf1JNUJ1EM/s1600/Guerra+e+paz+%2528Foto+Museu+Tolst%25C3%25B3i+de+Moscou%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMfR9LVRRAsG8t3RIdtI8xI-S3irqNuG_jWKuyxcvpNKnEsfqgYb7oyHaTSJMqwR57T8bePTEZklwecacW7fr4FRTLSBQexzuXNUewxX3m6u7786oHyjzehpwn7_gt5SnQQpf1JNUJ1EM/s1600/Guerra+e+paz+%2528Foto+Museu+Tolst%25C3%25B3i+de+Moscou%2529.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Guerra e Paz</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Passageiro do fim do dia tem um tom sério: relata um dia na vida de Pedro – quase homônimo de um dos protagonistas de Guerra e paz, Pierre. Pedro é pobre. Num ônibus, dirigindo-se à casa da namorada na favela, ele pensa na vida. Ao saltar, já não é o mesmo, pois se dá conta da opressão e da finitude, as grandes questões de Tolstói. A influência não é casual. Figueiredo está às voltas com ele há sete anos, três com Guerra e paz. “Tolstói me impressiona pela consciência crítica”, diz. “Assim, ele questiona o caráter científico da história e demonstra a força do acaso. Despreza os heróis. Nivela generais, camponeses, animais e plantas.”</div>
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<br /></div>
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</div>
<div style="text-align: justify;">
A transformação do pobre Pedro lembra a do nobre Pierre. Ele também amadurece, só que ao longo de 20 anos. De 1805 a 1825, esse corpulento filho ilegítimo de um conde envolve-se em orgias, herda a fortuna do pai, casa-se com a bela princesa Hélène, separa-se ao descobrir que ela é “depravada”, entra na Maçonaria e, apesar de pacifista, luta na guerra. Casa-se com a plácida Natasha e se estabelece. Nesse meio-tempo, as tropas napoleônicas invadem a Rússia e são derrotadas pelo exército do czar Alexandre I em 1812. A conquista da paz interior de Pierre corresponde à da paz nacional. Escrito entre 1863 e 1869, Guerra e paz faz um painel histórico, com 500 personagens, quase todos reais. </div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXQjSCvQFncg0dMS86MAFsdJFgeepwF9ZrEzVB6ADLXnbmt-C3CLYzEDmWdaSfqOuF8RiQSuFXTkpBcUDcdAUiheucJB0zQrSVlp08xUbf3OM-HTjR8w0J-c5WZurtBE8ny1m6IMUrYWc/s1600/Passageiro+do+fim+do+dia+%2528Foto+divulga%25C3%25A7%25C3%25A3o%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXQjSCvQFncg0dMS86MAFsdJFgeepwF9ZrEzVB6ADLXnbmt-C3CLYzEDmWdaSfqOuF8RiQSuFXTkpBcUDcdAUiheucJB0zQrSVlp08xUbf3OM-HTjR8w0J-c5WZurtBE8ny1m6IMUrYWc/s320/Passageiro+do+fim+do+dia+%2528Foto+divulga%25C3%25A7%25C3%25A3o%2529.jpg" width="256" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Passageiro do Fim do Dia</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Rubens procurou transferir ao português as inovações, a sintaxe e o léxico do romance. Segundo ele, Tolstói renovou o romance não só criando o épico moderno ao articular a vida íntima dos membros de cinco famílias nobres (fictícias) às campanhas militares do início do século XIX. “Ele registrou a fala de classes distintas. Há passagens intraduzíveis, como os diálogos dos camponeses e dos soldados. Tentei buscar correspondências coloquiais”, diz. Outra dificuldade foi manter o ritmo da narrativa, cheia de orações longas e interrupções, além do tom crítico. “Tolstói queria ser um bárbaro entre civilizados. Questionava a dominação cultural da Europa ocidental sobre o resto do mundo – encarnada em Napoleão, a figura mais saliente e atacada do livro.” O resultado é um texto nítido, sem frases intrincadas. Se em ficção ele é conciso, em tradução dá espaço à retórica de Tolstói. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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A professora Regina Dalcastagnè, da Universidade de Brasília, especialista em literatura brasileira atual, afirma que a obra de Figueiredo se distingue da ficção urbana atual pela densidade. “Ele aborda cenários pobres, mas seus personagens não são violentos. Eles refletem, e isso cria estranhamento. Seu estilo é amarrado, o que a gente nota em suas traduções.” Para o tradutor do russo Paulo Bezerra, o que conta não é Figueiredo ser ficcionista, mas conhecer a língua e a cultura russas. “O ficcionista cria sua ficção, mas quando traduz se coloca na mesma condição do ‘não ficcionista’: opera com ficção alheia e desaparece como ficcionista. E isso Figueiredo faz bem.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
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Para Rubens, não há segredo em ser a um tempo tradutor e romancista. “Tanto um como outro se expressam numa língua. O objetivo do tradutor é recriar no vernáculo um texto de outro idioma; o do ficcionista, exprimir sua experiência.” Por isso, ele traduz com disciplina, mas faz ficção só quando tem o que dizer. Enquanto não lhe vem à cabeça uma trama, dá aulas e traduz. Planeja traduzir as memórias e os contos de Tolstói. “Não me forço. Escrever é uma necessidade que nasce da vida diária. Tanto fazer ficção como traduzir não envolvem apenas palavras. É bem mais que isso.”</div>
<br />
<br />César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-13041355303591298552011-11-11T16:31:00.001-08:002011-11-11T18:17:30.402-08:00Nicolai Leskov<div style="text-align: justify;">
</div>
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<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Por <a href="http://www.twitter.com/AlineSVeras">Aline Veras</a></span></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<b>Busca pela alma do povo russo</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Muitos artistas sofreram com a maldição do não-reconhecimento. Só na pintura, podemos citar exemplos desde Van Gogh à Modigliani. Na música erudita, há o caso famoso do francês Claude Debussy que viu suas obras serem massacradas pelos críticos da época. Na literatura então... nem se fala. Kafka, Stendhal, Lima Barreto e tantos outros lutaram para conquistar um espaço que só foi alcançado anos após suas mortes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Explicações para o fenômeno são inúmeras: incompreensões, polêmicas, ideologias, questões sociais e políticas... Como disse o filósofo espanhol Ortega y Gasset: "O homem é ele próprio e sua circunstância". Ou seja, não basta ter talento, o artista deve contar também com o contexto da época que, muitas vezes, definirá seu destino. Pois muito bem. E o que me dizem quando o talento não é agraciado mesmo após a morte? Nesse caso, a morte só traz mais esquecimento.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa longa introdução tem um objetivo, calma. Quero fazer jus a um autor que até os dias atuais está desconhecido das prateleiras, da imaginação, das lembranças, da admiração e das mãos dos leitores. Isso mesmo, quem conhecesse sua obra, muito se admiraria da sua capacidade sem igual de narrar a grande alma russa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Narração artesanal </b></div>
<div style="text-align: justify;">
Nicolai Semyonovich Leskov (Николай Семёнович Лесков) foi “O” narrador. Narrador do povo de todas as classes, todas as religiões, modos de falar, de se comportar, de viver. Conheceu e conviveu com toda sorte de pessoas: soldados, criadas, camponeses, artesãos, comerciantes, nobres decadentes, pequeno-burgueses, fanáticos religiosos e excêntricos. “Eu conhecia a vida do povo nos mínimos detalhes e a compreendia nos mais ínfimos matizes”, afirmou o escritor que foi contemporâneo da “era de ouro” da literatura russa. Viveu à sombra de Dostoievski, Turguêniev, Tchekhov e Tolstoi que, aliás, foi um dos únicos que conseguiu enxergar a riqueza literária de Leskov.</div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i>“É estranho que Dostoievski seja tão lido... Em compensação, não compreendo por que não se lê Leskov. Ele é um escritor fiel à verdade”.</i></div>
</blockquote>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: justify;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf6cA0nU6hq6WTP_QTcTOXHYFG6nfl7Y9DbAsyOueS04MRfCgRM0mDA7foa6HfxhhZ9HWdq34-rfbRD4Muq0GnsLtu9o55F0F2q0xVnEUJxo8RvG58GhuO7dCn-5pUzZd0iGZvbNYeeL4/s1600/portrait-of-nikolay-leskov-1891%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf6cA0nU6hq6WTP_QTcTOXHYFG6nfl7Y9DbAsyOueS04MRfCgRM0mDA7foa6HfxhhZ9HWdq34-rfbRD4Muq0GnsLtu9o55F0F2q0xVnEUJxo8RvG58GhuO7dCn-5pUzZd0iGZvbNYeeL4/s320/portrait-of-nikolay-leskov-1891%255B1%255D.jpg" width="250" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Leskov por Valentin Serov, 1894</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Nascido em 1831 no povoado de Gorokhovo, em Oriol, às margens do rio Volga, em uma família de membros do clero, começou a escreveu apenas aos 29 anos quando resolveu colocar no papel todas as lendas da velha Rússia que ouvia oralmente dos mais velhos. Marco importante para a sua produção literária foi quando começou a trabalhar como ajudante de administrador de fazendas e viajou por todas as províncias da Rússia, conhecendo lugares das mais diferentes espécies e adquirindo uma experiência que estará presente em toda a sua obra. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa empatia que Leskov sentia pelo povo russo é justificada pelo próprio autor: “Precisamos simplesmente conhecer a vida do povo como a própria vida (...) não estudá-lo, mas vivê-lo”. Por causa desse laço de forte intimidade, o escritor criou um estilo muito particular de narração: o falar natural dos personagens. Paulo Bezerra, tradutor de Leskov, Dostoievski e outros autores, diz que essa linguagem marcada pelo coloquial mostra o quanto o escritor foi conhecedor da vida e dos costumes russos. Leskov “recusa (...) uma observância dogmática e mecânica das normas da língua e da chamada boa escrita”, o que o aproximava de Dostoievski. Em “Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk”, por exemplo, erros de sintaxe e declinação foram usados por Leskov para mostrar o baixo nível de escolaridade dos personagens justamente para não estilizar as falas e tornar o relato o mais verossímil possível. Leskov considerava a narrativa como uma arte artesanal, um ofício manual. “A literatura”, diz ele em uma carta, “não é para mim uma arte, mas um trabalho manual”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O mais importante biógrafo de Fiódor Dostoievski, Joseph Frank, traça o seguinte perfil de Leskov no livro “<a href="http://www.edusp.com.br/detlivro.asp?ID=18023">Pelo Prisma Russo</a>”: </div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i>"Leskov era uma personalidade orgulhosa, apaixonada e frequentemente irascível; no decorrer de sua vida ele conseguiu indispor-se com quase todo mundo que conhecia, como também com todas as tendências e movimentos correntes na literatura russa. Isso também nos diz algo sobre sua impetuosa independência, sua recusa a reverenciar os lemas ideológicos do momento. Sua briga mais conhecida, causa do virtual ostracismo que os radicais lhe impuseram durante a maior parte de sua vida, envolvia os famosos incêndios de São Petersburgo, de 1862, que coincidiram aproximadamente com a circulação das proclamações sanguinárias do Rússia Jovem, que proclamavam pelo extermínio da família real e de todos os seus partidários. A maioria acreditava que os radicais tinham começado o incêndio, e o populacho suspeitava de que a população estudantil em geral fosse simpática aos supostos incendiários. Leskov, com a intenção de proteger os estudantes, publicou um artigo onde pedia à polícia que, se houvesse qualquer prova de incêndio culposo, nomeasse os culpados para que a suspeita pudesse ser retirada das costas dos inocentes. À primeira vista, nada pareceria mais inofensivo do que tal pedido, mas o fato de Leskov ter dado algum crédito à hipótese de incêndio culposo e ter, aparentemente, apelado à polícia contra os radicais, foi o suficiente para torná-lo um homem marcado". </i></div>
