terça-feira, 27 de setembro de 2011

Herói de seu tempo: Mikhail Lermontov

Auto-retrato
Mikhail Lermontov (Михаил Лермонтов, 1814-1841), o "poeta do Cáucaso", chamou a atenção da Rússia com "A Morte do Poeta" (Смерть Поэта), poema escrito em 1837, ocasião da morte de Alexander Púchkin.

Pelos anos seguintes, foi tido como o poeta nacional, uma espécie de substituto de Púchkin, até que em 1841 teve o mesmo fim de seu predecessor: morto em um duelo por um companheiro militar que se ofendeu com uma de suas muitas piadas de mau gosto.

Apesar de seu corpo ter sido deixado ao tempo, tamanha a antipatia de seus conhecidos, Lermontov é lembrado até hoje como um dos maiores poetas da Rússia. Suas maiores obras são o poema "O Demônio" (Демон) e o romance "O Herói de Nosso Tempo" (Герой нашего времени), traduzido no Brasil por Paulo Bezerra.

"Ninguém escreveu na Rússia tão correta e agradável prosa"Gogol
"Eu não conheço uma linguagem melhor do que aquela usada por Lermontov" - Tchekhov 
"Que força tinha este homem! Podia fazer de tudo! Ele iniciou direto como uma força poderosa!" - Tolstói

O Rochedo

A nuvem de ouro dorme a noite inteira
no seio do gigântico rochedo.
Pela manhã, levanta-se bem cedo,
e descuidada vai-se pelos céus, ligeira.

Mas lá restou de orvalho um breve traço
nas rugas do penedo solitário.
E é como se ele ficara multivário
chorando suavemente ante o vazio espaço.
Утес (1841)

Ночевала тучка золотая
На груди утеса-великана;
Утром в путь она умчалась рано,
По лазури весело играя.

Но остался влажный след в морщине
Старого утеса. Одиноко
Он стоит, задумался глубоко,
И тихонько плачет он в пустыне.




Nuvens

Ó nuvens pelos céus que eternamente andais!
Longo colar de pérolas na estepe azul,
exiladas como eu, correndo rumo ao sul,
longe do caro norte que, como eu, deixais!

Que vos impele assim? Uma ordem de Destino?
Oculto mal secreto? Ou mal que se conhece?
Acaso carregais o crime que envilece?
Ou só de amigos vis o torpe desatino?

Ali não: fugis cansadas da maninha terra,
e estranhas a paixões e o sofrimento estranhas
eternas pervagais as frígidas entranhas.
E não sabeis, sem pátria, a dor que o exílio encerra.


Тучи (1840)

Тучки небесные, вечные странники!
Степью лазурною, цепью жемчужною
Мчитесь вы, будто как я же, изгнанники
С милого севера в сторону южную.



Кто же вас гонит: судьбы ли решение?
Зависть ли тайная? злоба ль открытая?
Или на вас тяготит преступление?
Или друзей клевета ядовитая?



Нет, вам наскучили нивы бесплодные...
Чужды вам страсти и чужды страдания;
Вечно холодные, вечно свободные,
Нет у вас родины, нет вам изгнания.


Jorge de Sena (1919-1978), poeta, e tradutor português








Post realizado em conjunto com o blog Falando Russo.

Um comentário:

  1. Se houve de fato um romantismo na Rússia, ou seja, um expoente do pensamento romântico às especificidades daquela realidade, certamente foi o grande Lermontov. E é fantástico como sua obra repercute ao longo de toda a história posterior da literatura russo, particularmente na personagem de Stavróguin d'"Os Demônios" e na força da poética de um Maiakóvski.

    Homenagem muito a propósito!

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