segunda-feira, 5 de julho de 2010

Folha: Tradução sem contexto embota Pushkin

Primeira adaptação ao português de romance em versos do autor russo peca por introdução pouco informativa
Noemi Jaffe

"Nenhum poeta supera Pushkin -nem mesmo Dante-, pela velocidade, precisão e beleza de sua narrativa.
Quanto chão Oneguin cobre em tão pouco espaço! Quanta concisão e ainda quanta facilidade em cada estrofe!"
Assim o crítico Edmund Wilson, um dos mais importantes do século 20, descreve a maior obra de Alexander Pushkin (1799-1837), "Eugênio Oneguin", traduzida pela primeira vez ao português.
A consideração que Wilson tinha por Pushkin era compartilhada pelo escritor Vladimir Nabokov, que passou cerca de dez anos se dedicando a uma tradução comentada de Oneguin, que, após publicada, foi duramente criticada pelo próprio Wilson, numa polêmica que separou os dois amigos e que ocupou os jornais e as cabeças da intelectualidade americana em 1965.
É de estranhar, portanto, que, na tradução brasileira, após silêncio tão longo (o poema é de 1833) e com uma obra deste porte e o desconhecimento do leitor de língua portuguesa sobre a língua russa, a introdução do tradutor ao livro seja tão pouco informativa.
Ficamos sabendo, através dela, de dados importantes da vida de Pushkin (tinha traços de identidade claros com o protagonista, perdeu sua vida num duelo e era descendente de um príncipe abissínio), da história geral do romance em versos e algo sobre o tradutor (foi diplomata brasileiro na Rússia e passou cerca de dez anos traduzindo o romance). E só.
Não há comentários extensivos sobre detalhes, problemas e soluções do trabalho de tradução, sobre especificidades do próprio poema e da língua russa. Só definições de nomes citados, de trechos em latim e de palavras desconhecidas.
Com tão pouco esclarecimento e com a distância entre o português e o russo, fica difícil aproximarmo-nos de alguma avaliação sobre a tradução e da aclamada importância do poema.

SEM RESPOSTAS
Por que Pushkin é, para Wilson, maior do que Dante?
Como foi feita a operação de unificação da língua russa, até então supostamente esfacelada e maltratada?
Lemos o poema, admiramos a história, as alusões à cultura russa da época e a enorme influência da França sobre a vida de sua elite, percebemos fluência rítmica e poética, mas não entendemos as palavras de Wilson.
Uma edição dessa dimensão não pode simplesmente tratar o texto e a tradução (que pode até ser muito boa) como se fosse uma história para entreter o leitor.
Num caso como este, o percurso da tradução é quase tão importante quanto a própria narrativa.

EUGÊNIO ONEGUIN

AUTOR Alexander Pushkin
TRADUÇÃO Dário Castro Alves
EDITORA Record
QUANTO R$ 47,90 (288 págs.)
AVALIAÇÃO regular

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Vou comprar mesmo assim. Esperei muito tempo por uma tradução dessa obra. Se a tradução for boa, mesmo que a introdução peque, vale a pena adquirir.

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  3. Essa resenha não trata sobre a tradução e sim sobre a introdução. Percebe-se claramente que essa pessoa não sabe nada sobre o russo, talvez até o César saiba mais. As informações supostamente ausentes nessa edição são de cunho mais estrito. Acredito que quem ficou curioso é capaz de ir atrás e obtê-las, se desejar. Afinal, esse é um livro que contêm a obra de pushkin traduzida ou sobre o processo de tradução? Ah! Vá tomar banho e tenha santa paciência.

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