</blockquote>
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<br /></div>
<a name='more'></a><br />
<div style="text-align: justify;">
<b>Dimensão utilitária </b></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOg2vZVI2x0dttCGbjNP37NWnKNBZHLWSeIwAUFfrMIXqVwE0Jaeyz5rWtvwwIgwSNvbFbwnnEOH2eWgOSKZJNAwkzRwIpBO_Y6tHjV7hZhh3O0DL9TxLFSZfIkR9F8C01kfiYzZSWpfM/s1600/leskov.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="261" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOg2vZVI2x0dttCGbjNP37NWnKNBZHLWSeIwAUFfrMIXqVwE0Jaeyz5rWtvwwIgwSNvbFbwnnEOH2eWgOSKZJNAwkzRwIpBO_Y6tHjV7hZhh3O0DL9TxLFSZfIkR9F8C01kfiYzZSWpfM/s320/leskov.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Monumento a Leskov em Orel</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Walter Benjamin, em seu famoso ensaio crítico “O narrador”, exalta as qualidades narrativas de Leskov assim como sua capacidade de observação e sua construção artesanal da história. Para ele, Leskov nada explica. Uma história abre inúmeras possibilidades para que o público vá preenchendo, procurando explicações, justificativas e soluções ao longo dos milênios. Não há finais. À medida que se ouve ou se lê uma história de Leskov, o leitor tem a possibilidade de imaginar, por conta própria, a que fim teve o personagem principal e seus coadjuvantes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Benjamin também destaca a dimensão utilitária da literatura de Leskov que consiste seja num ensinamento moral, seja numa sugestão prática, seja num provérbio ou numa norma de vida. Para ele, essa é a verdadeira natureza da literatura: o narrador é um homem que sabe dar conselhos. </div>
<blockquote class="tr_bq">
<i>“Metade da arte narrativa está em evitar explicações. Nisso Leskov é magistral.”</i></blockquote>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<b>Lady Macbeth russa</b></div>
<div style="text-align: justify;">
A novela talvez mais importante de Leskov é “Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk” (Леди Макбет Мценского уезда), publicada inicialmente em 1865, na revista Época (Эпоха), dirigida por Dostoievski. Na verdade, a narrativa saiu com o título “Lady Macbeth do Nosso Distrito”, e foi assinada por M. Stiebnitski, pseudônimo de Leskov. Só em 1867, em coletânea, a novela foi publicada como “Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A história remete às lembranças de um episódio da infância de Leskov. Quando criança, o autor soube de um assassinato envolvendo uma nora e seu sogro. A mulher despejou um líquido fervente no ouvido do velho que acabou o matando. Quando descobriram que o assassino tinha sido a nora, esta foi torturada em praça pública por um carrasco. Claro que a referência não acaba aqui. Leskov também baseia-se na Lady Macbeth shakespeariana para construir a personagem Catierina lvovna, que comete vários crimes por causa do amante, Seguiêi. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Catierina, mulher jovem e bonita, era casada com um importante e rico comerciante, Zinóvi Boríssitch, que não conseguia lhe fazer feliz. Mantinha uma vida monótona e sem muitos afazeres até que conhece o ambicioso Seguiêi e se deixa seduzir por ele. A partir daí, começa um banho de sangue em que Catierina Lvovna se torna uma leoa para conseguir alçar Seguiêi ao posto de comerciante, posição de destaque social no período.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A Lady escocesa de Shakespeare é implacável: incita Macbeth a matar todos os adversários que possam lhe tomar o trono. Ao longo de todos os assassinatos, ela mostra sua dureza de caráter e sangue frio. Mas quando consegue conquistar o seu objetivo, Lady Macbeth começa a sentir remorsos: durante o sono, tudo o que ela consegue ver são as manchas de sangue em suas mãos. Manchas que se renovam a cada dia. O remorso chega a tal ponto que ela não suporta e acaba se matando. Catierina lvovna, à luz da violenta história da Rússia, se mostra igualmente implacável em seu objetivo, mas não demonstra remorso nem loucura, apenas ódio e muita amargura por tudo o que fez e por todos os que apareceram em seu caminho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Adaptações</b></div>
<div style="text-align: justify;">
O grande compositor russo Dmitri Shostakóvitch compôs uma ópera cujo libreto se baseava na “Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk”. O cineasta polonês Andrzej Wajda também homenageou a história adaptando-a para o cinema como “<a href="http://video.yandex.ru/users/arthousecinema/view/154/#">Lady Macbeth Siberiana</a>” (Сибирская леди Макбет). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/2SS1h1SVVaw?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Bibliografia</b></div>
<div style="text-align: justify;">
1865 - Леди Макбет Мценского уезда</div>
<div style="text-align: justify;">
Lady Macbeth do distrito de Mtzensk - <a href="http://www.editora34.com.br/detalhe.asp?id=539&busca=">Editora 34</a>, tradução de Paulo Bezerra</div>César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-15975163320198714122011-11-10T18:30:00.001-08:002011-11-10T18:32:17.942-08:00Um final Tchekhov<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>"Na literatura, exitem os finais de Tchekhov e os de Shakespeare. Nos de Shakespeare, as pessoas terminam mortas. Nos de Tchekhov, deprimidas, amarguradas, mas vivas. Espero que Israel tenha um final de Tchekhov".</i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: right;">
<b>- <a href="http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1004406-israel-e-uma-decepcao-diz-o-escritor-amos-oz-em-sao-paulo.shtml">Amós Oz </a></b></blockquote>César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-25645504529547817202011-11-06T11:49:00.000-08:002011-11-06T14:03:02.129-08:00Ivan Turguêniev<div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Um pacífico causador de conflitos </b></div>
<blockquote class="tr_bq">
<i>“Veja o que seus niilistas estão fazendo! Estão queimando São Petersburgo!”</i></blockquote>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm85VcVNa9IH5ColdYhkhfFlOccU0ReuG5LrvdSJpoVV-OHD2U7pbpoewXWgmWwuVKDloFyzhPJ2UlrytxLZ2LmxsGWJYMQ2jhb5FdO0oRSqVa6wJ5SyT_LwKMfuGcaFKcsyFEswlcDLY/s1600/bergam%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgm85VcVNa9IH5ColdYhkhfFlOccU0ReuG5LrvdSJpoVV-OHD2U7pbpoewXWgmWwuVKDloFyzhPJ2UlrytxLZ2LmxsGWJYMQ2jhb5FdO0oRSqVa6wJ5SyT_LwKMfuGcaFKcsyFEswlcDLY/s320/bergam%255B1%255D.jpg" width="247" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ivan Turguêniev</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Uma nova geração de jovens russos nascia e florescia esperando sempre pelo pior. Que suas vidas entrassem em colapso assim como a sociedade, o governo, as relações pessoais, o sistema, a organização do que todos aprenderam a se acostumar e julgavam ser o certo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa crise de caráter existencial começou a tomar proporções inimagináveis. Incêndios criminosos e tentativas de assassinato tomavam conta da então capital russa, São Petersburgo. E todos esses distúrbios recaíram sobre um único individuo. Os dedos começaram a ser apontados para Ivan Turguêniev e seu Ievguêni Vassíliev Bazárov, rapaz inteligente, cheio de virtudes, mas que tinha o grande pecado ser um perturbador social, ou seja, um niilista; o nada. Rapaz que nem mesmo Turguêniev sabia como definir os seus sentimentos por ele: se eram de amor ou de repulsa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Escrita da Rússia moderna</b><br />
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
O escritor Ivan Turguêniev caminhava tranquilamente nas ruas da cidade, depois de retornar de uma viagem à Europa, quando, para sua surpresa, o grito de acusação, citado no começo do texto, proferido por um completo desconhecido, lhe atingiu de cheio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No prefácio da edição traduzida por Rubens Figueiredo do livro <i>Pais e Filhos</i> (Отцы и дети), escrito por Turguêniev, Rubens explica que a narrativa do jovem Bazárov foi escrita em uma época extremamente importante e significativa para História da Rússia. Entre os anos de 1860 e 1862, o tsar Nicolau I decretou o fim da escravidão no país. Ao contrário do que ocorreu nas Américas, por exemplo, em que negros da África eram transportados em navios para trabalhar nas fazendas de café e algodão, os escravos da Rússia eram camponeses nascidos daquele mesmo chão em que eram obrigados a trabalhar. Quem já leu o célebre livro de Nikolai Gógol vai lembrar-se do termo “almas” (души), pois era dessa forma que os servos eram chamados: as almas dos proprietários de terra.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAzF7XHXr6-TwdQ0tc3byFo-qyqONPIGc8AIziRTZ04DLK_Fn8qpsBQ9nlxMMTyA2P__qSg0w2CbR8xOjBPe5bWVEX_UUdbkKnJ6QTXiKLVuMdgC7lfCD_bKb50BNj2YZj7gjFjRhSedg/s1600/Otsy1880%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAzF7XHXr6-TwdQ0tc3byFo-qyqONPIGc8AIziRTZ04DLK_Fn8qpsBQ9nlxMMTyA2P__qSg0w2CbR8xOjBPe5bWVEX_UUdbkKnJ6QTXiKLVuMdgC7lfCD_bKb50BNj2YZj7gjFjRhSedg/s320/Otsy1880%255B1%255D.jpg" width="205" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">2ª edição de Pais e Filhos</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Nesse período, a Rússia ainda dependia basicamente de uma economia considerada até então atrasada, baseada na agricultura e no feudalismo. Opositores dessa organização social, os jovens passaram a exigir grandes reformas, o que provocou a abertura de um abismo entre gerações. Os pais, nacionalistas convictos, lutavam para que as tradições antigas permanecessem; e os filhos, ao contrário, enxergavam uma inferiorização da Rússia em comparação aos costumes do Ocidente europeu. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O personagem principal de Pais e Filhos, Bazárov, é a caricatura daquela juventude que ardia por mudanças que os aproximassem do progresso do mundo civilizado. Nas palavras de Bazárov, o niilista “é uma pessoa que não se curva diante de nenhuma autoridade, que não admite nenhum princípio sem provas”. Nesse trecho, podemos perceber a influência da corrente positivista que a tudo queria racionalizar. Exaltava os fatos e a prática, em detrimento às ideias e teorias. Orientação científica que já havia se consolidado entre os ocidentais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Além da riqueza estilística e literária, o mérito que Turguêniev obteve nesta que foi sua quinta obra se deve, principalmente, ao conseguir identificar e caracterizar as profundas transformações que marcariam a sociedade russa daqueles anos em diante. A polêmica que surgiu antes e durante a publicação da obra, foi a maior de que se tem notícia na literatura russa porque, de fato, se tratava de um tema novo e perigoso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Repercussão na literatura </b><br />
