segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Isaac Babel

Por Aline Veras
O inventor do silêncio 
O início do século XX é lembrado na História pela série de guerras devastadoras que resultaram em assassinatos, crimes, tragédias e revoluções tecnológicas, propagandísticas e políticas. Foi o século do nazismo, fascismo, comunismo e outros “ismos”. Talvez o que menos conseguimos lembrar ou associar, é o quanto a política e a ideologia influenciaram a arte naquele período. E podem acreditar, a maioria dos artistas sofreram profundas transformações para se adaptar às novas exigências. Se houvesse resistência, o menor dos castigos impostos ao artista seria a convivência com o ostracismo. Se ele não tivesse essa “sorte”, ou era assassinado ou mandado para os confins da Terra para viver em isolamento, além de ser submetido a trabalhos forçados. Tudo isso para fazer com que ele repensasse seu posicionamento e colocasse o juízo no lugar. 

Um autPollock
A pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders conta, em seu livro Quem pagou a conta? A CIA na Guerra Fria da Cultura, muitas artimanhas promovidas pela agência de inteligência civil do governo dos Estados Unidos, a CIA, para financiar artistas e intelectuais com o objetivo de reduzir o espaço para qualquer arte de conteúdo social, ou seja, comunista. Um caso peculiar é o do hoje consagrado pintor Jackson Pollock que ficou conhecido por seu trabalho no movimento do expressionismo abstrato. O que muitos podem não saber é que Pollock foi um dos artistas beneficiados por essa missão. A CIA fez uma verdadeira promoção dos quadros de Pollock os colocando como a representação da democracia estadunidense em detrimento da arte soviética, de caráter realista. Se não fosse a massiça propaganda em prol da suposta liberdade trazida pela democracia ocidental encarnada na pintura de Pollock, como queria crer os agentes da CIA, será que o expressionismo abstrato de Pollock seria tão valorizado quanto é ainda na atualidade? Pollock seria considerado um gênio se não fosse por essa doutrinação ideológica? 

A realidade é que as ideologias do século passado fizeram com que a propaganda ganhasse dimensões gigantescas afetando bastante a cultura. A literatura, claro, não escapou desse domínio. Embora houvesse críticas e recusas em aderir aos movimentos, muitos escritores levantaram a bandeira de algumas dessas convicções políticas; um deles foi o russo Isaac Emmanuelovich Bábel (Исаа́к Эммануи́лович Ба́бель).

Escritor da barbárie humana
“Quando uma frase nasce, não é nem tão boa nem tão ruim. O segredo do seu sucesso está em um ponto crucial que mal se pode discernir. Devemos pegar a chave desse enigma gentilmente com os dedos, esquentando-a. E depois a chave deve dar uma volta, e não duas”
Boris Schnaiderman, o precursor da tradução direta de obras russas para a língua portuguesa, afirmou em seu ensaio No cerne da prosa que Bábel é o autor que melhor sintetiza os extremos daquele período da História da Rússia e do mundo: “Os contos de Isaac Bábel parecem-nos agora texto-paradigma do século XX. Com seu sabor acre de sangue e terra, com sua violência que nos deixa perplexos, eles estão realmente entre os escritos que expressaram melhor aquele século de horror e de mudança”. Ele acrescenta em sua produção literária, Guerra em Surdina, que a obra do escritor é “um adeus ao mundo sequencial e lógico do século XIX. O brutal, o descomunal, o inesperado, marcados pela desumanidade e incoerência, irrompem ali com estrépito e uma explosão de colorido”.

Babel
Apesar de muito pouco conhecido pelos leitores fora da Rússia, Bábel tinha importantes admiradores. Um deles é o escritor brasileiro Rubem Fonseca que escreveu a seguinte frase acerca do estilo literário do autor: “Bábel buscava padrões de excelência impossíveis de serem alcançados por qualquer outro artista (...) Por isso escreveu tão pouco, com exatidão, uma concisão esplendente.”