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
O filósofo e escritor alemão Friedrich Nietzsche ficou conhecido como o autêntico niilista. Nietzsche escreveu exaustivamente sobre a decadência do homem, de ressentimentos e culpas diante de sua própria condição. No entanto, é interessante e importante notarmos que o filósofo tinha uma grande ligação com a literatura russa não por causa de Ivan Turguêniev e Bazárov, mas sim, com outro nome de peso da literatura, Fiódor Dostoiévski e seu “Memórias do Subsolo”. Até mesmo Maxim Górki observou que o cerne da filosofia de Nietzsche está nessa obra. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>“Gigante doce”</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>"Tourguéneff, le doux géant, l'aimable barbare, avec ses blancs cheveux lui tombant dans les yeux, le pli profond qui creuse son front d'une tempe à l'autre, pareille à un sillon de charrue, avec son parler enfantin, dès la soupe, nous charme, nous enguirlande, selon l'expression russe, par ce mélange de naïveté et de finesse : la séduction de la race slave, - séduction relevée chez lui par l'originalité d'un esprit personnel et par un savoir immense et cosmopolite." </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<b>- Edmond de Goncourt</b>, <i>Journal des Goncourt. Mémoires de la vie littéraire</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
Ivan Sergeievitch Turguêniev (Иван Сергеевич Тургенев) nasceu na cidade de Orel, atual Ucrânia, em uma família de ricos proprietários de terra, em 1818. Era descrito como um homem de índole pacífica e original e levemente suscetível a críticas. Uma de suas características literárias é que ele mesmo afirmava basear-se em pessoas que conhecia e convivia para criar seus personagens. Segundo o próprio autor, ele nunca criou um personagem sem ter se inspirado em uma determinada pessoa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Grande amigo do francês Gustave Flaubert, autor de “Madame Bovary”, e de Liev Tolstói, a quem exercia certa influência. Após escrever uma carta endereçada ao compatriota, pedindo-lhe que voltasse para a literatura, Tolstói ainda escreveria as novelas “Sonata a Kreutzer” e “A morte de Ivan Ilitch”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A relação entre Turguêniev e Tolstói nem sempre foi amistosa. Tolstói chegou a escrever em seu diário o que considerava do colega: “Turguêniev é um tédio”. Por volta de 1861, a animosidade entre os dois ficou mais acentuada quando um incidente levou os dois a trocarem insultos entre correpondências ao que Tolstói desafiou Turguêniev para um duelo. Este, por muitas vezes chamado de covarde, logo se desculpou com o escritor e ambos ficaram sem se falar por 17 anos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A qualidade de seu trabalho como escritor lhe valeu o reconhecimento e a fama que o colocavam lado a lado de Dostoiévski, com quem não mantinha boas relações por razões tanto religiosas quanto políticas: Turguêniev, muito mais europeu do que russo e sem a mínima pretensão de escrever sobre temas religiosos. Dostoiévski, defensor da cultura eslava e sempre questionando a moral religiosa. Dostoiévski além de utilizar um trecho do poema <i>A Flor</i> (Цветок) de Turguêniev como epígrafe de Noites Brancas, também imortalizaria o autor em seu romance Os Demônios, como o bajulador Karmazinov.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando morreu, em 1883, seu corpo foi recebido por uma massa de pessoas e enterrado em São Petersburgo. Além de “Pais e Filhos”, Turguêniev escreveu outras narrativas primorosas da literatura universal como “Notas de um caçador”, seu primeiro livro ainda sem tradução direta no Brasil; “Ássia”; e “Primeiro amor”.</div>
</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Este post marca a estréia da jornalista <a href="http://twitter.com/#!/AlineSVeras">Aline Veras</a> no blog.</div>César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-64238610340400615162011-10-27T13:23:00.000-07:002011-10-27T13:27:15.160-07:00LERUSS<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: justify;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPe92BD3CelCD4NwekDOdz2R5-kQGmuCxJ8prUeVNDrPzqbI7zVhydn5YFHfYXGkLRow42mXHhloMLjc1WFXRkVymfk62Qr4KE4sWz1V-mAa5FS-qZ9fEKb0meP0fiO0Dvhz6tQI9pWpw/s1600/kdk_0189.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPe92BD3CelCD4NwekDOdz2R5-kQGmuCxJ8prUeVNDrPzqbI7zVhydn5YFHfYXGkLRow42mXHhloMLjc1WFXRkVymfk62Qr4KE4sWz1V-mAa5FS-qZ9fEKb0meP0fiO0Dvhz6tQI9pWpw/s200/kdk_0189.jpg" width="150" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Arlete Cavaliere</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://twitter.com/#!/_rach">Rachel Di Giuseppe</a>, estudante da graduação em Letras pela Universidade de São Paulo, especializando-se em língua e literatura russa, em entrevista a Arlete Orlando Cavaliere, responsável pela concretização da criação do LERUSS na USP.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O <b>LERUSS</b><i>- Laboratório de Estudos Russos USP-RUSSKIY MIR</i> define-se como um laboratório de estudos criado junto ao Curso de graduação de língua e literatura russa e do Programa de pós-graduação de literatura e cultura russa do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. A meta principal do LERUSS é desenvolver de forma sistemática ações multidisciplinares de pesquisa, ensino e extensão no campo dos estudos russos, de forma a integrar também cursos de graduação, programas de pós-graduação e de pós-doutorado de nossos diversos departamentos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqFqx2m6NZFCIfcvlzZQM5wwcbjNBObYdFSMiu7QSXyTAnjZWftZV6luozX41oTBKuGtcZHlAS2Fljx606u6tRruiHeKcMiMNg13R7IgrhTGWEVJa3eoKSdM1FeV8X8k_mPi3xkMJNdt8/s1600/kdk_0184.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqFqx2m6NZFCIfcvlzZQM5wwcbjNBObYdFSMiu7QSXyTAnjZWftZV6luozX41oTBKuGtcZHlAS2Fljx606u6tRruiHeKcMiMNg13R7IgrhTGWEVJa3eoKSdM1FeV8X8k_mPi3xkMJNdt8/s200/kdk_0184.jpg" width="200" /></a>A criação do LERUSS é fruto de um convênio assinado em abril de 2010, sob minha coordenação, entre a Reitoria, a FFLCH e a Fundação Russkiy Mir, órgão estatal russo, amparado pelo Ministério da Educação, Ministério da Cultura e Ministério das Relações Exteriores da Rússia. A proposta do convênio é propiciar condições operacionais necessárias para buscar apoio institucional e financeiro junto à Fundação Russkiy Mir para a aquisição de materiais visuais, bibliográficos, equipamentos técnicos, recursos de informática, manuais didáticos, obras literárias, teóricas e de crítica, em papel ou em suportes eletrônicos de informação, para viabilizar o pleno funcionamento do LERUSS.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcSgRwc1SATLFemPxeSKn4KhCHbJCunsEWX2pm0lLISpNNeRDlVLy3d8I8jLNwXI1vTqghy-LEo0LnrjmgWHAh_8XznwN-Asijd3XCdFGODGVL8GuM8cyF9nQ_b9TZ5DwYSNUhwehoRMk/s1600/kdk_0183.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcSgRwc1SATLFemPxeSKn4KhCHbJCunsEWX2pm0lLISpNNeRDlVLy3d8I8jLNwXI1vTqghy-LEo0LnrjmgWHAh_8XznwN-Asijd3XCdFGODGVL8GuM8cyF9nQ_b9TZ5DwYSNUhwehoRMk/s200/kdk_0183.jpg" width="200" /></a>Os principais objetivos do LERUSS são:</div>
<div style="text-align: justify;">
a. promover o estudo da língua, da literatura, da cultura e da arte russas no âmbito da USP e de outras universidades brasileiras e estrangeiras;</div>
<div style="text-align: justify;">
b. auxiliar docentes, estudantes de graduação e pós-graduação e demais interessados na divulgação, aprendizado e aprofundamento de conhecimentos referentes à língua, literatura, cultura e artes russas;</div>
<div style="text-align: justify;">
c. fomentar,organizar, divulgar pesquisas de docentes, estudantes e estudiosos neste campo de conhecimento;</div>
<div style="text-align: justify;">
d. organizar e promover conferências, colóquios, congressos e seminários acadêmicos nacionais e internacionais;</div>
<div style="text-align: justify;">
e. promover e organizar mostras de cinema, exposições de artes plásticas, fotografias, oficinas literárias e teatrais e outras atividades artísticas e culturais;</div>
<div style="text-align: justify;">
f. manter intercâmbio com instituições congêneres no Brasil e no exterior</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2Vzvgu_-nTefSNu3AjCydsMlvAe3syo3sjzFD3MOll7c6HVuwAUJI5XBHGhucXHSpevyZSe9FSaHQaSNXqyXuPDy8yIsSzBmXSzWIB9VOU9Lxc4JQwLPgyi7oHqa9gukvs_o3TqOqGUg/s1600/kdk_0182.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2Vzvgu_-nTefSNu3AjCydsMlvAe3syo3sjzFD3MOll7c6HVuwAUJI5XBHGhucXHSpevyZSe9FSaHQaSNXqyXuPDy8yIsSzBmXSzWIB9VOU9Lxc4JQwLPgyi7oHqa9gukvs_o3TqOqGUg/s200/kdk_0182.jpg" style="cursor: move;" width="150" /></a>Tendo em vista os objetivos acima elencados, o LERUSS prevê em seu planejamento de atividades de curto prazo realizar, já em novembro deste ano, um seminário acadêmico internacional, intitulado Artes Russas: arquitetura e cinema, para o qual serão convidados renomados especialistas russos. Durante o seminário está também prevista a projeção de materiais visuais inéditos entre nós. Certamente, esta será uma primeira atividade das muitas que o LERUSS pretende programar para o próximo ano, sempre com vistas a ações integradas de pesquisa, ensino e extensão.</div>César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-33193993631828351892011-10-20T09:22:00.000-07:002011-10-20T10:16:48.185-07:00Requiem, de Anna Akhmatova<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtQ18YPi05VziXS-sTp0q-WMjJq3HxPPEB2z5gTClZ5RVwin_RsMVANjMlZf_N9IhWIY0BR-tESGMhRwqEWSjp1YJt0OXyj_lbWpmv7l0-jlnIzeEf2gAQrQfHaOXqNDBhdbYMZuKdkLM/s1600/Akhmatova%2525252520photo%25252525201%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtQ18YPi05VziXS-sTp0q-WMjJq3HxPPEB2z5gTClZ5RVwin_RsMVANjMlZf_N9IhWIY0BR-tESGMhRwqEWSjp1YJt0OXyj_lbWpmv7l0-jlnIzeEf2gAQrQfHaOXqNDBhdbYMZuKdkLM/s320/Akhmatova%2525252520photo%25252525201%255B1%255D.jpg" width="222" /></a></div>
Requiem (Реквием), obra mais conhecida da poetisa Anna Akhmatova (Анна Ахматова), escrita entre 1935 e 1940, retrata o terror do regime stalinista e seus dias à porta da cadeia de Leningrado à espera de Lev Gumiliov (Лев Гумилёв), seu filho com o também poeta Nicolai Gumiliov (Николай Гумилёв), morto em 1921 por conspiração. A tradução aqui é de Lauro Machado Coelho, <a href="http://www.lpm-editores.com.br/site/default.asp?TroncoID=805133&SecaoID=500709&SubsecaoID=0&Template=../artigosnoticias/user_exibir.asp&ID=829053">publicada pela editora L&PM</a>, enquanto o original pode ser lido <a href="http://soulibre.ru/%D0%A0%D0%B5%D0%BA%D0%B2%D0%B8%D0%B5%D0%BC_(%D0%90%D0%BD%D0%BD%D0%B0_%D0%90%D1%85%D0%BC%D0%B0%D1%82%D0%BE%D0%B2%D0%B0)">aqui</a>.<br />
<br />
<br />
<i>"You cannot leave your mother an orphan."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
- Joyce</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não, não foi sob um céu estrangeiro,</div>
<div style="text-align: justify;">
nem ao abrigo de asas estrangeiras –</div>
<div style="text-align: justify;">
eu estava bem no meio de meu povo,</div>
<div style="text-align: justify;">
lá onde o meu povo infelizmente estava.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(1961)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
NO LUGAR DE UM PREFÁCIO</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Nos anos terríveis da Iéjovshtchina, passei dezessete meses fazendo fila diante das prisões de Leningrado. Um dia, alguém me ‘reconheceu’. Aí, uma mulher de lábios lívidos que, naturalmente, jamais ouvira falar meu nome, saiu daquele torpor em que sempre ficávamos e, falando pertinho de meu ouvido (ali todas nós só falávamos sussurrando), me perguntou:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– E isso, a senhora pode descrever?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E eu respondi:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
– Posso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aí, uma coisa parecida com um sorriso surgiu naquilo que, um dia, tinha sido o seu rosto.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(Leningrado, 1º de abril de 1957)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
DEDICATÓRIA</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Diante dessa dor, as montanhas se inclinam</div>
<div style="text-align: justify;">
e o grande rio deixa de correr.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas os muros das prisões são poderosos</div>
<div style="text-align: justify;">
e, por trás deles, estão as “tocas dos condenados”</div>
<div style="text-align: justify;">
e a saudade mortal.</div>
<div style="text-align: justify;">
É para os outros que a brisa fresca sopra,</div>
<div style="text-align: justify;">
é para os outros que o pôr-do-sol se enternece –</div>
<div style="text-align: justify;">
mas nada sabemos disso: somos as que, por toda parte,</div>
<div style="text-align: justify;">
só ouvem o odioso ranger das chaves</div>
<div style="text-align: justify;">
e o passo pesado dos soldados.</div>
<div style="text-align: justify;">
Levantávamo-nos como para o culto da madrugada,</div>
<div style="text-align: justify;">
arrastávamo-nos por esta capital selvagem,</div>
<div style="text-align: justify;">
para nos encontrarmos lá, mais inertes do que os mortos,</div>
<div style="text-align: justify;">
o sol cada vez mais baixo, o Neva mais nevoento,</div>
<div style="text-align: justify;">
enquanto a esperança cantava bem ao longe…</div>
<div style="text-align: justify;">
O veredicto… e as lágrimas de súbito brotam.</div>
<div style="text-align: justify;">
E ei-la separada do mundo inteiro</div>
<div style="text-align: justify;">
como se de seu coração a vida se arrancasse,</div>
<div style="text-align: justify;">
como se com um soco a derrubassem.</div>
<div style="text-align: justify;">
E, no entanto, ela ainda anda… cambaleando… sozinha…</div>
<div style="text-align: justify;">
Onde estão, agora, as companheiras de infortúnio</div>
<div style="text-align: justify;">
desses meus dois anos de terror?</div>
<div style="text-align: justify;">
O que estarão vendo, agora, na neblina siberiana?</div>
<div style="text-align: justify;">
A elas eu mando a minha última saudação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(Março de 1940)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
PRÓLOGO</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Houve um tempo em que só sorriam</div>
<div style="text-align: justify;">
os mortos, felizes em seu repouso.</div>
<div style="text-align: justify;">
E como um apêndice supérfluo, balançava</div>
<div style="text-align: justify;">
Leningrado, pendurada às suas prisões.</div>
<div style="text-align: justify;">
E quando, enlouquecidos pelo sofrimento,</div>
<div style="text-align: justify;">
os regimentos de condenados iam embora,</div>
<div style="text-align: justify;">
para eles as locomotivas cantavam</div>
<div style="text-align: justify;">
sua aguda canção de despedida.</div>
<div style="text-align: justify;">
As estrelas da morte pairavam sobre nós</div>
<div style="text-align: justify;">
e a Rússia inocente torcia-se de dor</div>
<div style="text-align: justify;">
sob as botas ensangüentadas</div>
<div style="text-align: justify;">
e os pneus das Marias Pretas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
I</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Levaram-te embora ao amanhecer.</div>
<div style="text-align: justify;">
Atrás de ti, como quem acompanha um carro fúnebre, eu segui.</div>
<div style="text-align: justify;">
No quarto às escuras, as crianças soluçavam</div>
<div style="text-align: justify;">
e a vela gotejava diante do ícone.</div>
<div style="text-align: justify;">
Teus lábios estavam gelados como uma medalhinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
Do suor mortal em tua fronte nunca me esquecerei.</div>
<div style="text-align: justify;">
Como as viúvas dos Striéltsi, eu também</div>
<div style="text-align: justify;">
irei gritar diante das torres do Kremlim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(1935)</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<a name='more'></a><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
II</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Lento flui o Don silencioso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Amarela a lua entra em casa,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
entra com seu boné enviesado,</div>
<div style="text-align: justify;">
a lua amarela, e depara com uma sombra.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esta mulher está doente,</div>
<div style="text-align: justify;">
esta mulher está sozinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O marido morto, o filho preso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Digam por mim uma oração.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
III</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não, esta não sou eu, é uma outra qualquer que sofre.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não posso suportar o que aconteceu,</div>
<div style="text-align: justify;">
deixem que uma negra mortalha o cubra</div>
<div style="text-align: justify;">
e que levem embora os lampiões de rua…</div>
<div style="text-align: justify;">
Anoitece…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(1940)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
IV</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se te tivessem mostrado – a ti, a zombeteira,</div>
<div style="text-align: justify;">
a estimada de todos os amigos,</div>
<div style="text-align: justify;">
a alegre pecadora de Tsárskoie Seló –</div>
<div style="text-align: justify;">
o que a tua vida te reservava:</div>
<div style="text-align: justify;">
como, tricentésima da fila, com teu pacotinho na mão,</div>
<div style="text-align: justify;">
ficarias diante da Kriesty,</div>
<div style="text-align: justify;">
e tuas lágrimas escaldantes</div>
<div style="text-align: justify;">
derreteriam o gelo do Ano Novo…</div>
<div style="text-align: justify;">
Lá longe, o álamo no pátio da prisão balouça.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não se ouve um só som – lá, quantas vidas</div>
<div style="text-align: justify;">
inocentes estão acabando…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
V</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há dezessete meses choro,</div>
<div style="text-align: justify;">
chamando-te de volta para casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
Já me atirei aos pés de teu carrasco.</div>
<div style="text-align: justify;">
És meu filho e meu terror.</div>
<div style="text-align: justify;">
As coisas se confundem para sempre</div>
<div style="text-align: justify;">
e não consigo mais distinguir, agora,</div>
<div style="text-align: justify;">
quem a fera, quem o homem,</div>
<div style="text-align: justify;">
e quanto terei de esperar até a tua execução.</div>
<div style="text-align: justify;">
Só o que me resta são flores empoeiradas</div>
<div style="text-align: justify;">
e o tilintar do turíbulo e pegadas</div>
<div style="text-align: justify;">
que levam de lugar nenhum a parte alguma.</div>
<div style="text-align: justify;">
E bem nos olhos me olha,</div>
<div style="text-align: justify;">
com a ameaça de uma morte próxima,</div>
<div style="text-align: justify;">
uma estrela enorme.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(1939)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
VI</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As semanas lev</div>
<div style="text-align: justify;">
es vão-se embora.</div>
<div style="text-align: justify;">
O que aconteceu eu não entendo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Como a ti, meu filho, na prisão,</div>
<div style="text-align: justify;">
vieram contemplar as noites brancas,</div>
<div style="text-align: justify;">
e ainda te contemplam,</div>