Nascido na cidade de Odessa, localizada na Ucrânia, no ano de 1894, Isaac Bábel era de família judia e por causa desse fato sofreu com o extremo preconceito em uma época em que o judaísmo era um estigma. A Rússia, assim como boa parte dos países da Europa, mantinha uma forte antipatia pelos judeus, que eram perseguidos sumariamente tanto no período tsarista quanto no pós-Revolução Russa. “Em 40 meninos, apenas dois judeus podiam ingressar na classe preparatória”, escreveu Bábel para seu amigo e mentor Maksim Górki sobre a política de quotas das escolas daquele período. Górki, aliás, foi quem publicou os primeiros textos de Babel nas revistas A Crônica (Летопись) e Vida Nova (Новая жизнь). 

De aliado a inimigo da Revolução 
“Eu sou um escritor russo. Se eu não vivesse com o povo russo, deixaria de escrever. Eu seria como um peixe fora da água.”
Quando eclodiu a Revolução comunista de 1917, Isaac Babel ficou ao lado dos bolcheviques (Большевик) e, em 1920, atuou como correspondente na guerra russo-polonesa. É a partir dessa experiência, que o escritor irá compor a série de 36 contos reunidos na coletânea O Exército de Cavalaria, que é considerado a sua obra-prima. Foi já durante esse período que Babel começou a se desencantar com o regime soviético. Assim ele escreveu em seu diário: “Todos dizem que estão lutando pela justiça e todos fazem pilhagens. (...) Assassinatos, é intolerável, baixezas e crimes... Carnificina. O comandante militar e eu cavalgamos por entre as fileiras, pedindo aos homens que não massacrem os prisioneiros.”

Quando Josef Stálin ascendeu ao poder do Estado soviético, seu homem de confiança, Andrei Jdanov, determinou a linha literária na qual os escritores deveria seguir dali por diante: a literatura soviética teria de ser a “expressão dos sucessos e êxitos do sistema socialista”. Durante o I Congresso de Escritores da União Soviética, realizado em 1934, Jdanov declarou aos artistas que a cultura seria usada como ferramenta na luta pela consolidação do comunismo. A nova política cultural foi extremamente violenta e anti-ocidental. Dos 600 delegados que participaram do Congresso, 200 foram mortos pelo regime nos anos seguintes.

Babel fichado
A exigência afetou diversos artistas, entre eles Isaac Babel que passou a produzir raros textos, pois não conseguia seguir os cânones literários oficiais. “Eu inventei um novo gênero. O gênero do silêncio”, afirmou. 
Babel foi preso em 1939, acusado de espionagem. Segundo a escritora Cynthia Ozick, após a prisão, agentes da NKVD, serviço secreto precursor da KGB, confiscaram todos os papeis de Bábel que depois foram destruídos. Entre eles, haveria contos inacabados, peças teatrais, roteiros de filmes e traduções. 
Depois de uma série de torturas e interrogações na prisão da Lubyanka, em Moscou, o escritor foi executado em 27 de janeiro de 1940 por um pelotão de fuzilamento. 
“Eu sou inocente. Nunca fui um espião. Nunca permiti nenhuma ação contra a União Soviética. Eu me acusei falsamente. Fui forçado a fazer acusações falsas contra mim e contra outros. Só peço uma coisa: deixem-me terminar a minha obra!”
Últimas palavras registradas no processo. 
Quando ainda vivia sob a proteção de Górki, Bábel foi muitas vezes ao exterior onde participava de congressos, seminários e visitava familiares, amigos e intelectuais. Após sua prisão e consequente morte, muitos se perguntaram por que o autor sempre voltava para a União Soviética, mesmo sabendo que corria perigo.

Yuri Annenkov, famoso retratista, pintor, gravador, cartunista, escritor e crítico, conhecia intimamente o modo de pensar político de Bábel. Em suas memórias, Annenkov escreveu sobre os muitos encontros que tivera com o autor em Paris e sobre as cartas que recebera dele até o início de 1930: “O modo de ser de Bábel mudara significativamente nos últimos meses. É verdade que ainda era muito brincalhão, mas os temas de suas conversas eram diferentes. Sua última estada na União Soviética e a crescente repressão a arte criativa através das exigências e das instruções do Estado, o desiludiram completamente. Era intolerável para ele escrever dentro da estrutura da ‘mentalidade de caserna da ideologia soviética’, e, contudo, ele não sabia como poderia viver de outra forma”. 