<div style="text-align: justify;">
com seus ardentes olhos de falcão,</div>
<div style="text-align: justify;">
e da tua alta cruz</div>
<div style="text-align: justify;">
e de tua morte falam.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(1939)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
VII</div>
<div style="text-align: justify;">
O VEREDICTO</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E a pétrea palavra caiu</div>
<div style="text-align: justify;">
sobre o meu peito ainda vivo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Pouco importa: estava pronta.</div>
<div style="text-align: justify;">
Dou um jeito de agüentar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje, tenho muito o que fazer:</div>
<div style="text-align: justify;">
devo matar a memória até o fim.</div>
<div style="text-align: justify;">
Minha alma vai ter de virar pedra.</div>
<div style="text-align: justify;">
Terei de reaprender a viver.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Senão… o ardente ruído do verão</div>
<div style="text-align: justify;">
é como uma festa debaixo da janela.</div>
<div style="text-align: justify;">
Há muito tempo eu esperava</div>
<div style="text-align: justify;">
por este dia brilhante, esta casa vazia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(22 de junho de 1939, Casa Fontanka)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
VIII</div>
<div style="text-align: justify;">
À MORTE</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De qualquer jeito virás – então, por que não vens já?</div>
<div style="text-align: justify;">
Estou te esperando: tudo para mim ficou difícil.</div>
<div style="text-align: justify;">
Apaguei a luz, abri a porta</div>
<div style="text-align: justify;">
para ti, tão simples, tão maravilhosa.</div>
<div style="text-align: justify;">
Para isso, toma o aspecto que quiseres:</div>
<div style="text-align: justify;">
entra como um obus envenenado,</div>
<div style="text-align: justify;">
ou sorrateira qual hábil bandido,</div>
<div style="text-align: justify;">
ou como as emanações do tifo,</div>
<div style="text-align: justify;">
ou sob a forma daquela fábula que tu mesma inventaste</div>
<div style="text-align: justify;">
e que todos já conhecem até a náusea –</div>
<div style="text-align: justify;">
na qual torno a ver o topo do quepe azul e,</div>
<div style="text-align: justify;">
por trás dele, o zelador pálido de medo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Para mim dá na mesma. O Ienissêi corre turbulento.</div>
<div style="text-align: justify;">
A Estrela Polar brilha no céu.</div>
<div style="text-align: justify;">
O brilho azul dos olhos que eu amo</div>
<div style="text-align: justify;">
é recoberto por esse terror.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(19 de agosto de 1939, Casa Fontanka)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
IX</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já a loucura com as suas asas</div>
<div style="text-align: justify;">
envolveu-me toda a alma,</div>
<div style="text-align: justify;">
me encharcando em seu licor,</div>
<div style="text-align: justify;">
levando-me ao vale das sombras.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ouvindo o meu delírio</div>
<div style="text-align: justify;">
como se fosse o de outra,</div>
<div style="text-align: justify;">
está certo, sei que devo</div>
<div style="text-align: justify;">
admitir que ela venceu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu sei que não deixará</div>
<div style="text-align: justify;">
que eu leve nada comigo</div>
<div style="text-align: justify;">
(por mais que eu lhe peça,</div>
<div style="text-align: justify;">
por mais que eu lhe implore):</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
nem os olhos do meu filho</div>
<div style="text-align: justify;">
que a dor petrificou,</div>
<div style="text-align: justify;">
nem o dia do terror,</div>
<div style="text-align: justify;">
nem o dia da visita,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
nem o frio de suas mãos,</div>
<div style="text-align: justify;">
nem o tremular dos álamos,</div>
<div style="text-align: justify;">
nem o som que vem de longe,</div>
<div style="text-align: justify;">
últimos sons de consolo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(4 de maio de 1940, Casa Fontanka)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
X</div>
<div style="text-align: justify;">
A CRUCIFICAÇÃO</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
……………………………………………………….Não chores por mim, Mãe,</div>
<div style="text-align: justify;">
……………………………………………………………………….no túmulo estou</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
1</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O coro dos anjos glorificou esta hora terrível</div>
<div style="text-align: justify;">
e os céus partiram-se em abismos de fogo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ele perguntou ao Pai: “Por que me abandonaste?”.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas à Mãe disse: “Oh, não chores por mim…”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(1940, Casa Fontanka)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
2</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Madalena batia no peito e chorava.</div>
<div style="text-align: justify;">
O discípulo favorito convertera-se em pedra.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas para lá, onde a Mãe, em silêncio, se erguia,</div>
<div style="text-align: justify;">
ninguém ousava erguer os olhos e olhar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(1943, Tashkent)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
EPÍLOGO</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
1</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aprendi como os rostos se desfazem,</div>
<div style="text-align: justify;">
como o pavor dardeja sob as pálpebras,</div>
<div style="text-align: justify;">
como a dor sulca a tabuinha do rosto</div>
<div style="text-align: justify;">
com seus rugosos caracteres cuneiformes,</div>
<div style="text-align: justify;">
como os cachos negros ou cinzentos</div>
<div style="text-align: justify;">
de um dia para o outro se pranteiam,</div>
<div style="text-align: justify;">
como em lábios submissos o sorriso fenece</div>
<div style="text-align: justify;">
e, com um risinho seco, como se treme de medo.</div>
<div style="text-align: justify;">
E não é só por mim que rezo,</div>
<div style="text-align: justify;">
mas por todas as que estiveram lá comigo,</div>
<div style="text-align: justify;">
no frio selvagem, no tórrido mês de julho,</div>
<div style="text-align: justify;">
em frente à muralha rubra e cega.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
2</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma vez mais volta o Dia da Lembrança.</div>
<div style="text-align: justify;">
Vejo, ouço, sinto por vocês todas:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
aquela que mal conseguiu chegar ao fim,</div>
<div style="text-align: justify;">
aquela que já não vive mais em sua terra,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
aquela que, balançando a bonita cabeça,</div>
<div style="text-align: justify;">
disse: “Volto aqui como se fosse o meu lar”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gostaria de poder chamá-las, a todas, por seus nomes,</div>
<div style="text-align: justify;">
mas levaram a lista embora, e onde posso me informar?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para elas teci uma ampla mortalha</div>
<div style="text-align: justify;">
com suas pobres palavras que consegui escutar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sempre e em toda parte hei de lembrar-me delas:</div>
<div style="text-align: justify;">
delas não me esquecerei, nem numa nova miséria.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E se tamparem a minha boca fatigada,</div>
<div style="text-align: justify;">
através da qual jorra um milhão de gritos,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
que seja a vez de todas elas me lembrarem,</div>
<div style="text-align: justify;">
na véspera do meu Dia da Lembrança.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E se, neste país, um dia decidirem</div>
<div style="text-align: justify;">
à minha memória erguer um monumento,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
eu concordarei com essa honraria,</div>
<div style="text-align: justify;">
desde que não me façam essa estátua</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
nem à beira do mar, onde nasci –</div>
<div style="text-align: justify;">
meus últimos laços com o mar já se romperam –,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
nem no jardim do Tsar, junto ao tronco consagrado,</div>
<div style="text-align: justify;">
onde uma sombra inconsolável ainda procura por mim,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
mas aqui, onde fiquei de pé trezentas horas</div>
<div style="text-align: justify;">
sem que os portões para mim se destrancassem;</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
porque, mesmo na morte abençoada, tenho medo</div>
<div style="text-align: justify;">
de esquecer o som surdo das Marias Pretas,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
de esquecer como os odiosos portões estalavam</div>
<div style="text-align: justify;">
e como a velha gemia qual animal ferido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Das pálpebras imóveis, das pálpebras de bronze,</div>
<div style="text-align: justify;">
deixem que corram lágrimas qual neve fundida,</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
deixem que as pombas da prisão arrulhem na distância</div>
<div style="text-align: justify;">
e que os barcos deslizem em silêncio sobre o Neva.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(Março de 1940)<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhccX4FnOZuqWyDf9AYkCmobegbF7by8kv1ODT1LmrxdbBLrV-Tpd5lzoOQ1J6Jx1Mjr0RyFp4eXAVhhfwgNzduR0qao9prk7b5TbY3LrIc6S-DjNWf5UzbMZ2yNjQF6lRJpddqL6njKBA/s1600/%25D0%2590%25D1%2585%25D0%25BC%25D0%25B0%25D1%2582%25D0%25BE%25D0%25B2%25D0%25B0_%25D0%2590%25D0%25BD%25D0%25BD%25D0%25B0_%25D0%25B0%25D0%25B2%25D1%2582%25D0%25BE%25D0%25B3%25D1%2580%25D0%25B0%25D1%2584+copy.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="99" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhccX4FnOZuqWyDf9AYkCmobegbF7by8kv1ODT1LmrxdbBLrV-Tpd5lzoOQ1J6Jx1Mjr0RyFp4eXAVhhfwgNzduR0qao9prk7b5TbY3LrIc6S-DjNWf5UzbMZ2yNjQF6lRJpddqL6njKBA/s200/%25D0%2590%25D1%2585%25D0%25BC%25D0%25B0%25D1%2582%25D0%25BE%25D0%25B2%25D0%25B0_%25D0%2590%25D0%25BD%25D0%25BD%25D0%25B0_%25D0%25B0%25D0%25B2%25D1%2582%25D0%25BE%25D0%25B3%25D1%2580%25D0%25B0%25D1%2584+copy.png" width="200" /></a></div>
<br /></div>César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-6345855989056369412011-10-15T16:37:00.000-07:002011-10-15T16:37:33.030-07:00"Lermontov", de Nikolai Burliaiev<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8KRAZOjdr20Jf59syf4JhkPabqu_foSjOb_r1RWcHrsAmShuR38x3kusd8fK_cGj__kR6DbPaMqZYx_420q73_qkOWWxUJYL9AlJ09sotGeikNwTH76g41W7RzpnXa6DLPiVIHbw__ao/s1600/burlyaev001_l%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="185" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8KRAZOjdr20Jf59syf4JhkPabqu_foSjOb_r1RWcHrsAmShuR38x3kusd8fK_cGj__kR6DbPaMqZYx_420q73_qkOWWxUJYL9AlJ09sotGeikNwTH76g41W7RzpnXa6DLPiVIHbw__ao/s200/burlyaev001_l%255B1%255D.jpg" width="200" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Nesta data, em 1814, nascia em Moscou o poeta Mikhail Lermontov. Filho do capitão Yuri Lermontov e da então adolescente Maria Arsenieva.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em comemoração a data, escolhi "Lermontov", filme produzido em 1986 pelo ator e diretor Nikolai Burliaiev, famoso por suas colaborações com Andrei Tarkovski em "A Infãncia de Ivan" e "Andrei Rublev" além da minisérie "Pequenas Tragédias", baseada na obra de Púchkin.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/opPmxy861hw?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-40120243561813754402011-10-01T08:34:00.000-07:002011-10-01T08:41:20.846-07:00Folha Ilustrada: O Duplo de Dostoiévski<div style="text-align: justify;">
<b>Dostoiévski antecipa invenções do século 20 em "O Duplo"</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Alcino Leite Neto para a <a href="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/inde01102011.htm">Folha Ilustrada de 1º de setembro de 2011</a></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O tradutor e ensaísta Paulo Bezerra tem se dedicado nos últimos anos a uma laboriosa tradução das obras do russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881). Com o lançamento da novela "O Duplo" ("Dvoinik"), a importante coleção soma agora 14 volumes. Aos 24 anos, Dostoiévski caiu nas graças da crítica com seu livro de estreia, "Gente Pobre" (1846). A mesma crítica, porém, recebeu com estranhamento e frieza "O Duplo" (também de 1846), considerado "enfadonho e verboso", como descreveu o próprio autor em sua correspondência, além de um pastiche de "O Diário de Um Louco", de Gógol (1809-1852). A posteridade tratou de reavaliar o livro, hoje tido como uma das obras centrais do escritor. "Parece-me que foi a melhor coisa que ele escreveu", afirmou Vladimir Nabokov (1899-1977), ressaltando os detalhes "quase joyceanos" do livro. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
ASSOMBROSA INVENÇÃO</div>
<div style="text-align: justify;">
"O Duplo" é uma assombrosa invenção literária feita a partir de quase nada. Seu protagonista, Golyádkin, é um funcionário público de baixo escalão, mais um daqueles pequenos homens que povoam as obras do escritor. Afetado por algum transtorno psicológico, ele passa a digladiar-se com um duplo de si, um Golyádkin segundo, que vem perturbar sua vida e seu trabalho. Dostoiévski constrói, pioneiramente, uma narrativa que vai embaralhando o que é "real" e o que é alucinação, até o ponto de as flutuações da consciência (e da demência) do personagem se imporem à objetividade da escrita realista. "Dostoiévski realizou uma espécie de revolução coperniciana em pequenas proporções, convertendo em momento da autodefinição do herói o que era definição sólida e conclusiva do autor", analisou o teórico russo Mikhail Bakhtin (1895-1975). O leitor penetra na obra como se estivesse numa típica novela do Oitocentos russo, esbarra com o que parece ser uma história fantástica e acaba imerso numa vigorosa sátira social (e política) e numa aventura protovanguardista, que antecipa experiências literárias do século 20.<br />
<br />
<b>O Duplo</b><br />
Autor: Fiódor Dostoiévski<br />
Editora 34<br />
Tradução: Paulo Bezerra<br />
Quanto: R$ 39 (240 págs.)<br />
Aavaliação: ótimo</div>
César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-22742569745470851402011-09-27T12:55:00.000-07:002011-09-27T16:55:48.582-07:00Herói de seu tempo: Mikhail Lermontov<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaubZxPSfqB5Qz7P_GewuD6fMdE6bcsv0Y_zHyAxQx8OSk_RPp6NUXiTaQWfDm-_3m9JSvYDk24MwygU_v1ek9zRkFlyyiRJiKv3bfK4n_qR2xBahMBKgt3-b0-1omkmNIYzrfeSlVe4w/s1600/Lermontov.png" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaubZxPSfqB5Qz7P_GewuD6fMdE6bcsv0Y_zHyAxQx8OSk_RPp6NUXiTaQWfDm-_3m9JSvYDk24MwygU_v1ek9zRkFlyyiRJiKv3bfK4n_qR2xBahMBKgt3-b0-1omkmNIYzrfeSlVe4w/s320/Lermontov.png" width="163" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Auto-retrato</td></tr>
</tbody></table>
<i>Mikhail Lermontov</i> (Михаил Лермонтов, 1814-1841), o "poeta do Cáucaso", chamou a
atenção da Rússia com <i>"A Morte do Poeta" </i>(Смерть Поэта), poema escrito em 1837, ocasião da
morte de Alexander Púchkin.<br />
<br />
Pelos anos seguintes, foi tido como o poeta
nacional, uma espécie de substituto de Púchkin, até que em 1841 teve o mesmo fim
de seu predecessor: morto em um duelo por um companheiro militar que se ofendeu
com uma de suas muitas piadas de mau gosto.<br />
<br />
Apesar de seu corpo ter sido deixado
ao tempo, tamanha a antipatia de seus conhecidos, Lermontov é lembrado até hoje
como um dos maiores poetas da Rússia. Suas maiores obras são o poema <i>"O Demônio"</i>
(Демон) e o romance <i>"O Herói de Nosso Tempo" </i>(Герой нашего времени), traduzido
no Brasil por Paulo Bezerra.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote style="text-align: justify;">
<i>"Ninguém escreveu na Rússia tão correta e agradável prosa"</i> - <b>Gogol</b></blockquote>
<blockquote style="text-align: justify;">
<i>"Eu não conheço
uma linguagem melhor do que aquela usada por Lermontov"</i> - <b>Tchekhov</b> </blockquote>
<blockquote style="text-align: justify;">
<i>"Que força tinha este homem!
Podia fazer de tudo! Ele iniciou direto como uma força poderosa!"</i> - <b>Tolstói</b></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="float: left; width: 45%;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">O Rochedo</span></b></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">A nuvem de ouro dorme a noite inteira</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">no seio do gigântico
rochedo.</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Pela manhã, levanta-se bem cedo,</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">e descuidada vai-se pelos céus,
ligeira.</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Mas lá restou de orvalho um breve traço</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">nas rugas do penedo
solitário.</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">E é como se ele ficara multivário</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">chorando suavemente ante o
vazio espaço.</span></div>
</div>
</div>
<div style="float: right; width: 45%;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><b>Утес </b>(1841)</span></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></b></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Ночевала тучка золотая</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">На груди утеса-великана;</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Утром в путь
она умчалась рано,</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">По лазури весело играя.</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Но остался влажный след в
морщине</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Старого утеса. Одиноко</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Он стоит, задумался глубоко,</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">И тихонько
плачет он в пустыне.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
</div>
<div style="clear: both;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="float: left; width: 45%;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<b><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Nuvens</span></b></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Ó nuvens pelos céus que eternamente andais!</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Longo colar de
pérolas na estepe azul,</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">exiladas como eu, correndo rumo ao sul,</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">longe do
caro norte que, como eu, deixais!</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Que vos impele assim? Uma ordem de
Destino?</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Oculto mal secreto? Ou mal que se conhece?</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Acaso carregais o
crime que envilece?</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Ou só de amigos vis o torpe desatino?</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Ali não:
fugis cansadas da maninha terra,</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">e estranhas a paixões e o sofrimento
estranhas</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">eternas pervagais as frígidas entranhas.</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">E não sabeis, sem
pátria, a dor que o exílio encerra.</span></div>
</div>
</div>
<div style="float: right; width: 45%;">
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><b>Тучи </b>(1840)</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Тучки небесные, вечные странники!</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Степью лазурною, цепью
жемчужною</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Мчитесь вы, будто как я же, изгнанники</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">С милого севера в сторону
южную.</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Кто же вас гонит: судьбы ли решение?</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Зависть ли тайная? злоба
ль открытая?</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Или на вас тяготит преступление?</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Или друзей клевета
ядовитая?</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Нет, вам наскучили нивы бесплодные...</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Чужды вам страсти и
чужды страдания;</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Вечно холодные, вечно свободные,</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Нет у вас родины, нет
вам изгнания.</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