Características literárias 
Bábel era um “despreocupado, inquieto, mulherengo, quase um vagabundo, um cavalariano, um propagandista, pai de três crianças engendradas em três mulheres diferentes, sendo que somente uma delas é legalmente sua esposa.” Foi assim que a escritora Cynthia Ozick definiu a personalidade do autor em um ensaio dedicado a ele. Segundo Ozick, as características literárias de Bábel residiam em sua própria maneira de viver. E como ele gostava de viver! Bábel parecia um garoto mirrado e míope que tinha um apetite insaciável por adquirir experiências. Queria conhecer o mundo, as pessoas, a natureza do ser humano com seus exemplares os mais diversos e controversos.
“A amplidão e o objetivo de sua visão social permitiu-lhe ver o mundo pelos olhos dos camponeses, soldados, padres, rabinos, crianças, artistas, atores, mulheres de todas as classes. Tornou-se amigo de prostitutas, cocheiros, jóqueis; sabia o que era ficar sem um centavo, viver no limite da pobreza e marginalizado. Foi ao mesmo tempo o poeta da cidade e um lírico da vida rural. (...) Vive de uma maneira robusta, inquisitiva e faminta: seu apetite pelo que é imprevisivelmente humano é gargantuesco, inclusivo, excêntrico. Ele é cheio de truques, malandro, irônico, um amante instável, um impostor imprudente – saindo dessas centenas de fogosos ‘eus’, verdades insidiosas arrastam-se para fora, uma por uma, em um rosto, na cor do céu, em uma poça de lama, em uma palavra. É como se ele fosse uma membrana irritável, sujeita a cada vibração das criaturas.”
Lionel Trilling, crítico literário que foi um dos primeiros a escrever seriamente sobre Bábel em inglês, destaca a concisão do autor: 
“a busca da palavra (le mot juste) ou frase que produzirá seu efeito com uma rapidez implacável, seu extraordinário poder de distorção significativa, o esboço rápido, o notável deslocamento do interesse, a mudança de ênfase e, de maneira geral, sua maneira de apresentar os fatos numa perspectiva diversa daquela em que aparecem na ‘cópia fiel e autenticada’”. 
A filha legítima do escritor, Nathalie Bábel, quase não tinha lembranças do pai quando ele foi levado pela polícia soviética. Apenas tem recordações dos anos de sofrimento pelo qual passou por ter crescido sem a presença dele e também por não entender os motivos que fizeram Bábel escolher a permanência em seu país natal. Já adulta, pôde pesquisar o trabalho paterno e procurar informações acerca de sua morte nos arquivos da NKVD. No prefácio do livro Isaac Bábel: Contos Escolhidos, assim ela sustenta a opinião que formulou sobre o estilo literário do pai: 
“A obra de Babel desafia as classificações. Do meu ponto de vista, para simplificar, a justaposição de coisas compatíveis e coisas incompatíveis mantém a prosa de Babel em um estado de tensão constante e lhe dá o seu caráter original. Abordar Babel esperando ver em sua obra a literatura russa tradicional, pode levar a um desapontamento, ou a um sentimento de descoberta.”
Assim são as obras de Isaac Bábel: precisas, breves e cheias de violência, piedade, comédia e iluminação. Às vezes trazem a brutalidade mais cruel, às vezes a vivacidade alegre de um pôr-do-sol no campo.

Bibliografia
O Exército de Cavalaria, tradução de Aurora Bernardini e Homero Freitas de Andrade
Maria – Uma peça e cinco histórias, tradução de Aurora Fornoni Bernardini, Boris Schnaiderman e Homero Freitas de Andrade

7 comentários:

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  2. Seja como for, Pollock era mesmo um gênio. Já a respeito de Babel, isto é discutível. Não é razoável qualificar obras artísticas em função de possíveis estímulos recebidos ou do martírio de seus autores. Se apiedar da vítima e apenas por isso enaltecê-la, seja lá o que tenha feito, é um vício cristão muito caro aos latino-americanos. Acho que Isaac Babel e a sua Cavalaria Vermelha estão muito aquém do que a vigorosa literatura russa clássica nos legou.

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