</div>
</div>
<div style="clear: both;">
</div>
<br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><b>Jorge de Sena</b> (1919-1978), poeta, e tradutor português</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRF3mkM6RGGt0vOek9h5Cxh7GsGTpB7Fvr-BGyoC2xu5B2mQRV8OruUfBPVKZoMZRRFm5mEPCC37wXwTfhi_NdO2xicFjn7LtX6VrSkp2oZFTyCjbKNcvTC7WxHqRD-2AJgsHo_hGrloY/s1600/Assinatura+Lermontov.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRF3mkM6RGGt0vOek9h5Cxh7GsGTpB7Fvr-BGyoC2xu5B2mQRV8OruUfBPVKZoMZRRFm5mEPCC37wXwTfhi_NdO2xicFjn7LtX6VrSkp2oZFTyCjbKNcvTC7WxHqRD-2AJgsHo_hGrloY/s1600/Assinatura+Lermontov.png" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><b><br /></b></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><b><br /></b></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Post realizado em conjunto com o blog <a href="http://www.falandorusso.com/"><i>Falando Russo</i></a>.</span></b></span></div>
César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-56667294316863128092011-09-27T08:53:00.000-07:002011-11-13T09:24:50.818-08:00Os logos do Google<div style="text-align: justify;">
Em comemoração ao 13º aniversário do Google fiz um apanhado de logos relacionados aos russos. A maioria foi para o ar só no Google Russia ou Ucrânia e outros poucos foram mundiais, como o do Gogol. Se dependesse de mim, todo dia seria aniversário de Púchkin no Google.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxRZKUSQgEx4WOQ5ZCSvgaH9NSjpwY2OpKs9fmTlOGtOa1rrAYgTWD4zhayFD6pRX_wNu92e1JMhN-EeB8QZ-3yHfm714Ioo0NYE87JeLXbIRBQ6fknnDjoR70g6EXSguR3x4G0l_AI98/s1600/Alexander+Pushkin%2527s+Birthday.gif" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxRZKUSQgEx4WOQ5ZCSvgaH9NSjpwY2OpKs9fmTlOGtOa1rrAYgTWD4zhayFD6pRX_wNu92e1JMhN-EeB8QZ-3yHfm714Ioo0NYE87JeLXbIRBQ6fknnDjoR70g6EXSguR3x4G0l_AI98/s1600/Alexander+Pushkin%2527s+Birthday.gif" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">6 de junho de 2009, aniversário de Púchkin</td></tr>
</tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_977vmAGMM0qMCanUSwHjru49J-tUZB1YZ3VQJbJo4Hl8JtXYsZ2jhwgbY5Chkq3g_VaCK50Qh_Bl239vzWnMbm-ftuSg726RJoB9J54MsvYsIDB_pUWsVju0DaycO3nsGlxMrFJ0wOU/s1600/Mikhail+Lermontov%25E2%2580%2599s+Birthday.gif" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_977vmAGMM0qMCanUSwHjru49J-tUZB1YZ3VQJbJo4Hl8JtXYsZ2jhwgbY5Chkq3g_VaCK50Qh_Bl239vzWnMbm-ftuSg726RJoB9J54MsvYsIDB_pUWsVju0DaycO3nsGlxMrFJ0wOU/s1600/Mikhail+Lermontov%25E2%2580%2599s+Birthday.gif" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">15 de outubro de 2009, aniversário de Liermontov</td></tr>
</tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjV8cco21SBCuRxvAVqQesv9B-v8PkiN_Ezxr92eyEr188izDnWBezx1u267SYHruDgOnoi41sS5R9Oafabr_a3w3ZiefeDLt204x9lbTAvchAKP7mj2gPhPq_fzyCw4u-Z0-Oh8lz3V5E/s1600/150th+Anniversary+of+Anton+Chekhov%2527s+Birthday.gif" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjV8cco21SBCuRxvAVqQesv9B-v8PkiN_Ezxr92eyEr188izDnWBezx1u267SYHruDgOnoi41sS5R9Oafabr_a3w3ZiefeDLt204x9lbTAvchAKP7mj2gPhPq_fzyCw4u-Z0-Oh8lz3V5E/s1600/150th+Anniversary+of+Anton+Chekhov%2527s+Birthday.gif" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">29 de janeiro de 2010, 150º aniversário de Tchekhov</td></tr>
</tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRpu5GYr9WFlnIGVHPxiLDudiamg0nNFxGzDEzCgvajKtqkXpN9PhFiBh9yB1H2rKtIsgeQ7qfJ1A-owr0dgzvqM0iZO067MYIpjubJKI8bIgHd-c5k4yojp67Y4tl5FC81kaT8_2x0y8/s1600/120th+Birthday+of+Mikhail+Bulgakov.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="124" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRpu5GYr9WFlnIGVHPxiLDudiamg0nNFxGzDEzCgvajKtqkXpN9PhFiBh9yB1H2rKtIsgeQ7qfJ1A-owr0dgzvqM0iZO067MYIpjubJKI8bIgHd-c5k4yojp67Y4tl5FC81kaT8_2x0y8/s320/120th+Birthday+of+Mikhail+Bulgakov.png" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">15 de maio de 2011, 120º aniversário de Bulgakov</td></tr>
</tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgopg0S96Qy6x6eIOIKUNNJtbliBDX3p3JDpbQWefp8WfH_zzBiLrFK6wjCsAg4K-VFWg1xoNgw_rsvOarSHfWrzCjvsiWv9XmtqVCgRXakmazBd-1X7hm6GpA2-jZyOYTcBdL5-R0sl48/s1600/190+%25D0%25BB%25D0%25B5%25D1%2582+%25D1%2581%25D0%25BE+%25D0%25B4%25D0%25BD%25D1%258F+%25D1%2580%25D0%25BE%25D0%25B6%25D0%25B4%25D0%25B5%25D0%25BD%25D0%25B8%25D1%258F+%25D0%25A4%25D0%25B5%25D0%25B4%25D0%25BE%25D1%2580%25D0%25B0+%25D0%2594%25D0%25BE%25D1%2581%25D1%2582%25D0%25BE%25D0%25B5%25D0%25B2%25D1%2581%25D0%25BA%25D0%25BE%25D0%25B3%25D0%25BE.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="123" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgopg0S96Qy6x6eIOIKUNNJtbliBDX3p3JDpbQWefp8WfH_zzBiLrFK6wjCsAg4K-VFWg1xoNgw_rsvOarSHfWrzCjvsiWv9XmtqVCgRXakmazBd-1X7hm6GpA2-jZyOYTcBdL5-R0sl48/s320/190+%25D0%25BB%25D0%25B5%25D1%2582+%25D1%2581%25D0%25BE+%25D0%25B4%25D0%25BD%25D1%258F+%25D1%2580%25D0%25BE%25D0%25B6%25D0%25B4%25D0%25B5%25D0%25BD%25D0%25B8%25D1%258F+%25D0%25A4%25D0%25B5%25D0%25B4%25D0%25BE%25D1%2580%25D0%25B0+%25D0%2594%25D0%25BE%25D1%2581%25D1%2582%25D0%25BE%25D0%25B5%25D0%25B2%25D1%2581%25D0%25BA%25D0%25BE%25D0%25B3%25D0%25BE.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">11 de novembro de 2011, 190º aniversário de Dostoiévski<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="font-size: medium; margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsPk6816Klc0UA2E61Udc8ZpdcWS94UlTGaZKTRFcUsYoYwELBznuqaj8X9oXudn7MpdnIxgMotBN0fuGdc15POGAts0tC5VOcoBxXGk7YGSlK-0dpJSdeyOiE1SSIPw4cJjIiv91EqVM/s1600/200th+Anniversary+of+Gogol.gif" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsPk6816Klc0UA2E61Udc8ZpdcWS94UlTGaZKTRFcUsYoYwELBznuqaj8X9oXudn7MpdnIxgMotBN0fuGdc15POGAts0tC5VOcoBxXGk7YGSlK-0dpJSdeyOiE1SSIPw4cJjIiv91EqVM/s1600/200th+Anniversary+of+Gogol.gif" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">1º de abril, 200º aniversário de Gogol</td></tr>
</tbody></table>
</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEbbC1eWTSM-n_2TLWuKWCVrsigc-2xQCbk12dmFuUVpXfze7Qf3KDk4Yvi6ePYfJkp4-mvQ7C_M9qBFzFDlXNAlWyg3-Z51coJy3U_F6Mf_gD_Q9Jj7cfcXjPXXJVRBGRoQdYiVeG9Hg/s1600/Ivan+Kostoylevsky%2527s+Birthday.gif" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEbbC1eWTSM-n_2TLWuKWCVrsigc-2xQCbk12dmFuUVpXfze7Qf3KDk4Yvi6ePYfJkp4-mvQ7C_M9qBFzFDlXNAlWyg3-Z51coJy3U_F6Mf_gD_Q9Jj7cfcXjPXXJVRBGRoQdYiVeG9Hg/s1600/Ivan+Kostoylevsky%2527s+Birthday.gif" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">9 de setembro de 2009, 240º aniversário de Ivan Kotlyarevsky</td></tr>
</tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7RVDybtWXgQ3zVIBDNUQaGX8oXIOFdnWNIZSY1M6owHj-5Vgg8tOUIMOn9G8lN2UVxIsBfcLPmavWYIwXSFsf-8rzU29l97WqKQYIfgtnkYf3B7vrs3xNQ39VMyspCHu89FDovdwVYNY/s1600/Ilya+Repin%2527s+Birthday.gif" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7RVDybtWXgQ3zVIBDNUQaGX8oXIOFdnWNIZSY1M6owHj-5Vgg8tOUIMOn9G8lN2UVxIsBfcLPmavWYIwXSFsf-8rzU29l97WqKQYIfgtnkYf3B7vrs3xNQ39VMyspCHu89FDovdwVYNY/s1600/Ilya+Repin%2527s+Birthday.gif" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">5 de agosto de 2009, 165º aniversário de Ilya Repin</td></tr>
</tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbSs-FAWMALyH9vVIYRJg7IVPQ2rJIKAr_IoQCTISHzF9i3UxDYj8bKIKXzox3Ib9RqkQuPibZ_soneDxvwZmTbuT5qoleSJVOOZtKuCeK4Lh_Nqpg1cI53Fb2zU9GiSChAuPc-6CpKeA/s1600/Cyrillic+Alphabet%2527s+Day.gif" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbSs-FAWMALyH9vVIYRJg7IVPQ2rJIKAr_IoQCTISHzF9i3UxDYj8bKIKXzox3Ib9RqkQuPibZ_soneDxvwZmTbuT5qoleSJVOOZtKuCeK4Lh_Nqpg1cI53Fb2zU9GiSChAuPc-6CpKeA/s1600/Cyrillic+Alphabet%2527s+Day.gif" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">24 de maio de 2009, dia do alfabeto cirilico</td></tr>
</tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLZtjBS06hJ3u35B_Ci3j8qL401Rj0HvaMxzniPxSFLpa8AM7I2hyphenhyphenjZfM8Tf_teSA6VQIVx5NRLia7B1acqDdeVTPbnz99DKpIYtTSRDQBDXUMXsUmVzNdKN3RXiaTlDSlMuYkOD-z_aM/s1600/450th+Anniversary+of+St.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="141" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLZtjBS06hJ3u35B_Ci3j8qL401Rj0HvaMxzniPxSFLpa8AM7I2hyphenhyphenjZfM8Tf_teSA6VQIVx5NRLia7B1acqDdeVTPbnz99DKpIYtTSRDQBDXUMXsUmVzNdKN3RXiaTlDSlMuYkOD-z_aM/s320/450th+Anniversary+of+St.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br />
12 de julho de 2011, 450º aniversário da catedral de São Basílio </td></tr>
</tbody></table>César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-22609867410064456002011-09-24T13:48:00.000-07:002011-09-24T13:53:35.426-07:00Época: Um caso de tradução com Dostoiévski<br />
<div class="msg Nth" style="text-align: justify;">
<b>Luís Antônio Giron </b>para a <a href="http://revistaepoca.globo.com/ultima-edicao/">revista <i>Época</i></a> Ed. 697 23/09/2011</div>
<div class="msg Nth" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="msg Nth">
<div style="text-align: justify;">
Paulo Bezerra admira tanto Fiódor Dostoiévski (1821-1881)
que visitou a cidade natal do escritor, São Petersburgo, munido de um guia
turístico nada convencional: Crime e castigo, seu romance mais famoso. “Explorei
a cidade, percorrendo os lugares por onde passou Raskolnikov (o estudante
assassino, protagonista do livro)”, diz Bezerra. “Mas não teve nada de macabro.
Foi um passeio fantástico.” Corria o ano de 1967. O paraibano Bezerra, então com
27 anos, estudava russo havia quatro na Universidade Lomonóssov, em Moscou. Ali
começou o envolvimento de Bezerra com os autores russos. Em 1971, voltou ao
Brasil, deu aulas e passou a traduzir filósofos e historiadores soviéticos. Em
1977, saiu sua primeira tradução literária: o romance O herói do nosso tempo, de
Mikhail Liérmontov. Verteu os poemas de Osip Mandelstam, as novelas de Nikolai
Gógol e o romance Os filhos da Rua Arbat, de Anatol Ribakov, entre
outros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0FfIV8KhbUH1qBWmFU_nqUKOM1oSzRVUa_RbazycIwlXf-OSJDZIigaMyXnsjjFHIwhmHUcb1xzE8m0VS8HYQuDj62CYpOaLD68NtRtavKYZzzDEG61nG23MgSaD9sTrYC8Vo4vkjAWA/s1600/697_ma_livros_01%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="252" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0FfIV8KhbUH1qBWmFU_nqUKOM1oSzRVUa_RbazycIwlXf-OSJDZIigaMyXnsjjFHIwhmHUcb1xzE8m0VS8HYQuDj62CYpOaLD68NtRtavKYZzzDEG61nG23MgSaD9sTrYC8Vo4vkjAWA/s320/697_ma_livros_01%255B1%255D.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: Stefano Martini/ÉPOCA e Álbum/akg-images</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Seu caso de tradução com Dostoiévski se consumou mais tarde. Em
2001, recebeu muitas negativas até conseguir vender a uma editora o projeto de
traduzir do russo os grandes romances de Dostoiévski. Ele assinou um contrato
com a editora 34, garantindo para si os direitos integrais de autor, um feito
raro até então. Com isso passou a ganhar um porcentual sobre a venda do livro.
Isso lhe deu independência econômica. A conquista de Bezerra marcou o início da
revolução no campo da tradução no Brasil. Desde então, o público brasileiro pode
ler as principais obras da literatura russa em traduções diretas e
confiáveis.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O primeiro lançamento de Bezerra para a 34 foi a tradução de
seu velho conhecido Crime e castigo. O romance, publicado em folhetins de
revista em 1866, saiu no Brasil em sua primeira tradução direta no final de
2001. Desde então, a tradução já vendeu mais de 100 mil exemplares. Aos 71 anos,
Bezerra está aposentado da Universidade Federal Fluminense. Mora com a mulher no
bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Tem duas filhas e três netos. Gosta de
trabalhar em sua biblioteca. O sucesso do projeto lhe deu sossego para traduzir
três outros romances canônicos do autor: O idiota, Os demônios e Os irmãos
Karamázovi. Acaba de chegar às livrarias a novela O duplo (editora 34, 240
páginas, R$ 39), o segundo livro da carreira de Dostoiévski, publicado em 1846 –
e jamais, ao que se saiba, traduzido diretamente para o português.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
“Todas
essas traduções venderam”, diz Bezerra. “Antes de propor o projeto, pesquisei
para saber qual é o autor russo mais vendável no Brasil. Descobri que era
Dostoiévski.” O livro O duplo já está sendo devorado pelos leitores em poucos
dias de lançamento, segundo ele. “Os brasileiros adoram dois autores russos:
Anton Tchékhov e Dostoiévski”, afirma. “Não sei por que ignoram Púchkin e Gógol,
o que não ocorre em outros países. Talvez seja por causa da leveza e do humor de
Tchékhov e do mergulho de Dostoiévski na alma russa.” A intensidade de
Dostoiévski, diz, atrai os jovens. “Prova disso é que estão saindo dezenas de
dissertações sobre ele pelo Brasil.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É firme a relação entre os leitores
brasileiros e a obra de Dostoiévski. Ela circula por aqui desde o século XIX, em
traduções do francês e do inglês. Em meados dos anos 1940, o jovem tradutor
Boris Schnaiderman, imigrante russo, começou a traduzir os romances do escritor
para a editora Vecchi de São Paulo. A primeira tradução foi para Os irmãos
Karamázovi, de acordo com ele “um desastre completo”, “para ganhar dinheiro”.
Tanto que a assinou sob pseudônimo e a rejeitou. “Ainda não estava preparado
para o desafio”, diz Boris, de 93 anos. Ele aprofundou-se no estudo. Fundou o
Departamento de Russo na Universidade de São Paulo, em 1959. Consagrou-se como
tradutor e formou a maior parte dos tradutores do russo hoje atuantes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="msg Nth">
<div style="text-align: justify;">
Bezerra segue o que considera a maior lição de Boris:
encarar o desafio de lidar com textos de tradições diferentes. “O papel do
tradutor é mediar autor e público”, afirma. “O tradutor indireto é apenas um
mediador entre o autor e o tradutor de uma terceira língua. O tradutor precisa
sentir as nuances da fala e ouvir a alma da cultura que ele
verte.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Imbuído da tarefa, ele pretende dar cabo da obra de Dostoiévski.
“Poderia ter escolhido Tolstói, mas Dostoiévski chega para encher uma vida. É o
maior de todos os romancistas”, diz. Trabalha agora com o último grande romance
do autor que lhe resta: O Adolescente, a sair em agosto de 2012. Levou um ano
para traduzir O duplo. Embora seja considerada uma obra menor, goza do apreço do
tradutor. “É o laboratório de linguagem dos romances posteriores de
Dostoiévski”, afirma. “Elabora ali sua técnica narrativa, baseada na polifonia e
na exploração psicológica.” Segundo ele, a única tradução do livro para o
português foi feita do inglês pelos portugueses Natália Nunes e Oscar Mendes.
“Eles desfiguraram a história.” É preciso maturidade para lidar com suas
dificuldades. As falas de cada personagem têm um vocabulário, o narrador se
mostra instável, não raro se fundindo com o personagem, e os monólogos tocam o
absurdo. Por isso, Bezerra adiou sua versão até se familiarizar com o método de
Dostoiévski.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A crítica do tempo achou excêntrico O duplo. Narra as
desventuras do submisso funcionário público Golyádkin, que, em meio à busca de
reconhecimento dos chefes, encontra uma cópia sua, só que melhorada. Enquanto
tenta lidar com um sósia que o supera, os conflitos de Golyádkin com o mundo
exterior se tornam insuportáveis – e tudo vem à tona, num turbilhão de
contradições. Bezerra encontrou o maior obstáculo no décimo capítulo. Nele se
defrontam o herói, seu duplo e a terceira pessoa do narrador, pela supremacia da
história. “São passagens que beiram o intraduzível”, diz. “As vozes se
confundem, a poesia duela com a prosa e o delírio devora a realidade. Tentei
transportar esse desconcerto para nossa língua.” Em O duplo, Bezerra fez uma
inédita transfusão do sangue e da loucura russos para o português. Momentos
assim fazem do tradutor um herói.</div>
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A matéria acaba irrelevante pra qualquer um mais interessado nos russos, mas serve para salientar o lançamento d'O Adolescente em 2012. Anos atrás li uma pequena entrevista dele para um blog na qual ele notava que as próximas obras a traduzir eram <i>O Duplo</i>, <i>O Adolescente</i> e <i>Recordações da Casa dos Mortos</i>, portanto ainda temos ao menos duas traduções de Paulo a caminho. Para informações mais detalhadas recomendo o vídeo da participação de Bezerra no projeto <a href="http://www.tvaovivo.net/sescsp/tertulia/default_11-15.aspx">Tertúlia do Sesc São Paulo</a>.</div>
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César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2142155326341882723.post-51000481707351857372011-09-07T19:17:00.000-07:002011-09-08T09:56:18.845-07:00O Legado de Lev Tolstói para o século XXI<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7Ady4cdlt7znvUPhoPu1Vq8RD-l1T-cp1hdkNAoWH6WL56X_MfeszLgOscJzCXGqL53epWXKXip1ClxpWhOaoOZXHvqaXAUAJBBeOduTcQjIZePxiAYCOhXShZtRUjf4b27g7DtZqCws/s1600/Tolstoy_by_Repin_1901_cropped%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7Ady4cdlt7znvUPhoPu1Vq8RD-l1T-cp1hdkNAoWH6WL56X_MfeszLgOscJzCXGqL53epWXKXip1ClxpWhOaoOZXHvqaXAUAJBBeOduTcQjIZePxiAYCOhXShZtRUjf4b27g7DtZqCws/s320/Tolstoy_by_Repin_1901_cropped%255B1%255D.jpg" width="256" /></a></div>
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Acontece em São Paulo entre os dias 14 e 17 desse mês o Seminário Internacional
"O Legado de Lev Tolstói para o século XXI" com as presenças de Vladimir
Tolstói, trineto do autor; Pavel Bassinsky, escritor e crítico literário; e
também do poeta, escritor e pesquisador Igor Vólguin, uma oportunidade unica para qualquer admirador dos russos.</div>
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<b>Detalhes do evento:</b></div>
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<i>Primeiro Encontro (14.09.2011)</i></div>
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<i>Tema:</i> O Universo de L. Tolstói </div>
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<i>Palestrante:</i> Conde Vladímir Ilítch Tolstói (Presidente da Fundação L. Tolstói. Diretor do museu de L. Tolstói “Iasnáia Poliána”, trineto de L. Tolstói)<br />
<i>Mediadora:</i> Elena Vássina (Profª Drª de Literatura Russa/USP)</div>
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<i>Segundo Encontro (15.09.2011)</i></div>
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<i>Tema:</i> Tolstói, grande humanista.</div>
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<i>Palestrante:</i> Pavel Bassinsky, escritor e crítico literário russo, ganhador de importantes prêmios literários, membro do júri do Prêmio Literário “Iásnaia Poliana”/ L.Tolstói. Seu último livro L. Tolstói, uma fuga do paraíso (2010) tornou-se o best seller internacional e está sendo traduzido no Brasil.<br />
<i>Mediadora:</i> Aurora Bernadini (Profª Drª de Literatura Russa/USP)</div>
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<i>Terceiro Encontro (16.09.2011)</i></div>
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<i>Tema:</i> Tolstói e a literatura contemporânea.</div>
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<i>Palestrante:</i> Igor Vólguin, já conhecido pelo público eslavófilo brasileiro por ter participado do seminário sobre Dostoiévski no CCBB, Igor Vólguin é um destacado poeta, escritor e pesquisador russo. Autor de várias coletâneas de poesia e livros sobre a literatura e história russas, como O último ano de Dostoiévski; Anotações históricas (1986); Nascer na Rússia; Dostoiévski e os contemporâneos, vida em documentos (1991); Metamorfoses de poder (1994); A Devolução do bilhete e Paradoxos da consciência nacional (2004). Seu último livro Fugir de todos: Lev Tolstói como peregrino russo (2010) ganhou o prêmio da revista literária “Oktiabr”. Ele também é fundador e presidente da Fundação Dostoiévski, membro do PEN CLUB e professor titular da Universidade Estatal de Moscou Lomonóssov e do Instituto de Literatura Górki.<br />
<i>Mediadora:</i> Arlete Cavaliere (Profª Drª de Literatura Russa/USP)</div>
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<i>Quarto Encontro (17.09.2011)</i></div>
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<i>Tema:</i> Tolstói e tolstoísmo hoje, no Brasil e no mundo / Mesa redonda sobre as questões de não violência, de amor na obra de Tolstói e as traduções de Tolstói no Brasil</div>
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<i>Participantes:</i> Bruno Gomide (Prof. Dr. De Literatura Russa , USP), Dante Marcello Claramonte Gallian (Prof. Dr UFESP), Elena Vássina (Profa. Dra. De Literatura Russa , USP), Noé Siva (Prof Dr de Literatura Russa, USP)</div>
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<b>Serviço:</b></div>
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<b>O Legado de Lev Tolstói para o século XXI</b></div>
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Horários: 14, 15 e 16.09.2011 (quarta, quinta e sexta-feira) às 19h30 e dia 17.09.2011 (sábado) às 15h</div>
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Local: Centro Cultural Banco do Brasil </div>
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Cinema</div>
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Lotação: 70 lugares</div>
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Endereço: Rua Álvares Penteado, 112 - Centro</div>
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Informações: 11 3113.3651</div>
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Entrada franca</div>
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<a href="http://seminariolevtolstoi.blogspot.com/">Blog</a>/<a href="http://twitter.com/#!/Tolstoi_CCBB_SP">Twitter</a>/<a href="http://www.facebook.com/event.php?eid=269491306396590">Facebook</a></div>
César Marinshttp://www.blogger.com/profile/01842180322299972914noreply@blogger.com0